SN.
Chegar naquela casa... foi como abrir uma caixa de memórias que eu tinha enterrado há anos. Cada detalhe parecia gritar lembranças, da porta até a pequena rachadura no canto da parede da entrada.
Eu já tinha estado ali. Quando ela era só uma garota. Pequena, curiosa... e completamente inconsciente de que nossas vidas estavam prestes a se amarrar de um jeito tão insano, tão intenso, tão definitivo.
Lembrava bem de como, na época, o jeito que o pai dele me olhava.Como se eu fosse só "a amiga dele". Ou pior... uma possível distração, um erro temporário do filho rebelde. Ele nunca disse isso em voz alta, claro. Mas eu via. Nos olhares. No jeito meio ríspido, meio desconfiado.
Mas agora... era diferente. Completamente diferente.
Yoongi apertou forte minha mão assim que subimos os três degraus da porta.
- Pronta?.- perguntou, olhando nos meus olhos. A voz dele estava firme, mas eu conhecia cada nuance daquele tom. Ele também estava nervoso.
- A pergunta é... eles estão?.- rebati, meio nervosa, meio provocando.
Ele riu de canto, aquele sorriso que só aparece quando ele tenta disfarçar o nervosismo. Respirou fundo e apertou a campainha.
O som ecoou pela casa. Por um segundo, quase achei que ninguém fosse atender. Até ouvir o destrancar da maçaneta.
A porta se abriu.
A senhora Min ficou estática. Seus olhos me fitaram, e por um instante, parecia que o mundo tinha parado.
- SN... - a voz dela saiu baixa, quase um sussurro, trêmula. Ela levou a mão à boca, completamente em choque. - Meu Deus... você tá... tão crescida...
Sem nem perceber, Yoongi e eu nos curvamos, fazendo aquela reverência tradicional, com a cabeça quase tocando o chão. Um gesto automático, mas carregado de respeito... e, principalmente, de significado.
Ela se abaixou rápido, quase tropeçando nas próprias pernas, e segurou meu rosto entre as mãos.
- Você cresceu... tanto. - Sua voz tremia. - Você tá... você tá aqui... mesmo.
- Eu senti sua falta, senhora Min. - minha voz falhou, embargada. Meus olhos já estavam marejados, e, quando ela me puxou pra levantar, as lágrimas já desciam.
O senhor Min, atrás dela, manteve o mesmo olhar sério, braços cruzados, expressão fechada... mas até ele não conseguiu disfarçar o choque.
- Nunca... nunca imaginei... - disse, pigarreando, claramente desconcertado. - Que vocês dois... - apontou pra nós, fazendo um gesto vago - ...estariam de volta aqui. Assim.
- Nem eu. - Yoongi respondeu, apertando minha mão, com aquele sorriso torto, meio debochado, meio carinhoso. - Mas olha só... contra todas as probabilidades sobrevivemos. Crescemos. E... - virou o olhar pra mim, e meu coração quase parou -...agora estamos construindo a nossa própria família.
A senhora Min não resistiu. Me puxou pra um abraço apertado, desses que esmagam, que curam, que fazem qualquer barreira desmoronar.
- Você... você fez meu filho mudar tanto...- sussurrou no meu ouvido. - Eu lembro de você, sentada no sofá, toda cheia de atitude, olhando tudo com aqueles olhos curiosos... E agora... olha pra você.
- Acho que... sempre foi pra ser. - respondi, rindo, mas minha voz falhou no final, carregada de emoção.
O senhor Min respirou fundo, cruzou os braços, mas não segurou o comentário.
- E esse aí... - apontou com o queixo pra minha barriga.-..já deve estar vindo com a teimosia dos dois. A junção perfeita do caos.
Yoongi soltou uma risada curta, passando a mão pela minha barriga, com aquele olhar bobo de pai apaixonado.
- Pode apostar que sim. Vai ser uma mini versão nossa... e Deus ajude o mundo.
Fomos pra sala. Era surreal. A senhora Min não largava minha mão, perguntava de tudo, como eu tava me sentindo, se tava me alimentando direito, se Yoongi tava cuidando de mim, se eu tava descansando... e, claro, dava bronca nele cada vez que ele soltava alguma piada sarcástica.
- Aish, Yoongi!.- ela ralhou, batendo de leve no braço dele. - Você sempre foi cabeça dura... Mas agora não é só sobre você, entendeu? É ela... e esse bebê.
Yoongi só rolou os olhos.
- Eu já tenho duas pessoas me controlando... ela e você. - respondeu, segurando o riso, cruzando os braços como uma criança emburrada.
O pai dele ficou mais na dele, como sempre. Observava. Mas, de vez em quando, deixava o olhar escorregar discretamente pra minha barriga... e, quando achava que ninguém tava vendo, o canto da boca subia. Quase um sorriso. Quase.
Quando tirei o ultrassom da bolsa e mostrei, a senhora Min quase perdeu o ar. Levou as mãos à boca, os olhos marejados.
- Nosso neto... ou neta... - sussurrou, passando os dedos delicadamente pela imagem em preto e branco. - Eu nunca... nunca imaginei que veria esse dia.
E então, algo aconteceu. O senhor Min se aproximou, meio sem jeito, pigarreou, e, pela primeira vez na vida, pediu.
- Dá... licença?.- apontando discretamente pra minha barriga.
Assenti, surpresa. Ele abaixou um pouco, colocou a mão, de forma hesitante, mas cuidadosa. E ficou ali, em silêncio, sentindo.
- Se puxar o pai... vai dar trabalho. - disse, resmungando, mas com um tom carinhoso que eu nunca imaginei sair da boca dele. - Mas se puxar você, garota... Vai ser forte. Forte demais.
As lágrimas desceram. As mãos de Yoongi apertaram as minhas, e quando olhei pro lado... ele também tava chorando.
- Somos... uma família agora. - ele murmurou, puxando minha mão e beijando ela. - De verdade.
E naquele momento... Eu tive a certeza absoluta de que, não importa o que o mundo jogue contra a gente... nada, absolutamente nada, vai ser capaz de quebrar isso aqui.
Continue..

VOCÊ ESTÁ LENDO
O leilão
FanfictionMin Yoongi foi o meu primeiro amor. E também o meu maior sofrimento. Éramos dois jovens tolos que acreditavam que o amor bastava para enfrentar o mundo. Mas meu pai fez questão de me provar o contrário. Ele arrancou Yoongi da minha vida com a mesma...