c a p í t u l o 20

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Everest

31 de Julho em Seattle

— Amiga, eu sou alguém com uma índole  questionável?

Fez-se um silêncio considerável antes que a risada dela tomasse a ligação.

— Alguns dias nesse lugar e já está duvidando de si?

Toquei meus lábios e olhei no espelho. Suspirei.

—  Sim.

Charlie caçoou.

— Ô baby, você é a única pessoa que conheço que tem direito de pecar um pouco — Falou divertida. — Não fez nada de errado na vida.

Revirei os olhos.

— Não falaria isso se soubesse.

— Só saberei se me contar — brincou — Está usando droga? Fumando charuto cubano? Se bem que o charuto não é tão ruim. Ou deu uma chance para o memorável cigarro do diabo?

Dei risada, ela me acompanhou.

Eu precisava contar pra alguém. Tirar aquele peso do peito e dividir o caos que estava acontecendo.

Estava tão agoniada que mal dormi e acompanhei só as primeiras aulas aquela manhã, então tive que voltar para casa, onde o silêncio – que achei que me ajudaria – na verdade fez tudo ficar pior.

Quando Henry se pôs de pé – no dia anterior – depois de me arrancar um segundo orgasmo, eu mal consegui abrir os olhos.

Ele me colocou sentada, amparando-me para não cair de cara no chão e me beijou suavemente, de modo que eu senti meu gosto em sua língua, em sua boca.

Logo após se afastar, ajeitou meu sutiã, demorando o olhar na minha cicatriz. Não tive reação para me esconder com meu corpo ainda com espasmos curtos.

Algo escuro passou em seus olhos por um instante durante o tempo que ele encarou. Henry desceu a blusa, cobrindo-me e logo me subiu os olhos para os meus.

— Não me ignore outra vez.

Foi meio que uma ordem e logo foi embora. Eu fiquei por mais um tempo, me recompondo e sentindo um vazio desconhecido se instalar em meu peito em decorrência do que aconteceu ali. Uma melancolia e, portanto, a tristeza súbita que me fez sentir vontade de chorar, como quendo se é abandonado. 

Depois que desci a mesa, notei a falta da calcinha. Estranhamente o sentimento de vazio e a melancolia diminuiu.

Talvez porque lá no fundo, eu sabia que ele tinha algo meu e, mesmo sem querer admitir, eu tinha certeza que ele voltaria.

~

— Tem um cara — Comecei, sem saber que partes, convenientes, lhe contaria.

Respirou, pega de surpresa.

— Baby, isso sim é uma novidade.

Olhei para a porta do banheiro, sabendo que Denali logo chegaria em casa e poderia entrar no meu quarto. Fechei, voltando para a pia.

— Eu o conheci no avião. Ele, bem, não é um cara comum — Amigo íntimo dos códigos penais, e não de um jeito bom. Era o que eu queria dizer — Achei que nunca mais o veria, mas ele é conhecido da minha irmã e estuda na SU também.

— Me parece destino. — falou empolgada.

Gemi em frustração. Porra, não. Nao diria aquilo se eu lhe contasse tudo.

EFEITO DO CAOSOnde histórias criam vida. Descubra agora