Onde eu estava com a cabeça quando aceitei ir em um casamento indígena com a mulher que eu tirei a virgindade semana passada? Com certeza, foi focado na promessa do que acontecerá logo depois do casamento, ela disse que irá dormir comigo no hotel. Me deixei levar pela cabeça de baixo, não tem outra explicação.
Olho no espelho a roupa que escolhi diante do meu parco repertório, não trouxe muita coisa na mala. Uma calça social e uma camisa de manga curta mais despojada, com um sapato, tipo tênis, no pé. Dandara foi categórica quando eu cogitei a ideia de estar invadindo um espaço que não me cabe, não tem porque se encabular se as coisas não forem da maneira que eu estou acostumado. Suas palavras me assustaram.
Sei que serei um alienígena nesse casamento e isso se reforça quando Dandara sai de sua casa com um vestido lindo, longo e colorido, completando a sua beleza com uma maquiagem indígena no rosto. Linda, perfeita e um pouco aterrorizante.
— Tem certeza do que está fazendo? — Pergunto, quando pego o caminho que ela me indica. Seu olhar é quente e ela consegue fazer o meu corpo queimar ainda mais do que já está queimando.
— Fique calmo, maraú. É um casamento indígena, diferente, não nego, porém, são pessoas que estão inseridas na sociedade. Não vamos no meio do mato e o noivo não vai caçar como de costume. — Ela me olha de cima até embaixo. — Você está lindo, Luiz. Chamará a atenção.
Dandara toca a minha coxa, apertando exatamente naquele ponto que tem ligação direta com meus testículos.
— Princesa...
—Nem pense em me chamar assim lá. Nem me tocar, é desrespeitoso.
— Está me torturando, não é?
— Estou falando a real. Comporte-se e terá um dia e uma noite maravilhosa. — Respiro fundo, pensando que tudo isso valerá a pena, no fim das contas.
Uma surpresa atrás da outra é o que acontece a todo momento. A grande maioria dos convidados são de origem indígena, o que causa curiosidade quando eu entro junto com ela nos jardins de uma bela chácara. Apesar da estranheza, sento-me ao seu lado, tentando me misturar para não ficar em evidência. As cadeiras estão dispostas em círculo e tudo remete aos índios, desde a decoração, comida, roupas e maquiagem. Uma cumbuca é passada de mão em mão e quando chega na mão de Dandara, ela usa uma tinta marrom escura para marcar meu rosto como a maioria deles. É estranho e ao mesmo tempo fascinante, porque é um mundo totalmente diferente do meu, que eu nunca imaginei vivenciando. Ela se diverte, respondendo todas as minhas perguntas ignorantes porque a curiosidade me faz falante.
De repente, começa uma cantoria nativa, apenas com vozes femininas, elas vão chegando e entrando na roda de convidados sem parar de cantar. A música está em um dialeto desconhecido e no meio das mulheres vestidas como Dandara, se encontra a suposta noiva. Destoa das outras por causa das tintas do corpo serem totalmente brancas. Essa dança dura alguns minutos e é silenciado pela entrada dos homens, cantando uma outra música. Um deles carrega um tronco enorme nas costas. Dandara me confidencia.
— O tronco tem que pesar igual ou mais que a noiva, se ele não conseguir carregar, é prova de que não tem como sustentar sua mulher. — Olho para Dandara, calculando quanto ela pesa e se eu seria capaz de carregar um tronco com seu peso.
Na mesma hora, balanço a cabeça, expulsando essa ideia da minha mente.
A cerimônia, mais parecida com que conheço, passa a acontecer e dou graças a Deus quando eles se beijam. Pareço um peixe fora da água, quase nunca vou a eventos de casamento e noivado. Todos se levantam e dessa hora em diante a dança é unânime. Homens, mulheres, crianças, todos estão felizes e atuo igual a todos na festa, assim que Dandara me manda caminhar atrás dela.
VOCÊ ESTÁ LENDO
DANDARA - UMA HISTÓRIA
Short Story"Dandara" é um conto que narra a história de uma jovem índia que, apesar das dificuldades impostas por sua origem indígena, sonha em se tornar médica, mesmo sabendo que esse sonho parece quase impossível de ser realizado. Morando em São Luís do Mara...