"𝙀𝙨𝙨𝙚 é o meu presente? Mas, é um... 𝙜𝙖𝙧𝙤𝙩𝙤!"
"Eu sempre achei que você preferia meninos do que meninas? Se não gostou dá pra trocar. Enfim! Você não viu as orelhas? Ele é um híbrido. Feliz aniversário!"
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Jaehyun sempre quis atuar.
Pensava nos famosos sitcons que ele achava que se daria muito bem por seu talento de fazer uma piada e manter o rosto neutro – ou ele achava que mantinha (Johnny sempre dizia que dava pra ver o sorriso dele antes mesmo de ele fazer a piada, quando ele já estava se achando engraçado na própria cabeça).
Pensava também nas novelas na televisão – sem ser metido, ele escutou a vida inteira que ele parecia um astro, "ator principal bonitão". Mesmo assim, ele se imaginava em papéis onde era o excluído, porque era muito mais comovente histórias sobre dar a volta por cima.
Contudo, diferentemente de muitos dos seus colegas de profissão, Jaehyun não tinha nascido excepcionalmente rico. Nem parcialmente, na verdade. Ele só conseguiu alugar um apartamentinho para si mesmo depois de cinco anos trabalhando, e ainda guardava qualquer lucro na poupança por medo de ficar sem renda eventualmente.
Esse eventualmente podia muito bem vir de uma demissão por justa causa se os chefões da firma descobrissem que ele estava trabalhando num caso à parte.
Ele tinha meditado longamente sobre isso sozinho e com Doyoung e Johnny, se era uma boa decisão. Porque eles podiam simplesmente ter pedido para a firma se eles aceitariam pegar o caso. O problema era o perigo de ela dizer não por falta de dinheiro garantido (eles sinceramente não se importavam se todo o caso não rendesse um real, eles só se importavam com a segurança dos híbridos). O problema maior ainda é se a firma ficar do lado da NEO porque, eles sim, iam gastar uma fortuna em advogados para impedir seu fechamento.
Jaehyun sempre quis atuar. E por isso sempre praticou sozinho no quarto (ele ia dizer que parou de fazer isso depois de virar adulto, mas seria uma mentira). E por isso achou que ia ser algo fácil conversar com o CEO sobre híbridos sem deixar claro suas intenções.
Quando escutou o homem dizer que "estava pensando em comprar um, só por diversão", precisou de todo o talento do mundo para manter o rosto indiferente.
Essa foi a causa definitiva de terem batido o martelo na decisão de não contar à firma o que estavam fazendo. Já tinham planejado tudo.
Kun faria a denúncia na delegacia, e ia alegar que não tinha meios de pagar pela defesa. Como existia uma vítima, Lucas, que sofreu abuso e confinamento, era garantido que o Estado lhes fornecesse advogados.
E era possível, e legal, que qualquer advogado se voluntariasse para isso.
Então, quando eles se voluntariassem, a firma podia até não gostar. Podia até demiti-los. Porém, não podia impedir que eles trabalhassem a favor de Kun no tribunal.
Jaehyun sempre quis atuar.
Quem sabe, se fosse demitido, podia seguir um novo caminho de vida.
Lá no início, quando começou a contar toda sua história de não-sou-rico-como-meus-colegas, ele queria chegar nesse ponto: ele só tinha feito direito porque seus pais insistiram muito que ele fizesse uma das profissões-que-tem-futuro. Por sorte, ele gostou. Sempre foi bom em várias matérias na escola mesmo.
