As cabras da Tia Iolanda

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O dia estava amanhecendo, dessa vez decidi acordar cedo, já que depois de ter rejeitado o café da tarde fui direto dormir. Digamos que eu tenha o sono como meu escape, é só fechar os olhos com problemas e acordar sem eles. Funciona às vezes.
Era por volta das seis da manhã, vesti meu clássico jeans, um agasalho e uma bota country! Aproveitei que iria vir para o mato para usar minha skin agrogirl que a cidade grande me impossibilitava de usar.

— Bom dia Tia Nanda! – eu falo assim que avisto ela – Ué, o café ainda não está pronto?

— Sua mãe disse que faria o café hoje, diz ela que não está em uma colônia de férias e precisa ajudar mais, mas ela não levantou até agora. – Tia Nanda fala com um sorrisinho travesso.

— Ah. – Era aparente a decepção no meu rosto. Eu acordei seis horas da manhã e não podia me dar o luxo de um cafézinho? Obrigada Dona Gláucia!

— Calma querida, vamos comigo ordenhar as cabras e se ainda assim ela não tiver levantado eu uso minha carta na manga. – Ela solta uma piscadela para mim.

— Desde quando você tem cabras Tia Nanda!? Porque eu nunca vi elas? – Eu pergunto pasma. Cabras eram ordenhadas? Eu nem sabia que cabra dava leite!

— Faz uns três anos querida – ela dá uma risadinha – Você nunca as viu porque foi construído num terreno a parte que Seu Ôslavo me deu das terras dele, minhas cabras não caberiam nesse terreno pequeno que tenho.

A Tia Nanda considerava o terreno dela pequeno?? A casa dela dava fácilmente uma chácara!

— Bom dia meninas! Aqui está o café da manhã de vocês. – Tia Iolanda fala colocando sei lá o que as cabras comem no negócio que as cabras comem que também não sei o nome – Maitê, você pode me ajudar a ordenhar?

Vamos Maitê! Você consegue ajudar a Tia Iolanda, você veio até a caráter!

— Claro Tia Nanda! – me curvo para olhar a cabra nos olhos – Cabrinha, vem aqui – Eu começo a fazer um barulho com a boca, como se chamasse um cavalo, pelo menos acho que é assim que chamam cavalos. Será que funciona com cabras também? – Senhora cabra, vem aqui vem.

— Maitê – Tia Nanda me chama, mas como eu estava tendo êxito em minha tarefa eu ignorei.

— Isso cabrinha, pode vir. Ei, não faz isso! – eu falo ao ver que a cabra dá uns passos para trás e vem correndo na minha direção – TIA NANDAAAAAA!!!!! A CABRA TÁ TENTANDO ME MATAR! – Eu começo a correr e gritar ao ver que a cabra estava tentando me atacar.

— Maitê! Para de correr! Querida! Sobe em algum lugar, ficar correndo não vai adiantar! – Ouço a tia Nanda falar, mas estava tão nervosa que não achei nenhum lugar para subir, e só nesse meio tempo de olhar para procurar um lugar, a cabra me acertou em cheio e eu caí.

Ouço uma gargalhada estridente atrás de mim.

— Você..HAHAHAHAHA, vo..você está bem? – Marco aparece vermelho de tanto rir, sem conseguir se controlar.

Fala sério! Ele só aparece para me irritar e me ver passar vergonha???

— Maitê! – Tia Nanda aparece para ver como estou, aparentemente tentando segurar o riso também. Pelo menos ela foi mais delicada.

— Estou. Você está tentando revidar só porque eu fiquei brava no dia do telhado? Fala sério! – Eu falo irritada.

Será que esse menino não conseguia ser um cavalheiro? Eu estava estirada no chão e ele nem para me ajudar a levantar.

— Bom, eu não entendi o que eu fiz para te provocar aquele dia, mas eu não sou o tipo de pessoa que paga as coisas na mesma moeda ou deseja o mal para quem de alguma forma me prejudicou. Mas é que foi um show e tanto ver você fugir da cabra mais mansa da Tia Iolanda. – Ele rompe em mais uma gargalhada.

— Isso é sério tá legal? Eu poderia ter quebrado uma parte do meu corpo, ou essa cabra poderia ter me matado!

— Não exagere querida, Matilde não tem a capacidade de matar ninguém. Cabras costumam matar pessoas quando as lançam de uma grande altura ou quando se bate a cabeça em algum lugar, mas esse definitivamente não é o caso, já que você caiu na lama. – Ela fala com um olhar terno mas um sorriso travesso no rosto.

Eu me levanto batendo a grama grudada em mim, mas quanto a lama...eu estava em estado deplorável!

— Cabra idiota! – eu chingo o animal que ainda estava por perto – Não! Desculpa, desculpa! – Me escondo atrás do Marco ao ver que a cabra não gostou do meu elogio.

— Vem Matilde. – Tia Nanda chama a cabra que vai calmamente até o curral com ela.

— O que você fez para irritar a Matilde desse jeito? – Ele pergunta com um sorriso, ainda tentando não rir, e eu saio de trás dele, frustrada.

— Nada, só fui ajudar a Tia Nanda a ordenhar a cabra, mas aparentemente ela não gostou de mim.

— E você sabe como se ordenha uma cabra? – Ele arqueou as sombrancelhas ainda tentando não dar risada.

— Não, eu só deduzi que não fosse uma tarefa que precisasse de muitas explicações, tipo como se ordenha uma vaca.

— E a menina da cidade grande sabe como se ordenha uma vaca?

— Não é só colocar um balde em baixo e apertar onde sai o leite?

Ele começa a gargalhar de novo. Legal.

— Não, não é só apertar a vaca. – ele diz tomando fôlego – Ai, aí, é muito bom conversar com você, você é muito engraçada.

— Você quer dizer que é bom rir de mim na verdade. – Eu cruzo os braços irritada.

— Nada disso, você é legal, só acho que é irritada demais. O interior vai fazer bem para esse seu temperamento. – não sei se me ofendo ou se me sinto elogiada – Agora acho melhor você ir se trocar, deixa que eu ajudo a Iolanda.

— Hum, vou indo nessa então. – Eu saio me sentindo humilhada.

Entro na casa e sinto o cheiro do café fresquinho. Graças a Deus! Pelo menos uma coisa dando certo no meu dia.

— Filha!? O que aconteceu com você? – Minha mãe me olha, assustada com o meu estado.

— A cabra da Tia Iolanda me atacou. Mas estou bem, só estou toda suja. E ganhei um trauma também, nunca mais chego perto de uma cabra!

— Meu Deus querida, você ter certeza que está bem? Não tem nenhum arranhão? Não seria melhor levar você no médico? Vai que que você quebrou alguma coisa por dentro! – Ela começa a me analisar e a levantar os meus braços procurando um arranhão.

— Está tudo certo mãe, ela só fez com que eu me desequilibrasse. Na verdade para não mentir, meu bumbum está doendo da queda, mas só.

— A Matilde nem sabe como se ataca uma pessoa Gláucia, não sei porque ela atacou a Maitê. Eu não teria levado minha sobrinha para me ajudar com animais se eu não soubesse que eles eram dóceis. – tia Nanda aparece na cozinha. – Vim pegar mais um balde, as cabras produziram bastante leite hoje! – Ela sai de novo, animada.

— Iolanda! – Mamãe vai atrás dela, e eu, sem me preocupar mas ainda me sentindo humilhada, vou tomar um banho.

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