Capítulo 1•

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(23/04 ~ 7h50)

Acordo com minha porta sendo escancarada, abro meus olhos assustado e vejo um dos capangas do meu pai na porta, sinto que ele me encara com nojo antes de sair. Olho para meu teto uns minutos antes de realmente me levantar, depois de um tempo encarando começo a perceber algumas manchas de sangue não totalmente limpas, não sei se elas realmente existem ou é
meu cérebro pregando peça.

Me levanto da cama em um pulo, troco meu pijama e coloco uma roupa que sinto que meu pai não irá odiar. Coloco uma camisa polo preta e calça cinza escura, prendo meu cabelo mesmo que ainda esteja muito pequeno pra isso. Entro na sala e já sinto um cheiro grande de cigarro, são 8 da manhã e meu pai já esta fumando.

Yotetsu se vira na cadeira, me olha de cima a baixo e traga em meu rosto, isso significa que ele não gostou de algo. Eu seguro a tosse e fecho meus punhos.

— Use roupas melhores para se encontrar comigo, não te considere o suficiente para ser um desleixado — Yotetsu diz com uma voz ríspida — Pediria para trocar de roupa, mas meu tempo é precioso.

— Sinto muito, Pai Yotetsu — falo abaixando minha cabeça para demonstrar respeito, espio para ver se sua expressão dizia para levantar minhas mangas, porém não decifrei nada. Esse dia já está bom.

Pai suspira frustrado e se levanta, abre uma gaveta em sua enorme mesa e tira uma pasta de dentro e a joga na minha frente. Pai olha para seus capangas e dois deles andam para trás de mim e eu prendo minha respiração, não me lembro de ter feito algo para irritar Yotetsu mas não significa que não o irritei.

— Abra. — Pai fala irritado e eu abro a pasta rapidamente — Kenma Kozume é um streamer famoso, ele parece ser alguém inofensivo mas essa praga esconde muita coisa. Ele roubou milhões de iens e vive a vida de um vagabundo.

Pai bate na mesa forte como se imaginasse que segurasse a cabeça de Kenma, ele chega ao meu lado e me encara furioso.

— Eu quero a cabeça dele. Quero ele morto pra ontem. — Yotetsu cospe seu cigarro e pisa para apagar o fogo, ele tira um documento da pasta que parecia ter minha foto — Seu nome é Shindou Yagami, seus pais são divorciados e tem um apartamento no mesmo prédio de Kenma.

— Pai Yotetsu... se o senhor me permite, acho que não sou aplicado para tal missão-

— Não lhe dei permissão — Yotetsu chega mais perto e segura meu rosto firmemente, sinto seus dedos apertando minhas bochechas enquanto ele vira meu rosto para lhe encarar — Acha que não sei que estou fazendo? Você se superestima moleque. É a sua cabeça ou a dele.

Me seguro o máximo que consigo para não tremer as pernas, Yotetsu me solta de forma abrupta que meu pescoço estalou. Os capangas me dão espaço para que eu saia da sala e me acompanham com os olhos até eu entrar no meu quarto, fecho minha porta e olho meu reflexo no espelho enquanto troco de roupa e arrumo minhas malas.

Meu reflexo me dá ânsia... tenho os mesmos cabelos brancos e olhos cristais que o Pai... mas nossos corpos são extremamente diferentes. Enquanto Pai é grande e intimidador, nem força eu apresento ter; uma cicatriz traça meu ombro esquerdo até minha barriga, cortes e queimaduras são vistas na minha cintura, enquanto meu peitoral criou uma cicatriz para repor a pele retirada.

Eu chorei pela primeira vez em dois meses.

(23/04 ~ 14h23)

Estou no caminhão de mudança dirigido por um trabalhador do meu pai, eu não reconheço mais o meu reflexo. Meus olhos que eram cristais estão agora cinzas e meu cabelo branco fora pintado para um vermelho forte. Não penso mais que sou Yukiro, ele está desaparecido enquanto Shindou toma seu lugar.

Minha mãe deve estar tão decepcionada.

Quando chegamos no endereço o homem pega minhas caixas e as coloca na calçada sem me olhar e entra novamente no caminhão, estou parado que nem idiota na frente das minhas caixas e suspiro fundo.

— Lá vamos nós.

Pego duas delas e coloco em baixo do meu braço, a chave que seguro tem o número 468 gravado. Subo as escadas para aproveitar a dar uma olhada no prédio e percebo que ele tem um certo padrão de quantidade de apartamentos em cada andar.

Chego no meu andar e destranco a porta colocando minhas coisas dentro. Ele parece bem aconchegante mesmo que pequeno, ao abrir a porta vejo a cozinha com a bancada virada para sala logo quando entro, tenho uma grande varanda ao lado da sala enquanto os quartos ficam para dentro. Mesmo que fique por pouco tempo, vou aproveitar esse tempo sozinho.

Desço novamente para buscar o restante das caixas e vejo alguém encostado na parede segurando o terno com um dos braços, o homem é bem alto e tem um cabelo preto para trás por conta do gel. Ele parece cansado enquanto conversa ao telefone, após um suspiro ele desliga a ligação em um instante. O homem passa a mão pelo cabelo e olha para os lados e me vê encarando. Ele sorri e anda em minha direção.

Merda. O que eu faço agora?

— Você parece bem atarefado — ele diz com uma risada amigável enquanto aponta para minhas malas e caixas — Precisa de ajuda?

Kuroo Tetsurou, amigo de infância do Kenma, me encara de forma feliz. Eu sorrio tão amigavelmente que nem pareço eu mesmo, isso é uma grande oportunidade.

— Eu adoraria. Me chamo Shindou Yagami, você é...?

— Kuroo Tetsurou, prazer em te conhecer.

Pai me mostrou uma foto e explicação de cada pessoa próxima do Kenma antes de sair, então sei como me locomover nesse lugar.

— Vamos?

— Claro! — respondo sorrindo.

Nosso pouco tempo - KenmaOnde histórias criam vida. Descubra agora