caixa de memorias

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Ana Narrando

Depois do que aconteceu ontem eu simplesmente entrei em choque, não sabia o que fazer ou se deveria fazer algo.

Os meninos saíram muito cedo para trabalhar, então nem os vi.

Amanhã eu voltaria às aulas de dança e estava muito animada, parecia aquelas crianças no primeiro dia de aula.

Tinha saudade de dançar, sentia falta de me conectar com a música e deixar meus pés no controle.

Como ia ficar mais corrido por conta do atraso que eu tive, resolvi faxinas o apartamento.

Assim que terminei de tomar café, me troquei, peguei os produtos de limpeza e me preparei.

- Bora faxina Jack- Digo olhando para o mesmo.
Ele late e volta para sua caminha, onde se deita.

- Folgado, acha que vai encontrar uma cadela preguiçoso desse jeito?!- Pergunto irônica.

Jack apenas vira o focinho para a parede e dorme.

Olha que cachorro abusado?!

[...]

Tinha limpado todo a apartamento e já havia almoçado.

Resolvi passar um pano por fora dos guardas roupas, pois já estava com poeira.

Limpei o meu e ele estava branquinho, parecia que era novo. Então fui limpar o do delegado.

Peguei uma escadinha que tinha na lavanderia para limpar em cima do guarda roupa, tirar o pó de lá que pode atacar a rinite.

Subi e assim que comecei a limpar senti algo lá em cima. Era grande e aparentemente não era um bicho.

Com muito esforço eu tirei a coisa lá de cima e coloquei no chão.

Era um caixa grande e preta, toda empoeirada.
Fiquei em dúvida sobre abrir ou não, até por que era algo pessoal do Gustavo e não era da minha conta.

Mas como uma bela brasileira curiosa eu abri a caixa e fiquei surpresa com o que vi.

Eram papéis, muitos papéis.

Em cima deles tinha uma foto. Era uma família, uma mulher que aparentava ter 26, um homem de 30, uma menininha de 3 e um menino com 10.

Os pais eram novos porém, cansados, com cara de acabado, com olheiras grandes, marcas de expressões e olhares vazios. A mulher tinha alguns hematomas pelos braços.

A menininha era baixa, estava abraçada com um ursinho. Ela estava com uma expressão triste e parecia desnutrida.

O menino também tinha marcas pelo corpo, olhar vazio, tristonho e estava muito magro, dava para ver os ossos do braço e do pescoço pela foto.

Eu não acho que a magreza era de família, pareciam mal cuidados, passando por necessidade.

Eu conhecia aquele garotinho, reconhecia alguns detalhes de seu rosto.

Gustavo...

Era ele na foto. Provavelmente aquela era sua família. Seu pai, sua mãe e sua irmã.

Ver aquela foto fez meu peito arder e a curiosidade só aumentou, então eu li os papéis da caixa.

O objeto que estava em cima do guarda roupa do delegado era uma caixa... caixa de memórias. Só que as memória guardadas não eram nada boas.

Reparo no ursinho  que tinha na caixa. Era o mesmo que o que a garotinha segurava na foto.

Em meio a leitura dos papéis eu sinto lágrimas descerem pelo meu rosto.

Ali continha a sua história, a história da sua família.
Naqueles papéis tinham vários boletins de ocorrência, depoimentos, fotos de hematomas de corpos diferentes e três cartas de óbito.

Li todos os papéis, um por um. E cada vez que eu lia em sentia meu peito doer, meu estômago se revirar com a história sangrenta daquela família.

Até eu ver um papel.

Era um boletim de ocorrência para o Gustavo, em nome de Jenifer Nascimento. Ocorrência: Violência doméstica.

É o que?!

Me assustei ao ver o motivo do boletim, mas li os depoimentos do caso, as provas apresentadas, testemunhas e vi muitas controvérsias no depoimento da tal Jenifer e de suas testemunhas.

Fiquei aliviada ao ver a verdade da história, a máscara da mentirosa cair.

Ele não fez nada...

Ele não machucou ela...

Fui tudo um plano dela.

Ela fui presa por acusações falsas, por mentir para a justiça, tentativa de suborno e ameaça contra algumas das testemunhas dele e dela.

Graças a Deus ele não fez nada, se não eu teria que fugir de novo.

Depois de me recuperar de tudo que eu li, eu guardo as coisas no mesmo lugar e vou tomar um banho.

Reflito sobre tudo que aconteceu nessas 24 horas, as coisas que eu descobri sobre o passado do Gu e decido fingir que não vi nada. Se ele se sentir confortável um dia para falar eu vou ouvir a sua história contada por ele mesmo, por mais que eu saiba que ele foi a vítima.

Assim como eu.

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Meu Delegado | AdaptaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora