Capítulo 1

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– Você está bem?

– Por Wyrd, Arpek, eu vou arrancar sua cara com os dentes! – Rosnou Lothian, exibindo as presas prateadas para ele. – Se me perguntar isso toda vez que viermos para a feira, vou ter um colapso!

– Vamos ter juntas? Talvez nós duas em colapso faça esse babaca calar a boca. – Ofereceu a feérica atrás deles.

– Vocês duas já tiveram um ataque juntas. – Lembrou o velho, guiando a carroça. – Foi semestre passado, quando regularam seus períodos e deixaram todos nós loucos.

– Devíamos tentar novamente quando Ariana sangrar. – Concluiu a bruxa, cruzando as pernas longas e se reclinando sobre os caixotes. – Talvez as três sangrando juntas dêem a vocês dois uma lição sobre serem chatos.

Os olhos brilhantes da bruxa se voltaram para o macho e ele bufou, sua respiração se tornando uma nuvem na frente do rosto. Ele se virou para a menina que cochilava com as costas apoiadas nas da profeta.

– Não ouse sangrar.

– Não é como se eu tivesse escolha, não é? – Resmungou a menina, os olhos fechados, os cabelos soltos em volta do pescoço longo.

– Que destino trágico. – Reclamou o velho, sem olhar para trás.

– Falando no sangramento da Ariana. – Continuou a feérica, sem se abalar pelas reclamações dos machos. – Deve vir esse período ou no próximo. Já tem treze anos, não é?

Ariana abriu os olhos. Um olhar incrivelmente brilhante e azul, e um leitoso e cego, e olhou bem para a tia.

– Eu não sei mesmo. Acho que sim.

– Daqui uns anos, quando Estabilizar, ela não vai precisar se preocupar com idade. – Respondeu Arpek no lugar da menina. – Então porque precisaria agora?

– Para garantir que ela não vai ter algum problema? – Sugeriu Lothian, fechando os olhos e recostando a cabeça na da menina.

– Ela parece que tem algum problema?

– Olha, ela tem treze anos e tem mais cicatrizes no corpo que o Maxyon. Acho que o que não falta é problema.

Ariana virou o corpo e deu um tapa no braço da fêmea.

– Desculpe, amor, mas é a verdade.

Lothian riu, fechou os olhos e aproveitou o sol fraco do inverno no rosto. Ela sentiu o movimento desconfortável de Arpek ao seu lado, e pôde com exatidão imaginar o revirar dos olhos verdes e o remexer dos ombros largos. Pôde também vislumbrar, por trás dos olhos fechados, os dedos longos e brancos de Camille trançando os fartos cabelos ruivos, assim como sentia o arranhar dos fios platinados de Ariana em seu ombro.

Conhecia aquelas pessoas à cinco anos, quando caíra dos céus em uma serpente alada, bem na frente de Arpek e Camille. Na época, Maxyon estimou que ela teria dezesseis anos, e foi poucos meses depois de Camille e Ariana se juntarem ao par de machos. Até aquele dia, Maxyon definia aquele como um ano e tanto.

E, claro, havia Maxyon em sua família. Uma figura muito memorável.

O velho macho era rabugento e mandão, em geral brigava com todos sempre que podia e pouco amolecia quando o assunto era a segurança deles. Ele tinha cabelos e barbas longas e grisalhas quando se conheceram, mas nos últimos anos começara a adotar uma aparência mais juvenil, sem barba e de cabelos pretos bem presos. Ainda era fisicamente bem mais velho do que qualquer um deles, mas parecia bem mais jovem, mais pai e menos avô.

Maxion na verdade era Mantyx, o irmão mais velho do Rei Erawan, que por dez anos, quase vinte e cinco anos antes, causara o terror em Erilea em busca de mais poder, e irmãos mais novo do Rei Orcus, que a cinco anos perseguia cada ser mágico do mesmo continente, em busca de quatro pessoas.

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