19 - Ode aos poetas esquecidos

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Frank fechou o alçapão acima de nossas cabeças no exato momento em que começamos a descer pela estreita escada

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Frank fechou o alçapão acima de nossas cabeças no exato momento em que começamos a descer pela estreita escada.
Cada passo ecoando na escuridão abafada parece ser pior do que o anterior. O som dos gritos e do caos lá em cima se esvaece e o ar fica cada vez mais pesado, crasso e úmido.
As sombras se alongam a nossa volta, carregando um cheiro metálico, quase como o de sangue.
Estou sendo enterrada viva.

Quando meus pés alcançam o chão, eu me livro das luvas e olho para minhas mãos, trêmulas, sem controle.
Uma pressão esmagadora passa a cingir todo o meu corpo. As paredes do túnel estão se fechando ao nosso redor? Isso é possível?

— Nicolina? — Thomas me chama a meio metro de distância, seus olhos parecem examinar cada centímetro do meu rosto — O que foi?

Frestas de luz invadem o lugar, finalmente enxergo as paredes estáticas, afastadas de mim. Por que minhas costas ardem? Por que meu peito dói?

— Nick, fala comigo — ele pede, sua voz soa apreensiva, falha.

Thomas avança um passo e eu vacilo dois pra trás.

Eu vou morrer? Eu vou morrer. Que maneira horrível de morrer.

— Não consigo... Não consigo respirar! — Minhas mãos vão para as costas do vestido, tento alcançar os botões, mas em vão.

Estou tremendo demais. Eu vou morrer aqui. Thomas vai me ver morrer. Não quero que ele veja isso.
Não me lembro da última coisa que eu disse para o Fred. Não me lembro da última coisa que eu disse para a Harper ou da última vez que falei com o Dylan sem ofendê-lo muito intencionalmente.
Eu briguei com a Rosana mais cedo, virei a cara para a vovó Ophelia quando ela concordou com a filha... Megan e Maya não vão gostar de saber que eu morri assim. Eu disse que veria o Jack e o tio o Albert mais tarde. Prometi para a Lou e o Ashton que iria ver como ficou a reforma do orfanato. E o Harry? Pobre Harry. Ele vai se culpar. Vai se culpar por não ter me acompanhado o dia inteiro.

Eu não posso morrer aqui.

— Thomas — murmuro, a voz quase inaudível — O vestido, o espartilho... Não consigo... — As palavras perecem nos meus lábios.

Estou sem forças, sem ar, minha visão está turva, letárgica.

E ele não hesita.

Sem dizer uma palavra, sem grandes cerimônias ou anuências, Thomas se aproxima e seus dedos rapidamente tracejam uma linha pelas minhas costas enquanto desabotoam o vestido.
Eu me encurvo com uma das mãos sobre a minha barriga, ainda tentando puxar o ar.

A culpa é do vestido. A culpa é do vestido. Minha mente ressoa.

Somente quando ele começou afrouxar os laços do meu espartilho, pude sentir o oxigênio voltando aos meus pulmões em fragmentos dolorosos. Afiado, cortante. Não deveria ser assim.

Como Salvar os Perfeitos Desastres - 02Onde histórias criam vida. Descubra agora