Doces memórias de um coração curado

O pior retiro da minha vida!

Acordei aquela manhã animada, tudo estava cooperando para que o final de semana fosse perfeito. O dia ensolarado, o bom humor dos meus pais, o café da manhã, e até o ar fresco de inverno quando sai de casa para entrar no carro e ir para escola.
Embora eu não curtisse muito isso de estudar, aquele dia eu não estava me importando, mesmo tendo quatro aulas seguidas de português, o que nem eu, nem meus amigos entendemos porque a escola não poderia ter distribuído as aulas de uma forma mais leve durante a semana, gerando sempre murmurações as sextas-feiras, mas, naquele dia, nada iria me abalar.

— Bom dia Gi!

— Uauu, tá toda animadinha dona Maitê, qual a novidade? — Disse a Geovana se apoiando com os cotovelos na mesa e jogando seu corpo para frente com uma cara de curiosa.

— Dia de retiro de inverno! – Eu falo vibrando.

— Ah, esses negócios de igreja de novo?

— Não é qualquer negócio de igreja, Gi. É um tempo onde temos várias brincadeiras, comidinhas deliciosas, e bastante tempo com Deus. Vai ter até pizza! Ainda dá tempo de você ir. – Eu respondi, com expectativa de persuadi-la.

— Humm, passo — Ela se encosta na cadeira de novo, desinteressada.

Não consegui.

— Bom dia turma! Já organizem seus deveres para me trazer enquanto faço a chamada. – A professora aparece, tirando qualquer possibilidade de continuar nossa conversa.

Embora massante, devido ao horário louco do colégio, o dia passou muito rápido, talvez por conta do meu estado animado. Quando cheguei em casa, nem me interessei no almoço, levando um leve chingo da minha mãe, pois fui direto arrumar as malas.
No período da tarde porém, o tempo que passava rápido começou a parecer se estender. Talvez fosse porque eu já estava alimentada, com as malas arrumadas, tarefas feitas e ainda faltavam 5 horas para o retiro. Então nada mais justo que aproveitar para ter meu tempo com Deus!
E meu devocional de hoje foi baseado em Provérbios 16, mas um versículo em especial chamou muito minha atenção:
‭‭
Provérbios‬ ‭16:1‭-‬3‬ ‭
É da natureza humana fazer planos, mas a resposta certa vem do Senhor. Ainda que as pessoas se considerem puras, o Senhor examina as intenções de cada um. Confie ao Senhor tudo que você faz, e seus planos serão bem-sucedidos.

O que será que Deus estava querendo me dizer?
Esqueci isso e não muito tempo depois fui me arrumar. Não sei como, mas consegui chegar atrasada. Porém não tinha problema, já que a maioria atrasou também.

— Ei Mai! – Alana chega me dando um abraço apertado.

Alana era uma menina de estatura mediana, quase do mesmo tamanho que eu, mas eu ainda era um pouco mais alta, tínhamos a mesma idade. Ela era minha melhor amiga desde que éramos toquinhos de gente. Não é como uma amizade do prézinho da escola, mas certamente era uma amizade de infância. Tínhamos várias fotos juntas nos eventos infantis.

— Essa é a Melissa, uma amiga que já estava vindo na nossa igreja a um tempo e agora decidiu ficar. É o primeiro retiro dela. – Ela disse apontado para menina de cachos longos ao seu lado.

— Prazer em receber você! Vai amar o pessoal. – Eu disse a abraçando.

— Pode me chamar de Mel, eu prefiro assim.

— Bom, a Lana deve ter falado sobre mim, então dispenso apresentações, me chame de Mai. – Eu digo com um sorriso.

— Mel! Olha eu trouxe o chicletes que você me pediu. Ah, oi Mai! – Pedro chega.

Pedro era um menino alto, ruivo, sem sardinhas, acho importante frisar essa característica diferente entre os ruivos, e dono do meu coração há dois anos. Infelizmente nunca notei interesse da parte dele, mas como tudo começa com uma boa amizade, como a que tínhamos, não me preocupava com isso. Pelo menos não até esse exato momento.