Capítulo 2•

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(23/03 - 15h30)

Terminamos de colocar as últimas malas no apartamento e Kuroo parece estar exausto, não conversamos nada de importante durante esse tempo, nada além do homem sendo amigável e fazendo perguntas comuns como "por onde você conheceu o prédio" ou "já viu a área da piscina?". Admito que isso me irritou levemente, ser amigável não é um ponto forte meu.

— Finalmente! — Kuroo fala quando coloca a mala no chão e estica sua coluna, olhando de longe ele parece ser um velho — Você tem muita coisa, ein!

Kuroo ri ao seu comentário, eu sorrio junto a ele. Bom, duas das caixas estão lotadas de armas e documentos confidenciais, então não me surpreende o peso.

— Haha, verdade! Me recusei deixar minhas coisas pra trás quando mudei, sou muito apegado aos meus pertences — como deveria, não tenho muitas coisas minhas e somente minhas, nunca fui permitido ter meus próprios bens.

— Não julgo, também sou assim com certas coisas — Kuroo diz amigavelmente me olhando — Enfim, já vou indo se não tem problema. Vou encontrar um amigo.

Eu sei, Kuroo sempre encontra Kenma por volta dás 15:40 todos os dias no apartamento dele. Ele trabalha como a empresa japonesa de associação ao vôlei, esporte que ele jogava com Kenma no ensino médio.

— Por favor, fique mais um pouco! O mínimo que posso fazer é preparar um chá como agradecimento, mas somente se você tiver tempo — Digo de forma apressada, não vou deixar ele escapar tão rápido.

Minha chaleira foi a última coisa que coloquei na terceira caixa, sabia que teria que usar ela mais rápido que as outras coisas. Antes de vir para o apartamento comprei diferentes tipos de chá, especialmente o de Hortelã.

Kuroo olha no seu relógio de pulso e sorri para mim, se senta na cadeira da bancada e diz:

— Eu tenho um tempinho.

Eu rio e pego a chaleira e os chás da caixa, me viro para colocar água na chaleira e meu sorriso desaparece no mesmo instante. Por que é tão cansativo sorrir por tanto tempo? Não sinto minhas bochechas.

Ligo o fogão e esquento a água, Kuroo olha para trás vendo a bagunça de malas e caixas e se vira. Ele levanta e apoia seu peso na bancada ao lado.

— Não quer ajuda para arrumar aquilo?

— Claro que não! Você já fez de mais, não posso pedir mais de você! — Se esse filho da puta tocar em algumas das minhas coisas, juro que corto a mão dele fora — Vou fazer de Hortelã, tem problema?

— Nem um pouco! Chá de hortelã é meu favorito!

— O meu também! Haha! Pelo visto temos mais coisas em comum do que pensamos — Tolo.

A chaleira apita avisando que a água estava fervida, coloco a água nas xícaras quando o sachê já estava dentro. Entrego o chá para Kuroo e adiciono uma colhei de açúcar na minha bebida, porque ninguém merece tomar essa coisa pura.

Conversamos por uns minutos, ouvi coisas completamente banais como o time de vôlei que eles participavam quando adolescentes, as amizades que fizeram nos campeonatos e etc. A única coisa que realmente me interessei na conversa foi quando Hinata fora citado.

Hinata Shoyo, um dos maiores jogadores de vôlei da história Japonesa, amigo muito próximo de Kenma e tem desconfiança de um namoro com Kageyama Tobio. Pessoas que passam seu tempo pesquisando momentos da vida pessoal de celebridades para ver se passam tempo com outro alguém, não tem nada melhor do que fazer.

— Você tem um ótimo papo, Shindou! Mas agora eu tenho realmente que ir...

— Que pena... te vejo depois então?

— Quer saber? Espera um instante — Kuroo fala antes de começar a digitar no seu celular repetidas vezes, o homem sorri depois de um tempo e me olha animado — Um amigo iria se encontrar no meu apartamento, você quer vir junto? Somos os três do mesmo prédio.

Maravilha. Tudo está indo muito melhor do que imaginava, o que um rostinho bonito e carisma falsa não fazem?

— Eu não quero ser um incômodo...

— Ah, por favor! Se estou te convidando não seria nunca um incômodo.

— Se você insiste... — respondo em uma risada envergonhada, pego meu celular e carteira colocando no meu bolso enquanto Kuroo chama o elevador. Ele aperta o botão do décimo andar e o elevador sobe.

Não vejo a hora de escutar ele parar de falar, não consigo raciocinar nessa velocidade e acabo fazendo uma cara de cu expontânea, sinto que eu iria explodir. Pai disse que Hinata é o mais agitado de todos, não sei como vou conseguir sobreviver um minuto perto do moleque, sei muito menos de como Kenma consegue aguentar isso.

Chegamos no décimo andar e Kuroo abre a porta do seu apartamento 1069 e joga suas chaves na cadeira mais próxima. O apartamento é muito maior que o meu, sua sala é imensa que tem duas estantes gigantes na parede, uma TV enorme e um sofá claramente confortável. A cozinha era do tamanho da minha sala e uma mesa de jantar linda separava a cozinha da sala, além de que os quartos para dentro pareciam espaçosos pela largura do corredor. Olho para frente e vejo que ele tem uma sacada tão grande que tinha mais uma estante de livros.

Além de tudo, tinha uma figura familiar encostada na sacada, olhando para o nada enquanto fumava.

— Você tá aí faz quanto tempo? — Kuroo pergunta colocando seu paletó no cabide ao lado da porta, levantando as mangas da sua camisa enquanto andava em direção da figura.

— Sei lá, uns minutos — o homem responde, sua voz me traz um calafrio na espinha.

Ele se vira e finalmente vejo o rosto de Kenma Kozume.

Seus olhos pareciam mais cansados do que nas fotos, seu cabelo era grande o suficiente para ter um penteado adequado, e aqueles olhos dourados pareciam perfurar minha alma. Ele segurava o cigarro entre os dedos com firmeza porém delicadeza, seu cabelo parecia tão macio que o vento avoava-o com cuidado.

Ele parece tão igual porém diferente das fotografias...

— E esse? Quem é? — Kenma questiona, dessa vez virando seu corpo totalmente para me ver. Ele me analisava de cima a baixo, mas não me sentia tão ameaçado como esperava.

Eu abro meu melhor sorriso e controle meu batimento cardíaco. Se controle Yukiro, não é a primeira vez que é mandado para missões.

— Shindou Yagami, é um prazer em te conhecer — falo com o sorriso falso e estendendo minha mão para que Kenma aparteasse, ele o faz sem uma animação sequer, ele parece meio desconfortável com a situação. Solto nossas mãos rapidamente quando percebo e coloco-as em meus bolsos.

— Ele é o novo morador do 468, o ajudei com a mudança. Ele é bem legal.

Admito que fiquei envergonhado com o elogio de Kuroo, não estou acostumado a ouvir esse tipo de coisa do nada, mesmo que não esteja sendo eu mesmo. Kenma me olha e direciona um pequeno sorriso educado e eu o devolvo, essa vai ser difícil...

— Pedi um yakisoba pra gente, tem problema Shindou?

— Claro que não! Adoro yakisoba.

Claro que tem! Eu sou alérgico a essa porra! Mas é claro que não vou falar isso, por sorte trouxe o restante dos meus antialérgicos.

Olho pra Kenma que não me encarava mais, ele parecia muito focado em seus pensamentos e no estante do cigarro que ainda restava no maço.

Nosso pouco tempo - KenmaOnde histórias criam vida. Descubra agora