Prólogo

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O Grão-Senhor e sua Senhora tiveram três gestações em cinco anos, e o motivo era tão óbvio. Eles se amavam. Dançavam e cantavam juntos, passeavam pelos jardins e brincavam com seus filhos como se pudessem bem parar de respirar caso não o fizessem.

Quando eu era nova, havia três herdeiros na primavera. Nessa época, éramos nove herdeiros nas cortes. Haviam, no castelo do inverno, Despoina, de nove anos, e Amin, de cinco. No lindo castelo de ouro do crepúsculo, havia apenas Aurora, de nove anos. Mais ao norte ainda, na linda cidade de estrelas na noite, o príncipe Nyx comemorava seus dez anos.

Eram tempos felizes, os que eu podia correr pelos salões iluminados e alegres, com meu irmão. Naquele equinócio, Narciso, o meu irmão mais velho, fazia seus sete anos, e eu, apenas uma pequena Camélia de cinco anos, corria ao seu lado por todo o verde jardim. Nosso irmão, Jacinto, ainda não havia aprendido a andar na grama, tinha medo dos espinhos, coroava por pouco seu terceiro ano de vida.

Naquele dia, nossos pais dançavam, rindo como sempre. E Narciso me puxou para dançar também. Eu gargalhava enquanto girávamos pela pista, os lordes e nobres saindo de nosso caminho com sorrisos no rosto, a babá que segurava Jacinto nos seguindo a passos cautelosos. Narciso segurou minhas mãos na parte rápida da música tocada ao fundo do salão, colocou meus pés sobre os dele, como nosso pai fazia, e girou com os braços estendidos.

Meu único possível ponto de foco eram seus olhos verdes brilhando de alegria. Era seu sorriso de dentes curtos e finos, seu nariz reto enrugado com a risada. Meu único ponto de foco, era sua diversão. E eu estava rindo tanto que mal notei quando nossas mãos escorregaram e eu caí no chão, segurando a barriga e escorregando um pouco sobre as saias brancas do vestido fino que vestia.

Lembro-me de bater as costas em algo, sem parar nunca de rir, a mente girando e tentando achar o foco enquanto duas risadas, uma doce e outra serena, se erguiam sobre minha cabeça. Me lembro do par de olhos verdes fortes se ajoelharem em um joelho à minha frente. Do sorriso aberto do grande macho, e de seus cabelos loiros repuxados para trás enquanto me oferecia a mão para levantar.

Eu nunca hesitava em chamá-lo por papai. Nunca hesitava em pular em seu pescoço e o abraçar, mesmo que ele caísse ao chão de surpresa. Eu o amava, acima de tudo, talvez exceto de Narciso.

– Papai! – Gritei, animada ao segurar sua mão para me levantar cambaleante. Quando pareceu que eu ia escorregar nas sapatilhas de seda rosa que me vestiram, ele passou as grandes mãos por baixo dos meus braços e me ergueu ao colo, de forma a me sentar em seu braço e minhas pernas ficarem para frente.

Dessa forma, meu rosto ficava apenas um pouco abaixo do dele, e já era outra perspectiva. Já era outra forma de ver o mundo. Narciso era levantado por nossa mãe, quase desaparecendo entre os tules do vestido branco dela.

Naquela noite, as outras cortes estavam ali para comemorar o aniversário do primeiro herdeiro da primavera, e por isso eu podia ver as outras crianças, todas com roupas de gala, a maioria das meninas combinadas com de suas mães ou babás.

Nossa mãe se aproximou e o grande macho se abaixou para pegar Narciso também no braço livre. Ele o ergueu pouco acima de sua cabeça e disse, em alto e bom som, para todos os Grão-Senhores e suas Grã-Senhoras ouvirem:

– Essa noite... – Ele ofegou pela agitação da dança animada que todos aproveitavam momentos antes. – Desculpem. – Ele riu, todos riram. Descontraídos e cansados pela diversão. – Essa noite, é de Narciso, meu filho mais velho, o próximo herdeiro da Corte Primaveril, e o meu pequeno broto de carvalho.

Ele baixou Narciso um pouco e beijou seu rosto, a barba rala fazendo meu irmão tão alegre e puramente sorridente que todos aplaudiram.

Algo que eu só entendi muitos anos depois: Meu pai nunca mais apresentou algum de nós daquela forma. Primeiro seu sangue, depois seu título e algum apelido, era sempre assim.

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