Vejo o carro saindo depressa e volto para a barraca de cabeça baixa. Se eu tivesse dito a ele que já estava decidida a acompanhá-lo na viagem, nada disso teria acontecido. Ele ficou bravo porque está certo de que eu não vou aceitar o que ele me oferece.
Minha mãe sai de casa depois de meia hora e fechamos juntas a barraca.
— O que você tem, Dandara?
— Não tenho nada, mãe.
— Está assim por causa do moço. — Não gosto quando ela usa seus poderes de índia para ler a minha aura.
— Não sei o que eu faço.
— Faça o que te faz feliz, querida. Não devemos fugir do nosso destino.
— Ele não é o meu destino, mãe. É um forasteiro.
— Ninguém sabe o dia de amanhã.
Tarde da noite, sentada na varanda de casa, a voz da minha mãe ainda ecoa na minha mente. Luiz Miguel está no meu destino, ela sabe e eu também sei. Meu corpo vibra quando ele está perto, foi assim desde a primeira troca de olhares. Não posso fugir do meu destino, meus antepassados sempre me guiaram e me colocaram de frente com esse homem, com algum propósito que eu ainda não sei.
Apanho o celular e pergunto se posso ligar para ele agora. Se ele estiver dormindo, não haverá resposta e deixarei essa conversa para amanhã.
Menos de cinco minutos, meu telefone toca.
— Luiz?
— Você me perdoa por hoje? Fui muito grosseiro com você.
— Não tenho o que perdoar. Ambos estamos confusos.
— Eu não sou assim normalmente. Ou sou e não reparei. Acho que esse calor que faz aqui na sua terra aquece meus miolos.
— O calor daqui é sufocante mesmo. Tenho saudades quando podia nadar nua no lago, ser índia tem suas vantagens. — Uns segundos de silêncio se fazem e eu sei bem qual é a imagem que ele criou na cabeça. Dandara, fez isso de propósito.
— Quer me derrubar, imaginado você nua, nadando nas águas quentes do lago?
— Gosto do tom da sua voz quando está... — Paro tentando achar a melhor palavra, mas ele é mais rápido do que eu.
— Excitado? — Não tem outra palavra que resume tão bem esse momento que antecede o sexo.
— Está assim agora?
— Impossível não me sentir assim com a linda imagem que minha mente criou.
— Precisamos conversar sobre o nosso final de semana.
— Nosso? — ele indaga, ainda sem compreender muito bem o que eu disse.
— É, nosso...
— Se eu te disser que estou com medo agora, você acredita? Não quero te magoar, Dandara.
— Não serei magoada, porque você está sendo muito honesto comigo. Eu tenho que escolher alguém e eu escolhi você, não tem do que ter medo. Na verdade, eu é que tenho que ter medo, afinal nunca estive com um homem antes e você não me parece um cara comum.
— Vou cuidar de você enquanto estivermos juntos, eu prometo.
— Que horas você passa aqui no sábado?
— Bem cedo, não quero perder tempo.
— Ah...Luiz, assim você me encabula.
— Desculpe, Dandara. Estou ansioso para tomar seu corpo e marcar como meu.
VOCÊ ESTÁ LENDO
DANDARA - UMA HISTÓRIA
Truyện Ngắn"Dandara" é um conto que narra a história de uma jovem índia que, apesar das dificuldades impostas por sua origem indígena, sonha em se tornar médica, mesmo sabendo que esse sonho parece quase impossível de ser realizado. Morando em São Luís do Mara...