Doces memórias de um coração curado

Viagem inesperada

— Deus, por favor, eu realmente não queria continuar na nossa igreja, talvez nem na nossa cidade! Atende a prece da sua filha que está em desespero! Por favor, esse meu frágil coração recusado não aguentaria ficar vendo o garoto que até ontem eu acreditava ser meu marido com outra menina.

Termino meu momento de devocional com essa oração desesperada, que veio do mais profundo anseio do meu coração nesse momento.
As férias de Julho haviam chego, para o bem da paz dos alunos do último ano do ensino médio! A última coisa que eu queria era estudar para o vestibular nas minhas férias – conselho que os professores deram – mas se preciso, utilizaria essa desculpa para faltar algumas reuniões da igreja. Eu perderia minhas férias estudando, mas me recuso a ter que encarar aqueles dois de novo.
Ouço alguém bater na porta, me tirando do meu mundinho pessoal.

— Pode entrar.

— Atrapalho filha?

— Não, já tinha terminado aqui.

— Eu e seu pai estávamos pensando em passar as férias de julho na casa da sua tia Iolanda. O que você acha?

— Passar as férias de julho naquele finzinho de mundo mãe? O que vamos fazer lá?

— Ah filha, lá tem muitas coisas legais para se fazer, como passear na praça principal, ver a vista do morro dos pinheiros e... – ela pensa um pouco – Tá legal, talvez não tenha muitas coisas interessantes para se fazer lá, mas tem suas amigas de infância! Lembra delas? Iolanda me disse que elas lembram de você, Noemi e Joana.

— Mãe as meninas devem estar super estranhas hoje, nem sei se em Pinheirinho pega sinal de wi-fi! Já pensou? Elas não vão saber o que é instagram, Twiter, imagina só as roupas que elas usam! Devem ser super cafonas! – Eu falo já imaginando duas meninas usando maria chiquinhas e roupas de várias estampas diferentes em um look só, chega a dar calafrios!

— Filha, não fale assim das pessoas! Não é porque elas não se vestem ou agem como os outros adolescentes de hoje que são chatas. – ela me olha com uma cara de repreensão e eu afundo na cadeira. – A tia Nanda disse que tem um grupo de jovens muito bacana na igreja dela. Tem um menino que até voltou das missões agora! Acho que vai ser bom para você fazer novas amizades cristãs. O nosso grupo de jovens também é interessante, mas acho uma boa ideia você conhecer amigos que tiveram experiências como a daquele menino, como era nome dele mesmo? – ela para e pensa um pouco – Há! Marco, o nome dele é Marco. – Ela diz dando um sorrisinho amarelo. Seu olhar estava longe, como se ela estivesse se lembrando das suas aventuras com a tia Iolanda, ela sempre me contava as coisas que havia vivido com os seus amigos da igreja quando ainda morava em Pinheirinho.

— A mãe, não sei.

— Maitê, eu quero ver sua tia, e acho que seria bom para você sair um pouco de casa, agora que está com esse ritmo de estudar para o vestibular. Aliás, essa é a única viagem que podemos fazer agora.

— Não! Definiti... –  derrepente me lembrei da situação em que eu estava, parece que Deus havia me respondido rápido demais, do nada aquele finzinho de mundo começou a me parecer atraente. – Quer saber? Vamos! Quero ver a tia Iolanda também.

No dia seguinte, lá estava eu, mais animada do que nunca arrumando minha mala, como se estivesse indo visitar a França, a diferença era que o lugar para qual eu ia, possivelmente não tinha wi-fi e era certamente muito, mas muito menor que a França. Aí pensando assim bate até um desânimo, né? Mas só de passar um mês sem ter que encarar Pedro e Melissa eu já estava radiante!
Não demorou muito para que eu terminasse de arrumar minha mala, não precisava de muito luxo, já que nem deve ter o que fazer lá. Chego na cozinha pronta e com a mala nas mãos e vejo minha mãe conversando com a tia Nanda. Papai não parecia muito animado, já que só faltava ela para entrarmos no carro e começarmos a viagem.

— Vamos mãe! Você já vai ver a tia Nanda! – Eu falo impaciente depois de dez minutos parada na cozinha, esperando elas terminarem a conversa.

— Nanda, vou ter que desligar, o pessoal aqui de casa é meio impaciente, logo chegamos aí! – Ela fala mandando vários beijos e desligando animada. Me parece que essas férias serão longas. Ânimo Maitê, ânimo!

— Filha, você avisou a Lana que estaremos fora da cidade até o final das férias? – esbugalho os olhos. Como eu poderia ter esquecido de avisar a Lana sobre isso? – Pela sua cara já vi que não. Avisa ela enquanto temos sinal, ela vai ficar chateada, vocês estavam planejando várias ideias para essas férias.

O que era verdade, combinamos no mínimo três festas do pijama regada de brigadeiro, pipoca e chocolate quente, algumas idas ao cinema e umas comprinhas no shopping.

Maitê Nogueira
Lana, consegui uma maneira de faltar todos os cultos e eventos de jovens!

Alana Martino
O que!? Com a tia Gláucia deixando? Impossível!

Maitê Nogueira
Sim, na verdade ela que deu a ideia 😉

Alana Martino
Miga, me conta que mágica você fez!?

Maitê Nogueira
Ela decidiu que passaremos as férias em Pinheirinho, com uma tia, tia Iolanda lembra? Já te falei dela.

Alana Martino
Mas amiga, e nossas programações de férias? ☹

Maitê Nogueira
Podemos fazer no final do ano. Pensa pelo lado positivo, vou poder superar o Pedro!

Alana Martino
Boa sorte para conseguir fazer isso em menos de um mês.

Parece que ela ficou chateada, mas teria que me perdoar, eu perdoei a mancada que ela deu comigo por causa da Melissa, ela teria que perdoar minha mancada também. Na verdade não era bem uma mancada, eu estava indo fazer algo mais importante agora, cuidar do meu coração!