Capítulo 9

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Minha mãe entra em meu quarto quando peço para Niara avisar que não vou jantar.

— Sem fome, querida. O que está acontecendo? É o rapaz? — Seguro nas suas mãos estendidas.

— Eu gosto dele de verdade, mãe. Não quero ser uma oferecida, mas gostaria muito de ficar com ele amanhã a noite.

— Ele está no seu destino, não tenha medo e nem receio. Faça o que seu coração mandar, não importa o que os outros falem. Se ele está indo embora, faça com que ele não te esqueça. Ele também está sofrendo por te deixar. — Deito a cabeça em seu colo.

— Queria ter essa certeza. Por que não recebi esse dom que a senhora tem?

— Talvez você tenha esse dom, só não chegou a hora de você saber. Sua mãe aqui, também já teve dezenove anos e já errou. Foi com mais idade que descobri que era diferente das outras índias. Agora seca esse rosto, come um pouco, que eu vou fazer uma tinta de urucum para vocês usarem na praia amanhã.

— Niara está saltitante com a oportunidade de ir à praia. — Eu me levanto e vou com ela em direção a cozinha. Apesar da nossa casa ser bem simples, tudo é bem arrumadinho e cheiroso.

— Criança tem que se divertir. Niara precisou crescer muito cedo por conta da morte do seu pai.

Volto a pensar em Luiz Miguel quando consigo fazer Niara dormir. Nunca a vi tão ansiosa.

Como será que ele vai reagir quando eu disser que quero passar sua última noite com ele? Não quero parecer oferecida, mas não vou ficar calada se tenho um desejo e posso realizá-lo. O máximo que pode acontecer é ele negar a minha presença e talvez essa seja a melhor coisa, assim desencanto dele logo de vez.

Como esperado, ele chega no horário combinado. Niara chega a deixar a minha cabeça atordoada com tantas perguntas curiosas. Ela sempre foi mais falante que eu. Luiz parece estar acostumado, responde com paciência todas as suas perguntas e ainda faz mais algumas que contribui com a tagarelice dela.

A praia não é muito diferente da anterior, apesar da exuberância da natureza a sua volta ser mais bonita. Dessa vez Luiz estaciona o carro na rua e descemos a pé até uma barraca mais próxima da água para ficar de olho em Niara, que sabe nadar, mas não tem conhecimento do mar e sua força. Ele pede água de coco para mim, um suco para minha irmã e uma cerveja para ele.

— Ela está se divertindo, não é, Dandara? — Ele me pergunta quando sentamos um pouco para fugir do sol, enquanto ela brinca no raso.

— Nunca vi Niara tão elétrica. Obrigada por isso, de verdade, você se mostrou ser um bom homem. — Ele sorri para mim daquele jeito que faz o meu coração acelerar.

— Digamos que você contribuiu para esse bom homem dar o ar da graça. Stevie costuma dizer que eu sou muito chato e ranzinza. — Tomo um gole da água de coco e reflito que ele nunca me pareceu dessa maneira. Desde o primeiro dia ele foi perfeito comigo.

— Você me parece tão bonzinho.

— Bonzinho, Dandara? Te assediei, te levei para viajar com más intenções, peguei para mim algo que era valioso para você, deve parar de me endeusar.

— Então eu também sou malvada, porque desde o primeiro olhar eu quis ser sua e usei todas as armas que uma mulher tem para atrair sua atenção. Não sou a santa que você está achando. Além disso, eu quero dormir com você essa noite para podermos exercitar todo esse seu lado cruel e o meu lado pervertido. — Sua expressão vai do atônito ao tesudo em segundos. O toque no seu membro prova para mim que eu sei muito bem mexer com ele. Depois ele fica mais sério do que já é normalmente.

DANDARA - UMA HISTÓRIAOnde histórias criam vida. Descubra agora