III.

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"Por ter ignorado aquela força espontânea que nos lança para o bem, eis que seus seres queimam nas chamas de antigos desejos, esmagados sob o fardo hereditário do pecado original, devorados pela corrupção. Desse estado de coisas resultam as misérias, as ilusões, as quedas inevitáveis, a dor infinita e amarga. Eis o choro silencioso que alimentam há muito tempo as chamas do inferno." –A Divina Comédia, Dante Alighieri


De fato o inferno não é nada agradável, de acordo com a bíblia. Várias pessoas que proferem ter visitado o inferno, como Anne Catherine e Dante Alighieri contam como foi suas experiências no martírio. Um lugar de puro sofrimento e tormenta, dores infindáveis, lamuria eterna e choro constante. Almas são queimadas no rio de fogo, sangue e enxofre a todo tempo. É o lar das almas condenadas por Deus. Há quem diz que não é nenhum ser divino que condena as almas a tais sofrimentos, e sim as próprias pessoas, por não viverem uma vida santa de acordo com as escrituras.

Choi Soobin imagina se não há nenhuma forma de reverter o que lhe acontecera, ser perdoado pelo Criador e assim então, finalmente morrer fisicamente e viver eternamente no céu com Deus, o louvando e o adorando. Entretanto, suas condenações eram infinitas. Matara muitas pessoas para se alimentar, condenou-as ao martírio. Soobin passara a viver como um demônio na terra. Se tornara um igual a seu irmão mais velho. Assassino. Imoral. Pecador. Indigno. Soldado do abismo. Via o diabo toda vez que olhava seu reflexo. Evitava olhar espelhos, vidros e passar perto das águas. Por esta razão voltara a Ravena. Era uma cidade pequena, e não havia muito luxo.

O vampiro descobrira uma forma de se disfarçar e tentar viver como um ser normal na sociedade de Ravena. Descobrira que possui poderes. Tinha o poder de mudar a cor de seus olhos para preto, o máximo que conseguia fazer para modificar seus olhos. Conseguira aprender a fingir respirar. E também aprendera a controlar sua sede. Aprendeu a ficar cinco dias sem beber uma gota de sangue. O vampiro também descobrira seu poder de manipulação. Conseguia manipular qualquer ser humano.

Em uma bela manhã de domingo, Soobin fôra a pequena igreja da cidade e declarar seus votos novamente. Com seu poder de manipulação, fez com que o padre aceitasse ele no clero da cidade, podendo trabalhar na igreja. O vampiro passava grande parte do tempo na igreja, lendo as escrituras, estudando, ouvindo as confissões dos fiéis, e ajudando o padre nas missas.

Havia se passado três meses desde que salvou Ginevra do lobo na floresta, e nunca mais a havia visto. Se sentira preocupado, e feliz, pois a mesma ficara quieta dentro do castelo.

Estava organizando alguns itens na mesa de missa, quando uma jovem adentrou o local. Estava com um véu cobrindo sua cabeça, portanto não dava para ver seu rosto. A mesma entrou no confessionário. Soobin foi imediatamente até a pequena capela para ouvi-la.

—Como posso ajudá-la hoje, madame?— Perguntou calmo, com a voz aveludada e grave

—Acho que estou ficando maluca. Tenho sonhos mesmo estando acordada. Quando adormeço tenho sonhos e pesadelos estranhos.

Soobin se espantara com a voz da moça. Era Berta. Se perguntara o que a princesa fazia ali se confessando a alguém.

—Sonhos acordada? Como alucinações?— perguntou curioso

—Sim. Sempre sonho com um homem.

—E como são esses sonhos?

—Eu estando deitada em um lugar onde há muitas rosas vermelhas, iluminada pela luz da lua vermelha, enquanto um homem deveramente esbelto está acima de mim, perto do meu pescoço. Parece beijar-me. É um sonho bonito até.

—E como é este homem?— perguntou já estranhando o sonho, pois a garota descrevera seu jardim.

Soobin começa a sentir cheiro de sangue. Era um cheiro diferente. Era mais doce, como se fosse baunilha. Sentiu suas entranhas estremecerem, sua derme se arrepiou por completo. Sentiu seus olhos voltando a cor escarlate, suas presas se atiçaram. Abaixou a cabeça, fechou os mirones, e apertou  com uma força descomunal a cadeira na qual estava sentado, a mesma que se partira. Era nítido, estava perdendo o controle. Estava com sede. Uma sede ingente, na qual nunca sentira em duzentos anos de transformação. Olhou para o lado e vira que a garota se cortara com um espinho de uma rosa que estava segurando, e seu dedo sangrava. Soobin estava usando de uma força incomum para se controlar e não beber de todo sangue de Berta.

The Sea Of Roses and BloodOnde histórias criam vida. Descubra agora