A Forks High School tinha um total assustador de apenas 357 - agora 358 - alunos; em Phoenix, havia mais de setecentas pessoas só do meu ano. Toda as crianças daqui foram criadas juntas - seus avós engatinha-ram juntos.
Eu seria o garoto novo da cidade grande, uma curiosidade, uma aberração.
Talvez, se eu parecesse um verdadeiro garoto de Phoenix, pudesse tirar proveito disso. Mas, fisicamente, nunca me encaixei em lugar nenhum. Eu devia ser bronzeado, atlético, louro - um jogador de vôlei ou um líder de torcida, talvez -, todas as coisas compatíveis com quem mora no vale do sol. Em vez disso, apesar do sol constante, eu tinha uma pele de marfim. E não tinha os olhos azuis ou o cabelo ruivo que poderiam me servir de desculpa. Sempre fui magro, mas meio mole, e obviamente não era um atleta; não
tinha a coordenação necessária entre mãos e olhos para praticar esportes sem
me humilhar - e sem machucar a mim mesmo e a qualquer pessoa que se
aproximasse demais.
Quando terminei de guardar minhas roupas na antiga cômoda de pinho,
peguei minha nécessaire e fui ao único banheiro para me lavar depois do dia
de viagem. Olhei meu rosto no espelho enquanto escovava o cabelo úmido e
embaraçado. Talvez fosse a luz, mas eu já parecia mais pálido, doentio. Minha pele podia ser bonita - era muito clara, quase translúcida -, mas tudo
dependia da cor. Não tinha cor nenhuma ali.Ao ver meu reflexo pálido no espelho, fui obrigado a admitir que estava mentindo para mim mesmo. Não era só fisicamente que eu não me adaptava.
E quais seriam minhas chances aqui, se eu não conseguisse achar um nicho
em uma escola com trezentas pessoas? Eu não me relaciono bem com as pessoas da minha idade. Talvez a verdade seja que eu não me relaciono bem com as pessoas, e ponto final. Até a minha mãe, de quem eu era mais próximo do que de qualquer outra pessoa
do planeta, nunca esteve em sintonia comigo, nunca esteve exatamente na mesma página. Às vezes eu me perguntava se via as mesmas coisas que o
resto do mundo. Talvez houvesse um problema no meu cérebro.
Mas não importava a causa. Só o que importava era o efeito. E amanhã
seria só o começo.
Não dormi bem naquela noite, mesmo depois de chorar. Ao fundo o ruído constante da chuva e do vento no telhado não desaparecia. Puxei o velho cobertor xadrez sobre a cabeça e mais tarde coloquei também o travesseiro. Mas só consegui dormir depois da meia-noite, quando a chuva finalmente se aquietou
num chuvisco mais silencioso. Só o que eu conseguia ver pela minha janela de manhã era uma neblina densa, e podia sentir a claustrofobia rastejando em minha direção. Jamais se podia ver o céu aqui; parecia uma gaiola.
O café-da-manhã com Charlie foi um evento silencioso. Ele me desejou boa sorte na escola. Agradeci, sabendo que suas esperanças eram vão. A boa sorte geralmente me evitava. Charlie saiu primeiro para a delegacia, que era
sua esposa e sua família. Depois que ele partiu, fiquei sentado na velha mesa
quadrada de carvalho, em uma das três cadeiras que não combinavam, e
examinei a pequena cozinha, com as paredes escuras revestidas de madeira,
armários de um amarelo vivo e piso de linóleo branco. Nada havia mudado.
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CREPÚSCULO (Jikook)
Ficção AdolescenteEstá obra é inspirada nos livros. Com adaptações minhas Nunca pensei muito em como morreria - embora nos últimos meses tivesse motivos suficientes para isso. - mas, mesmo que tivesse pensado, não teria imaginado que seria assim. Olhei fixamente...