Saudade

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Felipe
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Entrei em casa com cuidado para não fazer barulho, já que passava das duas da manhã e Vitória uma hora dessas já deveria estar na cama.

Caminhei pela casa, indo até a cozinha onde tirei uma garrafinha de água e tomei todo o líquido de dentro dela. Suspirando fundo, pelo cansaço do dia. O morro estava uma bagunça, depois de tudo que vinha acontecendo nos últimos dias, Vinícius andava mais afastado do que nunca, eram poucas as vezes em que trocavamos duas ou três palavras.

O que aconteceu com sua irmã, talvez tenha sido um motivo e tanto para nosso afastamento. Mesmo que eu sentisse falta do meu amigo e braço direito, tudo que aconteceu passou, eu não podia voltar atrás e Fernanda havia apenas colhido o que ela havia plantado.

Ela sabia o que lhe aconteceria, já que não foram uma ou duas vezes que lhe deixei avisada, mas ela não quis escutar e ainda passou por cima de toda minha ordem. Então aqui se faz, aqui se paga e ela pagou por tudo que fez, não só com Gabriel mais com Mirella no passado.

Entrei no quarto de Vitória encontrando a pequena dona encrenca já em seu décimo sono. Thays deveria estar dormindo em algum quarto de hóspedes pela casa, já que ela pediu alguns dias de folga no trabalho pra me ajudar, ela ficava com Vitória durante o dia e também era ela quem cuidava dos machucados de Gabriel quando eu não estava. Seus machucados não já estavam tão feios e aparentes como o dia que eu o encontrei, apesar de ainda ter muito hematomas pelo corpo, que antes era branquinho como uma tela em branco agora estava toda cobertas por manchas roxas pelos chutes que supostamente ele havia levado que fora muitos.

Respirei fundo, desejando que o desgraçado que havia feito aquilo com o loirinho esteja apodrecendo no inferno uma hora dessas.

Sai do quarto de Vitória depois de ajeitar a coberta e deixar um beijo em seus fios e caminhei pro meu— onde encontrei Gabriel dormindo sereno na cama, com seus fios loiros espalhados pelo travesseiro enquanto estava vestido num pijama de ursinhos que eu sempre o zoava dizendo que ele ficava parecido com uma criança e sempre acabava com ele me xingando e querendo me expulsar do meu próprio quarto— aquele baixinho atrevido.

Deitei ao seu lado, depois de tomar um banho relaxante como se água do chuveiro tivesse lavado todo o meu estresse dos dias anteriores, tivesse tirado todo o peso dos meus ombros depois de um dia cansativo, parecia que a minha energia só recarregava quando eu estava aqui, com minha família.

Fiz uma leve carícia no rosto de Gabriel, sentindo o quão macio e delicada era sua pele, está que ele sempre tinha um cuidado grande fazendo aquelas frescuras que ele via na internet antes de dormir— Gabriel era todo delicado e sensível se tirasse toda aquela muralha que ele havia criado ao seu redor,  para que ninguém o machucasse. Eu sabia que todo o seu jeito, atrevido, afiado e agressivo era apenas uma muralha que ele próprio havia criado para não se machucar mais do que já fora machucado por todos que passaram por sua vida, principalmente o desgraçado do seu progenitor.

Ele não havia me contado tudo, mas havia me contado o suficiente para me fazer ter ódio do seu pai, aquele desgraçado também deveria pagar por tudo que fez ao meu loirinho, mas tudo bem, pelo menos ele estava bem agora e aquele filho da puta nunca mais chegaria perto de Gabriel nem mesmo se quisesse.

"Não vou deixar que ninguém mais te machuque, sei que você não confia em mim loirinho e nem deve tá me escutando agora mas se tiver, saiba que eu não vou desistir de tu, porra, eu nunca senti isso por ninguém até tu chegar com esse teu jeito todo atrevido e afiado, me enfrentando como se não tivesse medo da morte ou talvez é apenas teu jeito de me irritar mermo"— sorri lembrando de quando o vi pela primeira vez todo atrevido. "Mas esse não é o ponto, a verdade é que eu tô gamadão em tu e...porra, eu não posso mais esconder isso e nem mais me segurar, eu sei que falei pra cê que íamos com calma, mas acontece que eu tô apaixonado por tu loiro e eu não consigo mais guardar isso pra mim eu precisava desabafar" — suspiro fundo. Querendo que ele tivesse acordado nessa hora, apenas para eu falar tudo isso olhando naquelas olhos azuis como o mar— esses que me tirava o fôlego e me deixava com as aquelas famosas borboletas na barriga. "Eu te prometo amor, prometo que não vou deixar ninguém mais machucar você e todos que tentar chegar até tu irá conhecer o inferno, porque eu farei questão de apresentar" — Falei ou melhor lhe garanti. Aquilo era um juramento de que ninguém chegaria até ele de novo.

•O DONO DO MORRO || Destinados •Onde histórias criam vida. Descubra agora