Capítulo 5: O Veneno e o Inimigo

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— Essa casa é nova não é mesmo? — Liliane, ainda na porta, acariciou o batente da casa enquanto seus olhos por traz da venda branca "encarava" a madeira.

— Tem pelo menos dois anos... Mas o que a senhorita queria dizer com "não teria tanta certeza?", seria possível o motivo ser outro? — Leão piscou assimilando a fala da mulher.

— Oh, com certeza, é essa Madeira de Agulha Roxa. — Ela adentrou mais na cabana parando próximo do três que enrugaram suas testas confusos. — Essa madeira tem uma peculiaridade muito interessante, ela não é venenosa, no entanto, após ser trabalhada ela começa a deteriorar produzindo pequenas lascas finas, chamadas Agulhas Roxas que são invisíveis a olho nu. — Ela estendeu a mão como se pudesse capturar com sua palma tudo em sua volta — Normalmente, por serem finas demais, elas não representam ameaça, mas expostas por períodos prolongados elas se acumulam no corpo até representar danos, o que inclui febre fria, perda de apetite, dor ao ingerir água, diarreia e vômitos.

— Papai! — Clara olhou para o seu pai chocada ao saber que os sintomas eram idênticos aos doentes da Vila.

— Mas... Mas... Isso é... Então como as pessoas apresentam doenças após comer os alimentos dos campos? — Ele não podia acreditar que o simples material de construção fosse a causa da maior crise que já vivenciou.

— Eu falei que precisavam ser ingeridos, não é? Claro, apenas de respirar ou entrar em contato com a pele poderia ser prejudicial, mas geralmente os pelos do nariz fazem bom trabalho e as mucosas servem como excelente filtro, a pele é muito grossa, no máximo, apresentaria coceira. Agora, quando elas depositam nos alimentos ou na água... Elas caem no intestino e, por não serem digeridas, se acumulam nas paredes intestinais causando inflamação e outros problemas.

—... — Todos ficaram sem palavras. Eles olharam para a médica que em segundos solucionou o problema que ninguém mais poderia.

— Tão rápido... Um gênio... — A garotinha não desdenhou mais da mulher de vestido rodado de palha, agora uma admiração genuína assumia sua face.

*

O sol poente enviava os últimos raios do dia, o tom alaranjado, antes da noite, penetrava a folhagem das árvores tingindo as casas da árvore com um toque natural. A temperatura caia pouco a pouco e o farfalhar das folhas anunciava a chegada da brisa noturna.

Três figuras sorriam para as crianças brincando de macaco, balançando de galho a galho indo em direção as suas casas.

— Então devemos desmanchar as casas de madeira roxa? E apenas...? — A princesinha da natureza colocou seu indicador nos lábios, pensativa.

— Eu também farei amanhã um remédio pastoso para remover as Agulha Roxas do organismo dos doentes. Bebam água e se alimentem bem que deve passar logo. Ah, leve-me para aqueles com casos mais graves, talvez eu preciso aplicar uma contramedida àqueles com estágio mais avançado. — Doutora Yuki sorriu para a garota.

— Entendi, muito obrigado doutora. — Agradeceu sinceramente, curvando-se em 45°.

— Isso é um exagero... — Liliane desviou e tentou levantar a garota.

— Nós contratamos tantos médicos, até o Jin, que se doou tanto, mas até agora ninguém foi capaz de sequer dar uma resposta satisfatória. Jin, doutora, em nome de toda Vila Ouro Preto, eu agradeço sinceramente! — Ela colocou todo o seu coração comovendo os dois, que se entreolharam e sorriram para a menina.

— Tudo bem, eu recebo os agradecimentos.

— Eu quero meu pagamento. — Jin brincou.

— Claro, tudo será devidamente pago. Ah! Veja, chegamos na casa de hóspedes. — Saltitou em meio aos dois antes de apontar para casa formada por folhas e palha muito semelhante a uma oca.

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