Capítulo 4•

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(24/03 ~ 12:27)

Pelo incrível que pareça, quando fui sair do apartamento Kenma ainda estava esperando por mim, ele mexia no celular e parecia muito confortável com toda essa situação — apenas seus dedos que ficavam tocando freneticamente em sua perna, mas percebi que isso é corriqueiro. Abro um sorrido e tranco a porta da minha casa.

— Você é rápido — Kenma comenta com um sorriso brincalhão no rosto, ele guarda seu telefone no bolso da calça quando me vê.

— Vou levar isso como um elogio — brinco de volta e vamos até o elevador, saindo do prédio percebo que vamos andando até esse "encontro de amigos", o que eu até prefiro.

Nesse momento, não me vi na necessidade de falar com Kenma então permaneci calado por um tempo, apenas sentindo a briza no meu rosto, que deixou a ponta do meu nariz gelado. Lembro de quando fui ver a neve pela primeira e última vez, meus pais e tios levaram eu e Takashi para o Canadá.

Não me recordo de muitos momentos daquela viagem, fragmentos de risadas minhas e de Takashi são soltas na minha memória. Bonecos de neve, guerra de bolas neve, coisas que crianças comuns fazem nesses tipos de viagem. Minha lembrança mais vivida desse acontecimento foi eu me sentir tão livre, esqueci completamente do contexto que vivia ou dos meus problemas; eu era uma real criança de 9 anos.

— Como está sendo a mudança até então? — Kenma pergunta quebrando o gelo.

— Normal, eu diria. Cheguei ontem, então não tenho muito do que falar — dou uma risada falsa — mas pelo menos você e Kuroo estão me recebendo muito bem, agradeço muito.

Kenma dá um sorriso envergonhado e volta a olhar pra frente, virando sua cabeça de forma abrupta. Mecho nos meus bolsos enquanto procuro como puxar assunto, de preferência me aproximar mais pra finalmente conseguir algo dele.

Encontro o isqueiro que nunca sai do meu bolso e dou um sorriso sincero, repleto de carinho e saudade. Seguro firme nele esperando que o objeto me dê coragem, o que incrivelmente sempre funciona.

— Você gosta de jogos? — Pergunto com uma leve risada, apontando para o chaveiro com um pingente de Stardew Valley (vi alguns vídeos na internet sobre, já que nunca tive a oportunidade de jogar).

— Hah... sim, gosto tanto que trabalho com isso — ele diz coçando a nuca, envergonhado por parecer que é difícil alguém estar tão interessado em conhecer ele — Faço lives pra internet, falam que sou muito bom nisso.

Então ele não se considera tão bom assim? Kenma parece ser alguém muito inseguro, o que vai ser muito bom pra mim. O outro parece procurar algo no seu bolso de forma inquieta, olho para os lados de maneira desesperada, pronto pra correr ou atacar se for necessário. Quando Kozume tira finalmente a mão do bolso dou um grande passo para trás.

— Quer? — Ele questiona me oferecendo um cigarro, eu acabei de me fazer de idiota. Merda.

— Adoraria — respondo envergonhado, um cigarro com certeza vai ser bom agora.

Kenma me entrega o maço, depois de acender deu próprio de forma rápida ele me entrega o isqueiro para eu acender o meu. Acho que estou finalmente entendendo o tipo de pessoa que Kenma é, ou que finge ser.

Ele é ansioso, procura sair de conversas ou situações constrangedoras de maneira rápida sem se importar muito com o que a outra pessoa diria. Prefere claramente ficar em casa mas se precisar sai às vezes, não sente a necessidade de agradar ninguém o que até acho engraçado. Mas um cigarro sempre o acalma.

Andamos por mais uns minutos trocando umas palavras aqui e ali até chegarmos no restaurante, no momento que entramos ouvimos alguém chamando por Kenma com a voz mais animada possível.

— Kenma!! Aqui!! — Olhamos para o lado e enxergamos todos (pelo menos acho que são todos) e caminhamos até a mesa.

Como esperado, reconheço todos os rostos por estarem na minha ficha. Kenma acena para todos e anda até a mesa, já que não tenho para onde ir o sigo.

O restaurante é bem aconchegante, sua iluminação é mais amarelada pra dar uma aparência melhor pra comida (sim, eu estudei sobre teoria das cores). Uma playlist bem reconfortante passava no fundo e mesmo com o restaurante cheio nenhuma das mesas fazia muito barulho. Além de que a decoração era bem simples, ramos de folhas espalhados pelas paredes e tetos, alguns quadros espalhados e cada mesa tinha um pequeno pote com uma flor rosa ou amarela.

Hortênsias... são minhas preferidas.

— Quanto tempo!!!! — O ruivo, Hinata Shouyo, levanta correndo e abraça Kenma como se ele fosse fugir do nada. Não esperava outra coisa do atacante do time oficial do Japão.

— A gente se viu semana passada... — Kenma comenta com uma risada abraçando Hinata de volta, mas com certeza sem a mesma intensidade.

— Mesmo assim! Sinto falta do meu melhor amigo!

Kuroo força uma tosse quando Hinata se disse "melhor amigo" do Kenma, eu genuinamente achei engraçadinho a reação do mais velho. Sei lá, pelo fato de todos (ou pelo menos alguns) da mesa terem soltado uma risada deixou a situação mais acolhedora.

— Oi gente — Kenma fala com um sorriso... diferente... nos lábios e espera com que eu me aproxime mais pra sentarmos — Esse aqui é o Shindou, ele acabou de se mudar pra cidade, e é...

Kenma parece ter perdido suas palavras no meio da frase então olho para todos da mesa com um sorriso acolhedor e amigável, feliz por estar ali. E estava mesmo. Está tudo fluindo incrivelmente bem.

— Olá, é um prazer conhecer todos — eu falo olhando para as pessoas da mesa. Mas sim, é realmente um prazer estar na mesa com um dos melhores jogadores de vôlei no Japão.

Admito que já assisti alguns jogos deles na TV anos atrás, sempre curti vôlei mas nunca foi minha praia.

— Oi Shindou!! Eu sou o Hinata, esse do meu lado é o Kageyama, os outros são Yamaguchi e Tsukishima! — Enquanto Hinata ia dizendo seus nomes eles iam me cumprimentando, menos Tsukishima. Pelo que eu já esperava.

— Espero que você se sinta acomodado na cidade, todos aqui são bem acolhedores — Akashi disse após se apresentar, mesmo sem dizer nada percebi que em sua mão que estava em cima da mesa uma aliança que combinava muito com a de Bokuto, que por sua vez estava visivelmente cansado.

Não estou impressionado nem nada do tipo, vi entrevistas de Bokuto onde ele não parava de falar como sem Akashi ele não estaria onde está. Adorável eu diria.

Kuroo olha pra Tsukishima levemente irritado e dá um soco em seu ombro, fazendo o loiro dar uma grunhida estressada, tirando seu olhar penetrante de mim.

— Porra, pra que isso?

— Que falta de educação! Nem vai cumprimentar o menino? — Kuro fala claramente enchendo o saco de Tsukishima.

O loiro olha para Yamaguchi que estava do seu lado e vê que o mesmo também o encarava como se esperasse algo, sem tentar esconder Tsukihima revira os olhos e me encara. Minha vontade é de atravessar essa mesa e dar um soco da na cara dele, mas me contento com todas as forças.

— Oi.

Mano... eu PRECISO dar um soco nele.

Porém minha mente ficou vazia quando olhei para o lado e percebi que Kenma me encarava desde o início, com se aqueles olhos dourados estudavam cada detalhe meu, dos meus olhos falsos até meu cabelo pintado. Ele não parecia estar nada além de interessado ou até mesmo viciado... viciado em me encarar...

Quando percebe que eu o olhava de volta, Kenma sorriu constrangido e virou o rosto rapidamente. Ele deve achar que não notei seu leve rubor nas bochechas.

Adorável. Meu alvo é tristemente adorável.

Nosso pouco tempo - KenmaOnde histórias criam vida. Descubra agora