Caixa

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Ela começou sua nova vida pondo-se em pé, envolvida pela escuridão fria e pelo ar poeirento e rançoso.

Um tremor súbito abalou o piso sob os seus pés, metal rangendo contra metal.

O movimento inesperado a derrubou, e ela recuou engatinhando, o suor brotando em gotas da
testa, apesar do ar frio.

Suas costas se chocaram contra uma rígida parede metálica; ela Esgueirou-se colado nela até chegar a um canto do compartimento.

Mergulhando em direção ao chão, encolheu as pernas bem de encontro ao corpo, esperando que os olhos se acostumarem logo com a escuridão.

Com mais um solavanco, o compartimento moveu-se bruscamente para cima, como um velho elevador num poço de mina.

Sons ásperos de correntes e polias, como os ruídos de uma velha usina de aço em funcionamento, ecoaram pelo compartimento, abalando as paredes com um lamento vazio e distante.

O elevador sem luz oscilava para frente e para trás na subida, o que azedou seu estômago até lhe causar náuseas; um cheiro semelhante ao de óleo queimado invadia-lhe os sentidos, fazendo-o sentir-se pior.

Teve vontade de chorar, mas as lágrimas não vinham; só lhe restava ficar ali sentada, sozinha, esperando.

"O meu nome é Sara", ela pensou.

Essa era a única coisa de que conseguia lembrar sobre a própria vida.

Não entendia como era possível.

A mente funcionava sem falhas, tentando entender onde se encontrava e qual era a situação.

Informações desencontradas inundaram-lhe os pensamentos, fatos e imagens, lembranças e detalhes do mundo e de como as coisas eram.

Imaginou a neve sobre as árvores, descendo por uma estrada coberta de folhas, comendo um hambúrguer, a lua lançando o seu brilho pálido sobre uma planície gramada, nadando em um lago, uma praça movimentada da cidade com centenas de pessoas preocupadas com os próprios problemas.

E ainda assim não sabia de onde vinha, ou como foi parar naquele elevador escuro, ou quem eram os seus pais.

Nem sequer se lembrava do próprio sobrenome.

Imagens de pessoas vieram de repente ao pensamento, mas não reconheceu ninguém, os rostos substituídos por
m

anchas de tonalidades fantasmagóricas.

Não era capaz de se recordar de ninguém que conhecesse nem de uma única conversa.

O compartimento continuava a subir, sacolejando; Sara já não se importava com o incessante rangido das correntes que a puxavam para cima.

Um longo tempo se passou.

Os minutos viraram horas, embora fosse impossível saber com certeza o tempo transcorrido, já que cada segundo parecia uma eternidade.

Não! Ela era mais esperta que aquilo!.

Confiando nos próprios instintos, concluía que estava subindo por cerca de meia hora.

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