Capítulo 7

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Quando eu acordei estava sozinho na cama e isso me incomodou mais do que eu gostaria de admitir. Passei a mão pelo espaço vazio da cama sentindo sua frieza e isso me deixou ainda mais irritado. Não deveria me sentir assim, mas eu não consegui evitar, principalmente depois do sonho da noite passada.

Talvez não tenha sido apenas um sonho, mas sim uma lembrança esquecida em minhas memórias.

Jungkook não tem sido nada além de atencioso comigo nesses últimos tempos e talvez tenha sido assim nesses últimos anos como mostram meus sonhos e as fotos espalhadas pela casa de uma vida feliz e completa.

Aceitando o fato de que ele me fazia falta resolvi me levantar para o café da manhã, mas antes mesmo que eu colocasse meus pés no chão a porta foi aberta por um Jungkook carregando uma bandeja contendo meu café da manhã. Ok... Isso talvez tenha me abalado um pouquinho.

— Pra que tudo isso? — eu perguntei olhando para ele, tenho certeza que meus olhos estavam brilhando, por que assim que o Jeon me olhou um sorriso muito bonito se formou em seus lábios.

— Nada demais, só acho que deveria fazer algumas coisas que eu costumava fazer antes do acidente.

— Café na cama? — me ajeitei em meu lugar.

— Sim, eu fazia isso quando tinha um dia desgastante e pra falar a verdade desde o acidente acredito que seus dias não tenham sido fáceis, pelo menos desde que sua memória foi afetada.

— Bem, acho que sim. Quer dizer eu não lembro muito como eram as coisas, só sinto o que eu deveria fazer.

— E que coisa é essa?

— Acho que tentar ficar mais com as crianças e tentar ser mais compreensivo com você.

— Bem — ele colocou a bandeja em meu colo junto ao suporte e se sentou passando uma mão no meu joelho —, eu tenho que ser menor duro sobre tudo isso, não é culpa sua que não se lembre de mim do jeito que eu queria.

— Não, mas também não acho justo.

— O universo não está sendo justo com nenhum de nós nessa casa, você sofre, eu sofro e as crianças também, mesmo que um pouquinho.

Nesse momento meus olhos se arregalaram de espanto. Será que eu estava fazendo com que os meninos sofressem? Eu estava mesmo fazendo isso? Mas antes que essa dúvida tomasse conta de mim ele me confortou mais uma vez.

— Não se preocupe com os meninos Yoon, eu disse isso porque tem algumas coisas que o Soobin sente falta, mas não é como se isso afetasse ele tão diretamente e o nosso pequeno babão está muito bem, você está fazendo muito bem o seu papel. Eles são garotos de sorte por ter você como pai.

— Você acha mesmo?

Ele sorriu de um jeito único mostrando seus dentes de coelho e disse:

— Eu não tenho dúvidas.

Isso me deixou aliviado. Quer dizer, essas crianças não fazem ideia do que aconteceu e estão sob minha responsabilidade, não só fisicamente, mas emocionalmente também e isso é assustador.

— Mas agora vá comer seu café da manhã enquanto eu vejo se os meninos acordaram e depois a gente vai a alguns lugares que costumávamos ir.

— Onde? — perguntei.

— Surpresa.

— As crianças, quer dizer o Soobin sabe onde é?

— Na verdade eu pensei em ir só nós dois.

— Oh!

— Sim. — disse e notei suas bochechas levemente vermelhas e um ar meio envergonhado vindo dele e posso dizer que essa é a primeira vez que isso acontece, pelo menos a primeira que eu me lembre.

— Isso pode ser bom. — sorri.

— É, a gente fazia uns passeios só nós dois antes de bebê nascer.

— Por que não acontece mais?

— Você acha que ele é muito pequeno para passar o dia sem você.

— Bem, já que ele ainda está sendo amamentado então eu devo ter razão.

Ele sorriu de uma forma muito fofa, devo admitir.

— Sim, você sempre acaba tendo razão Yoon.

Me ajeitei com a bandeja no meu colo e comecei a degustar do café da manhã que havia sido posto especialmente para mim. É provável que ele tenha colocado minhas coisas favoritas e fico feliz que meus gostos não tenham mudado ao longo desses anos. Café, torradas, geleia e algumas frutas inclusive tangerina!

Eu realmente ainda sou o mesmo.

Sorri comigo mesmo e notei que estava sozinho no quarto. Era bom ter esse tempo para mim, pude pensar em como as coisas estão e no sonho que tive. É claro que eram lembranças de uma vida quase esquecida.

Lembro do calor do sol na minha pele, a suavidade dos lábios dele em mim, de seu olhar brilhante e apaixonado assim como o abraço protetor que me envolvia. Os sentimentos que foram despertados depois desse sonho ainda estavam latentes em meu peito, não saberia como agir de fato. Falei com ele agora pela manhã e parecia leve e real, como se fosse mais uma coisa do meu tia, uma peça se encaixando no quebra-cabeça.

Sei que ele costuma ser bom para mim, sei que ele me ama e cuida de mim. Se não fosse o caso, por que teria esse sonho? E por que me sentiria como se estivesse andando nas nuvens?

Preciso admitir que Jungkook é alguém que eu preciso me lembrar, preciso criar ou reconectar esse vínculo. Mesmo que minhas últimas lembranças tenham sido vividas, ele e eu éramos praticamente inimigos. Com ele e essa nova vida tudo parece diferente de antes, até por que é... Temos filhos lindos e incríveis, uma casa maravilhosa e tudo o que eu sempre sonhei estar ao meu alcance.

Me conectar com as crianças parece fácil e certo, talvez o vínculo parental seja muito mais forte do que se imagina. São dois meninos doces e dóceis, Sunwoo é um bebê fácil de lidar e Soobin é tão amoroso que adoça meu coração. Saber que eles dois saíram de mim é uma alegria que me faz ficar todo bobo como agora.

Talvez tudo que eu realmente precise é tentar me encontrar com meu eu do passado e se isso não for possível, abraçar essa nova jornada que está a minha frente com uma família tão querida e ainda mais incrível do que eu poderia imaginar.

De Repente 30Onde histórias criam vida. Descubra agora