12 - Neurologistas e a outra criatura tenebrosa

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O mundo está desabando lá fora

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O mundo está desabando lá fora.
As gotas de chuva colidem com as vidraças da cantina desabitada do colégio.

Que coisa mais esquisita, estar aqui agora.
As cores estão se descolando das paredes e recolorindo tudo ao meu redor.
Estranho, muito estranho e não deveria ser.

Bebo mais alguns goles d'água e respiro.

Não. Não melhorou.

Durante os intervalos entre as aulas visito a cantina com frequência o bastante para a Sra. Emiliana se recusar a vender outro copo de café, já que de acordo com ela "sete copos são demais".
Esse é um lugar comum para mim, e estar aqui deveria estar soando minimamente habitual para os meus neurônios, e não está.

Sinto como se eu fosse uma minhoca. Não no sentido literal dessa frase, mas num cenário em que preciso enfrentar o primeiro dia de aula no Salgueiro e todo mundo está falando a respeito.
Meu corpo está molenga e gravitando, mas de verdade, não acredito que foi pelo fato de eu ter vomitado.
Pode ser porque estou sentada há uns dez minutos e ainda não ingeri nenhuma bebida com cafeína. E, porque o Thomas está na cadeira a minha frente.

Apesar das feições idênticas as do Jack, jamais imaginei estar na cafeteria do colégio com o Thomas, nessa ou em qualquer realidade.
A semelhança entre ele e irmão não tem colaborado para eu me sentir a vontade, muitíssimo pelo contrário, me lembra o porquê tenho sentido tanta raiva.

Ele não disse uma palavra desde que comprou a água e subornou o inspetor Cornélio para para não nos dedurar e devolver o passe-livre ao professor Gadner.
É óbvio que não gosto disso, mas eu insisti em não ir para a enfermaria e Thomas ameaçou berrar no meio do corredor se eu não o acompanhasse.

Faz alguns minutos que ele tem me assistido tamborilar os dedos pela pequena mesa redonda de madeira, e beber um gole ou outro da garrafinha de água.
Tem sido bem inexpressivo desde que limpou os sapatos respingados, que para a sorte dele, são feitos de couro sintético impermeável.

Que horror. É humilhante demais, mesmo para mim.

Eu poderia ter esbarrado em qualquer outra pessoa, em qualquer outro aluno, mas colidi justamente com o Thomas. É um pesadelo.
Adoraria poder voltar no tempo e evitar toda essa situação ou poder me transformar em poeira e me desfazer com a chuva. É pedir demais?

Pensando melhor, eu devia ter ido para o ambulatório, assim não precisaria lidar com ele analisando cada ponto do meu rosto.
Será que vai dizer alguma coisa? Não, por favor. Não quero que seja o primeiro a falar sobre esse incidente.
Talvez eu deva arrancar essa oportunidade dele e aproveitar para dizer algo que extermine o assunto.

É. Preciso fazer isso.

— Acho que foram as balas de mirtilo — falo de uma vez — Não gosto tanto assim de mirtilo, mas peguei uma caixinha hoje de manhã e fui comendo uma atrás da outra. Não deveria ter comido tanta porcaria e nem sei porque fiz isso, mas acho que foi o motivo de... Você sabe.

Como Salvar os Perfeitos Desastres - 02Onde histórias criam vida. Descubra agora