Capítulo 4

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– Eu atravessei o continente primeiro. – Contou, os olhos fixos nas chamas. – Tinha que chegar às Ilhas Mortas antes de cruzar o mar.

Ele dormira por três dias quando chegaram. Asterin e Arpek ainda dormiam, Ariana só acordara há pouco mais de uma hora, Gavriel por si desmaiara logo que Rhoe lhe mostrara a cama, não tinha nem certeza de quando fora a última vez que comera.

– Adarlan já estava lotada de mortos-vivos quando passei por Anielle com Josefine e Larysa.

– Essa parte, já sabemos. – Comentou a lady em questão, com pouca delicadeza. – O que aconteceu depois que nos deixou?

Larysa chorara quando o viu. Nada em comparação a Edala, que até agora se apoiava em seu peito, abraçada a ele como se fosse desaparecer. Mas ficara tão plenamente feliz. Adriela também pulara em seu pescoço, quando se viram, chorando a saudade de meia década. Desde então, as duas ladys dedicavam-se a assar a carne que Fenrys saíra para caçar assim que soube de sua chegada. Todos pareciam tão felizes, e diferentes.

– Eu não tenho muita certeza. – Contou, esfregando as pontas dos dedos no braço de Edala, respirando fundo seu cheiro, tentando gravá-lo novamente. – Me transformei e parti. Não sei que caminho peguei, nem por quanto tempo corri, mas sei que fui muitos animais pelo caminho até a Enseada do Sino. Não queria chamar a atenção com uma carroça ou bagagens. Talvez por isso as gêmeas estivessem tão preocupadas quando me reconheceram.

Edala mudara bastante, ele podia reparar. Crescera muito, deixara para trás seus quatorze anos, e agora com a maioridade, ostentava uma altura além da de Lysandra, e, mesmo os olhos azuis turquesa e dourados, eram repuxados e arredondados como os da mãe deles, os cabelos dourados pareciam uma verdadeira juba em volta da cabeça, tranças finas disfarçando-se entre as mechas soltas, bem mais longo do que antes.

– Elas estavam bem? – Perguntou devagar. Gavriel notou que sua voz estava bem mais grossa do que antes, ainda melódica e ronronada, mais madura.

– Estavam. – Ele assentiu, mordendo o interior da bochecha. – Evangeline estava com elas, tinha acabado de ter o bebê, era um menino, eu não sei se vocês sabem. Ela deu o nome de Elioth.

Larysa soltou um suspiro de alívio, um sorriso desenhado nos lábios finos. Gavriel, por um momento, esperou que Adriele e Edala comentassem alguma coisa, talvez tentando adivinhar pelo nome de quem o menino seria filho, como faziam antes de tudo, mas as duas apenas pareciam felizes e aliviadas.

– Nos perguntávamos se a gravidez dela vingaria. – Contou Adriela, oferecendo para ele uma tábua de carnes assadas. – Sabe, com tudo o que aconteceu, não sabíamos se ela teria o bebê.

– Ainda bem que nasceu em segurança. – Resmungou Fenrys.

Fenrys mudara mais do que Gavriel poderia imaginar. A cabeça raspada, os olhos cansados, os ombros relaxados. Parecia ter deixado para trás a postura de antes, a descontração e o queixo em pé. Agora parecia cansado e relaxado, de fato, a vontade entre os jovens da corte, apesar de bem mais calado.

Adriela era alguém que mudara bastante, previsivelmente. Agora tinha dezessete anos, os cabelos castanho-dourados presos metade para cima, os olhos castanhos marcados por cílios longos e bolsas casadas, havia, em seu pescoço, uma cicatriz grossa, como se tivesse se sufocado e tido a pele dourada partida. Crescera pouco, porém, não parecia ter abandonado seu um e cinquenta, apesar de sua voz ter amadurecido bastante.

– Elas que te ajudaram a atravessar o mar? – Perguntou Nehemia, sentada entre Rhoe e Rhiannon, como se os dois fossem suas sombras. As pernas cruzadas, sentado logo a sua frente, o pequeno príncipe Taji oferecia um pouco de carne a Ariana.

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