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Eu tinha passado na faculdade que eu queria, no meu curso dos sonhos, tava morando na capital bem longe da minha família. A vida é uma maravilha não é mesmo? Então, aí que tá, a vida não é o morango que achei que seria.

Assim que cheguei me lasquei bonito procurando um lugar pra ficar que aceitasse cachorros, já que o desquerido do meu genitor simplesmente decidiu renovar o contrato de aluguel da casa, que era minha aliás, mesmo sabendo que o combinado entre ele e minha mãe foi: Roberta vai pra capital então ela vai ficar na casa que cê deu a ela depois que a gente se separou.

Ele deu uma de doido e resolveu renovar com o inquilino por mais um ano, ou seja, ou eu achava um lugar ou teria que desistir do curso por agora. Sim, deixar minha Suzy em Brodowski não era uma opção, somos grudadas e certeza que iamos entrar em depressão e morrer. Pela cachorra eu dou minha vida graças a Deus.

Enfim, até aí tudo beleza, surtei com meu pai mas consegui um lugar pra ficar, era uma república então tava ótimo pro meu bolso. Tava tudo ótimo, tudo incrível, fiz amizades sensacionais e a vida tava um morango até que não sei como inventaram que eu fiquei com o namorado da Mariana, uma das meninas da república, deu a maior treta, neguei tudo mas ela não acreditou em mim, o safado do namorado dela se justificou dizendo que eu, euzinha aqui, dava em cima dele e ele me rejeitava, sendo que era justamente o contrário.

O filho da puta dava em cima de mim na cara dura, eu fugia dele como diabo foge da cruz em respeito a ela e no final ainda fui taxada de talarica e a corna safada, Mariana, fez a cabeça das meninas contra mim e fui expulsa da república. O mais triste de tudo nem foi ter ficado sem teto mas sim perdido uma amiga, ela foi a primeira amizade que fiz quando cheguei aqui.

E aí, depois de toda treta começou a minha busca implacável por um lugar pra ficar, nisso tive que passar um tempinho na casa da minha tia paterna, que é uma maluca que com toda certeza precisa ser internada. Vai me desculpar aí movimento antimanicomial mas aquela dali só internando mesmo.

E agora me perguntam: ah, por que não aluga um apartamento até o contrato do aluguel da casa vencer? Bom, vejamos, deve ser porque sou pobre!? Um aluguel de um cativeiro nos confins do mundo com apenas 1 quarto e 1 banheiro já era todo o dinheiro que eu ganhava do aluguel da casa e eu teria que sobreviver de sol e água tal qual uma planta. Então essa não era uma opção.

E ai, me perguntam novamente: tá mas e seu pai? O bonito tá morando no Paraguai com a piranha com quem ele traiu minha mãe. Tá bem feliz com a nova família de comercial de margarina dele que nem lembra da filha. Aliás, tenho pra mim que ele estendeu o contrato de aluguel pra não ter que me pagar a pensão do seu bolso, já que a anos com esse combinado o dinheiro do aluguel vinha pra mim, minha vó também acha isso mas minha mãe, pobre corna, ainda acredita que o ex marido não é tão ruim assim. Coitada.

—Muito obrigado primo, sério mesmo, sei nem como te agradecer por ter me deixado ficar aqui até as coisas se resolverem.— sorri terminando de dobrar umas roupas, eu ainda estava em processo de mudança.

—Que isso prima, família é pra essas coisas mesmo, nem precisa agradecer. Cê sabe que é tipo uma irmã pra mim.— sorriu de volta se jogando em minha cama, pelo menos a cama tava montada.

Como Deus é mãe não pai, porque pai abandona, finalmente achei uma solução para os meus problemas. Meu primo Otávio morava com uns amigos a um tempo em Guarulhos, ficava um pouquinho distante da faculdade mas nada comparado a morar no cu do mundo chamando Brodowski, nada contra minha cidade amo ela, mas porra, longe pra caralho.

Enfim, Otávio comentou com a mãe dele que um de seus colegas de quarto havia saído pra ir morar com a namorada e aí minha tia falou pra minha mãe e as duas armaram da gente morar juntos. Sei bem que o intuito da minha mãe foi ter alguém pra ficar de olho em mim e da mãe dele era ter uma x9 que fosse falar tudo que ele aprontasse. Unimos o útil ao agradável e aqui estou eu dividindo a casa com três homens, dois que nem conheço.

The Hater -Apollo McOnde histórias criam vida. Descubra agora