Noemi e Joana

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O carro estaciona em frente a casa que me trazia memoráveis lembranças. Ela continuava da mesma forma, bem cuidada e recheada do amor que a tia Iolanda tinha pelas pessoas. A casa dela estava sempre aberta para quem quisesse entrar e às tardes ela sempre fazia um cafézinho, esperando por alguém. Nunca conheci uma mulher tão dedicada ao Reino de Deus como a tia Nanda. Ela se casou aos dezenove anos, mas aos vinte perdeu seu marido em um acidente. Depois disso, ela nunca mais quis se casar, e decidiu que já que não tinha filhos nem marido, viveria sua vida de forma integral a Deus, como apóstolo Paulo, sabe? Aquela história sempre me emocionava, mas eu jamais gostaria que acontecesse comigo!

— Nanda! — Dona Gláucia desce do carro afobada e corre dar um abraço que deixou a tia Iolanda quase sem ar.

Enquanto isso meu pai foi pegando nossas bagagens.
Tive um breve momento de querer permanecer no carro, mas me lembro mentalmente do porque eu havia aceitado essa viagem, então eu desço e sinto o cheiro inigualável de: mato. Tudo ali era mato, exatamente como eu tinha imaginado.

— Maitê!

Levo um susto ao ver tia Iolanda me chamando afobada querendo me abraçar. Ao ver a cara da minha mãe imaginei que não havia sido a primeira vez que ela me chamara.

— Tia Nanda! – Corro dar um abraço simpático e nitidamente ela e Dona Gláucia eram irmãs, tia Nanda tinha a mesmo forma de nos abraçar até ficar sem ar que a mamãe.

— Entrem meus queridos! Eu estava muito animada para receber vocês! Ah Maitê, Joana e Noemi estão vindo aí ver você – Ela diz sorrindo de orelha a orelha e entra em casa batendo papo sem parar com a mamãe.

Engulo seco. Eu nem conhecia essas garotas e elas viriam aqui me ver? Credo.
Tento esquecer o fato memorável das visitas que receberia e coloco minhas bagagens no quarto que tia Nanda me cedeu. Então, depois de uma viagem de cinco horas, aquela cama me pareceu muito tentadora. Eles não iriam ligar se eu deitasse um pouquinho, não é?

— Maitê! Maitê! – Eu ouço uma voz já sem paciência.

— Mãe? Que horas são!? – Eu levanto de supetão ao ver que o sol raiava na janela.

— Dez horas. Anda levanta, vai se arrumar que Noemi e Joana estão te esperando lá na sala. – Ela fala impaciente e saí do quarto.

Levanto meio desnorteada, pego minha blusa de lã rosa, minha calça jeans e meu all star branco e entro de fininho no banheiro. Não queria que ninguém visse minha cara amassada e meu cabelo virado no que é aquilo. Eu estava parecendo o espantalho da horta da tia Iolanda.
Respiro fundo umas dez vezes me olhando no espelho. Não gosto de conhecer novas pessoas.
Mas antes que minha mãe viesse e me tirasse a força desse banheiro, era melhor eu saisse por vontade própria e cumprimentasse as visitas.

— Oi meu docinho! Deixei o café na mesa para você, as meninas cansaram de te esperar e já foram comendo. Dormiu bem? Achamos melhor não te acordar ontem a noite, você parecia bem cansada da viagem.

Tia Iolanda era assim, disparava falar e em uma frase continha inúmeros assuntos diferentes. Se as mulheres falavam 20 mil palavras por dia, tia Iolanda deveria falar 50 mil!

— Bom dia tia. Dormi sim, obrigada. – Eu falo com um sorrisinho amarelo.

Chego na cozinha e me deparo com duas meninas muito bonitas, nem parece que eram da roça.

— Bom dia amiga! Você demorou a acordar hein! Espero que não se importe em termos começado a comer sem você. Na verdade esse é o nosso segundo café, o outro tomamos bem cedinho. – Uma menina de cabelos loiro escuro e compridos falava.

— Ignora a Noemi, ela é uma matraca mesmo. Tudo bem? – A menina de cabelos castanhos, ondulados e olhos verdes me abraça.

Eu ainda tinha um porta retrato com elas de quando éramos crianças, e posso dizer que elas envelheceram muito bem. Davam de dez a zero na beleza da Melissa, que já era por si só considerada muito bonita. Urgh! Pensando na Melissa de novo Maitê!? Credo!

Doces memórias de um coração curado Onde histórias criam vida. Descubra agora