19 | Narração.

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Jake e Riki caminhavam juntos pelo rio Han, não fazia muito tempo que o pai do Nishimura tinha os levado até lá. Seguiram até uma árvore perto da ponte e sentaram debaixo dela, encostados no tronco. O japonês nada disse, estava ali apenas para escutar o que o Shim tinha a dizer, mas ele estava com medo de desabafar com Riki, assim como sempre teve medo de desabafar com seu pai e Sunghoon.

— Então? – Riki começou, tentando fazê-lo dizer algo.

— Briguei com minha mãe. – disse de uma vez. — Eu falei tudo que tinha vontade, que estava guardado e... falei pro meu pai o que ela fazia comigo.

— E o que ela fazia com você?

— Bom... eu nunca recebi amor materno, tudo que recebia era palavras e ações dolorosas. – esfregou as mãos nos próprios braços, lembrando daquelas sensações horríveis. — Meu pai sempre foi carinhoso, mas nunca notou a maldade que a esposa dele fazia comigo, e é claro que eu também não tinha coragem de dizer. Ele acreditou que comecei a namorar com você porque eu e Sunghoon não nos amávamos mais.

Riki se manteve em silêncio ouvindo o que ele dizia, tinha medo de perguntar algo e Jake o achar intrometido demais.

— Ela me bateu assim que disse o que estava guardado, e jogou um vaso de flores em mim e no meu pai quando ele acreditou em mim e não nela. Depois os empregados lá de casa foram pra cima dela tentando impedir que ela tentasse matar um de nós, porque ela segurava um caco de vidro.

— Meu Deus, Jake! Eu nunca imaginei que sua mãe fosse tão maluco assim. Eu sinto muito! – tocou o ombro do Shim, fazendo um carinho leve ali.

— Eu já estou acostumado com isso, eu sempre fui o saco de bancadas dela mesmo. Meu pai que nunca viu esse lado dela. – deu de ombros.

Eles ficaram em silêncio após isso, Jake tentava não chorar como havia feito mais cedo, e Riki notou o quanto o rosto dele estava vermelho e inchado, mas não disse nada. O sol estava quase se pondo, alguns postes de luz começaram a clarear a cidade e uma apresentação de dança de pássaros estava passando no céu.

Aquela era a primeira vez que saiam juntos por livre e espontânea vontade, nas outras vezes era apenas por obrigação para impressionar os seus pais e mostrar para as pessoas que eram um casal feliz, mas nem chegavam perto de ser. Não conseguia fingir nem um pouco que eram namorados, até porque eles não eram compatíveis como eram com seus ex namorados.

E quando escureceu, Riki segurou na mão do Shim e o puxou para andarem por ai. Atravessaram o rio pela ponte e passaram por algumas pessoas que iam para o trabalho ou estava voltando dele. Encontraram uma barraquinha de sorvete, onde o Nishimura comprou raspadinha para eles comerem.

— O que o casal vai querer?? – o sorveteiro perguntou, e eles se olharam ao ouvir a palavra "casal".

Fizeram seus pedidos e sentaram em uma das mesinhas que tinha ali para aproveitar suas raspadinhas. E enquanto o vento frio batia em seu rosto, Jake sentiu o cheiro de um perfume familiar adentrar suas narinas, e ao ouvir a voz de quem vinha aquele cheiro, seu coração acelerou.

— Eu vou querer um de mirtilo!

Ele olhou por cima dos ombros para ter certeza absoluta que era quem ele estava pensando, batendo os olhos em Sunghoon e Jungwon juntos ali. Só podia ser ironia do destino. E Jake não foi o único a perceber aquelas presenças ali, Riki tinha sido o primeiro a notar a chegada dos dois e não conseguiu desviar o olhar do ex namorado, este que também não tirou os olhos do japonês.

— Acho melhor nós irmos. – Jake disse, atraindo a atenção do mais novo.

— Eu sei que você quer ir falar com ele.

— Não vai adiantar de nada mesmo. – brincou com o copo de raspadinha vazio, sentindo vontade de chorar.

— Deveria falar a verdade pra ele, mesmo que não adiante de nada. – insistiu, mas aquelas palavras também eram para si mesmo.

— Ele mandou que eu não fosse mais atrás de falar com ele, e Jungwon disse a mesma coisa.

Riki suspirou e levantou da cadeira, puxando Jake consigo para jogarem os copos no lixo, consequentemente passando pela mesa onde eles estavam sentados. Com o coração na mão, o Shim encarou Sunghoon com uma cara de cachorro abandonado, mas saiu andando para longe com medo de tudo. Já Nishimura, jogou um guardanapo amassado na mesa deles e correu para alcançar Jake.

Jungwon olhou para o Park e depois para o guardanapo, vendo que tinha algo escrito nele. Desamassou o papel e leu cada palavra que estava escrita nele, lendo e relendo várias vezes para ter certeza de que leu certo.

Nos obrigaram a fazer isso, por favor, nos deixe explicar toda a situação.

— Acha que ele tá falando a verdade? – Sunghoon perguntou, devolvendo o guardanapo ao Yang após ler também.

— Eu não sei, e você?

— Também não sei. Mas acho que não custa nada ouvir o que eles tem pra nos dizer, né? Daí a gente vê se realmente é mentira.

Jungwon concordou e colocou o guardanapo no bolso de sua calça novamente, pegou seu celular e foi nos contatos bloqueados para desbloquear Riki.

you:
vamos nos encontrar amanhã, no mesmo lugar em que nos vimos hoje.

Still Into YouOnde histórias criam vida. Descubra agora