Depois do jantar, com o cartão enfiado no bolso do meu short, bato na porta da Cecília, minha amiga à bastante tempo, que mora cinco casas depois da minha.
- Minha irmã está no quarto. Vão fofocar, aposto. - O irmão dela abre a porta para mim.
- Por que você é tão intrometido, Moacir? não interessa o que vamos falar. - Entro no quarto dela e tranco a porta. Não quero ninguém ouvindo a nossa conversa.
- Fala logo, Dandara. Estou ficando louca de curiosidade. - Mostro o cartão para ela.
- Esse cara aí do cartão quer sair comigo amanhã, e eu não sei o que responder. - Eu não entendo muito de tecnologia, mas pesquisando na internet eu vi que é uma empresa que tem no Brasil todo. Pelo que entendi, ele é da diretoria, como está escrito no cartão. Não é um homem sem sobrenome. - Vi na internet que ele é dono da empresa.
- Que tipo de convite ele fez?
- Ele quer que eu mostre São Luís para ele, mas eu nunca passeei por aí à toa, como diversão. Nem sei onde é legal ir.
- Você está com medo? - sento-me em sua cama, tentando dar voz as minhas indagações.
- Não é medo, propriamente dito, é uma insegurança, porque o que um cara como esse, que está aqui provavelmente de passagem, quer com uma índia como eu? É óbvio que ele quer sexo, acha que somos mulheres fáceis.
- Você vive falando que quer conhecer o sexo, está dizendo que sabe o que ele quer de você, então está querendo me dizer que ele pode ser o escolhido?
- Ele é lindo, Ceci. Lindo mesmo, parece ator de novela. Não vou negar que ele me atrai. Me conta o que você sentiu quando transou a primeira vez. - Cecilia tem a mesma idade que eu, mas já ficou com alguns rapazes. Ela sempre foi mais atiradinha, menos reticente com a sua sexualidade. Nem tive tempo de pensar nisso, os estudos sempre foram o meu foco principal.
- A primeira vez não conta, amiga. Temos muitas preocupações e medos na cabeça para aproveitar esse momento. O que posso afirmar que sexo é muito bom, mesmo que não seja feito por amor. É por isso que eu não parei de fazer desde meu primeiro relacionamento, é muito bom sentir dois corpos se unindo por desejo. - Eu entendo quando ela fala sobre seus sentimentos, mas sou tão diferente dela, sempre achei que seria por amor a minha primeira vez. Nunca cogitei me entregar para um desconhecido, como um caso passageiro. Também nunca me senti atraída por alguém como me sinto atraída por ele.
- Você quer isso?
- Eu não sei, realmente não sei.
- Acho que você precisa viver o que ele está te oferecendo e deixar bem claro desde o começo que os seus desejos estão em primeiro lugar. Liga para ele.
- Agora? - minhas mãos tremem quando eu pego o celular e seguro o cartão.
- Tenta descobrir mais coisas, o que ele pretende.
- Tá, vou ligar.
- Eu vou buscar juçara para comermos depois. Assim você não fica com vergonha de mim. - Quando ela sai, digito o número dele. Toca três vezes e eu já estou desligando quando escuto sua voz.
- Pronto.
- Miguel, é Dandara. - Busco respirar para o meu coração parar de bater acelerado.
- Oi, Dandara. Esperava a sua ligação. - Merda, estou sorrindo. Ele estava pensando em mim.
- Então, estou te ligando para saber o que você quer fazer amanhã?
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DANDARA - UMA HISTÓRIA
Nouvelles"Dandara" é um conto que narra a história de uma jovem índia que, apesar das dificuldades impostas por sua origem indígena, sonha em se tornar médica, mesmo sabendo que esse sonho parece quase impossível de ser realizado. Morando em São Luís do Mara...