Capítulo 7

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Dois dias antes

Ar encheu seus pulmões novamente, e seus olhos se arregalaram para o céu azul muito acima. Estava quente, um mormaço típico do verão que incomodava o corpo acostumado ao inverno. O sol no alto era um ponto de luz natural forte demais para os olhos habituados ao fogo trêmulo dentro da caverna.

Mas não era o clima o que mais incomodava. Era o fato de que havia magia demais.

Magia como nunca antes sentira, aquela a qual recorria para curar os ferimentos deixados pelas garras e presas de ferro. Magia que o próprio esqueleto de ferro impedia de alcançar.

Eliara tentou respirar. Tentou puxar o ar para dentro, mas só conseguia engasgar com o sabor de cobre do poder bruto. Era o poder dela. Era como sentir a pele pegando fogo, lava quente derramando-se em suas veias, chamas lambendo e consumindo o ar antes de chegar a garganta.

Ao longe, alguém gritou seu nome. Cabelos dourados surgiram em sua visão, e uma mão de dedos frios pegou seu rosto, um segundo antes de um grito agudo, um som de chiado típico de carne queimando.

– Corra. – Tentou dizer. – Karyna. Corra.

– Lira, me diga o que fazer. Me diga como ajudar vocês.

Sufocando com o sangue que começava a lhe subir pela garganta, Eliara olhou para o lado, para as demais bruxas, ambas na mesma agonia. Aquilo era uma Redenção? Era a Escuridão reivindicando corpos que não pertenciam àquele mundo?

– Corra. – Ela repetiu, sentindo o sangue quente molhar o queixo, o pescoço. – Corra...

Seu próprio corpo explodiu em luz, o céu baixo brilhando em reconhecimento ao poder incontrolável de três bruxas que nunca sentiram nada como aquilo.

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Os gritos podiam ser ouvidos a quilômetros. Eles não estavam tão longe.

Seu pai insistira que tinham que conversar. Que havia algo importante a lhe contar, perguntas a lhe fazer. E Eros, mesmo com os músculos já doloridos pela tarde de treinos e a noite de festas, aceitou. Assim, sob o sol do meio dia, ali estavam eles caminhando pela Savana Vermelha, mais que dispostos a ficar em silêncio por horas até decidirem que era uma boa ideia voltar para casa.

Mas, no fim, Eros nunca recusava a chance de passar algum tempo com o pai. Mesmo que fizessem todas as refeições e estudassem juntos, mesmo que seus treinos fossem constantemente monitorados da janela do escritório – por ambas as partes – sempre agradecia por ter prioridade quando se tratava do tempo de seu pai.

Eram só eles, afinal. Claro, todos tinham uma família, mas Eros só conhecia seu pai. Sua mãe, uma amante devotada do lorde das terras, não resistiu ao parto, não tinha irmãos ou pais vivos para dizer que haviam parentes naquele lado da família. E já seu pai... Faziam sete séculos que seu último irmão fora assassinado, e por seis ele regera as terras sozinho.

Eros fora um dos últimos a nascer em questão dos filhos dos lordes. Depois dele, haviam apenas Héstia e Noelane, que possuiam metade de sua idade, então nunca fora o príncipe solitário, sempre tivera seus amigos consigo para proteger e irritar. E mesmo assim...

– Papai? – Ele chamou, baixinho, estreitando os olhos com a mão lhe fazendo sombra do sol. – É um incêndio?

O lorde parou seus passos e também olhou ao longe.

– Alguém está atravessando.

– Se esta, não foi de propósito. – Ele olhou em volta, o deserto de gramíneas e répteis camuflados. – Não tem nada aqui.

Os Portadores ElementaisOnde histórias criam vida. Descubra agora