Contra Todas As Possibilidades

4.

Vá com calma, você está indo bem
Você não pode ser tudo que quer ser antes do seu tempo
Vienna — Billy Joel

PENÉLOPE CLARKE

Foi uma imensa surpresa para mim descobrir que Richard não tirou todo o dinheiro da nossa conta. No primeiro instante pensei em sacar tudo, pegar o dinheiro para mim, depois decidi que não queria mais nada vindo dele.

Porém, me lembrei da cara de cínico dele, da cara debochada da namorada dele, no casamento de Lucrécia. Meu sangue ferveu pela milésima vez, pelo mesmo motivo. Não pensei duas vezes e peguei todo o dinheiro que tinha na conta. Legalmente, eu ainda sou a esposa dele. Uma esposa que aguentava tudo calada, que nunca sequer reclamou, ou discordou das exigências dele.

Richard, propositalmente, mudou tudo em mim. Meu estilo de roupa, meu jeito de falar, de agir. Ele mudou a minha composição, meu DNA!

Digamos que esse dinheiro é pelos danos morais.

A primeira coisa que fiz foi ir ao salão de beleza, cuidei da minha pele, hidratei meu cabelo, restaurei os cachinhos e passei uma cor mais escura. Nenhuma mudança extrema no exterior, mas no meu interior, a mudança estava a todo vapor.

Depois fui as compras, voltar a vestir aquilo que me agrada, o meu verdadeiro estilo. Comprei saia preta, branca, bege; curta, média, longa; com fenda e sem; saia reta, lápis, minissaia. Eu nem sei se vou usar tudo isso, mas comprei.

E, então, eu estava pronta para ir.

Não posso dizer que não doeu olhar para a minha casa pela última vez, porque doeu. Achei que dizer "adeus" apagaria todas as minhas emoções e sentimentos, mas não foi assim. Então tudo que fiz foi pegar as minhas coisas e passar pela porta sem olhar para trás.

Agora meu destino é Stormyville. Meus planos se resumem a: morar com Raul, só enquanto não encontro uma casa e ser a professora substituta na universidade. Acho que será bom morar em outra cidade, ainda mais numa cidade afastada e isolada do resto do mundo rodeada de montanhas.

Algumas horas depois; dois metrôs e um táxi, cheguei na casa do Raul. Tive tempo apenas para tomar um banho rápido e um café. Tive que pegar outro táxi e agora estou aqui. A universidade é o lugar mais lindo que já vi, a vista é melhor ainda, as montanhas rochosas, árvores robustas e um lago pequeno. Toda a fachada da universidade foi construída pensada nas construções do século passado. É uma beleza indiscutível.

— Penélope! — Raul grita caminhando na minha direção e abrindo os braços. — Como é bom te ver!

Ele me abraça rapidamente.

— Não está exagerando? Nos vimos semana passada.

— Não estou. — Ele entrelaça o braço no meu. — Bem-vinda a Universidade Miramar — diz sorrindo de orelha a orelha.

— Obrigada — respondo retribuindo o sorriso.

Passamos pelo portão e a cada passo fico mais apaixonada pelo lugar.

— Nossa! Esse lugar é lindo — digo admirada.

— É lindo mesmo. Várias pessoas escolhem vir para cá por causa da vista — diz colocando as mãos nos bolsos da calça social preta. — Tem que ver como esse lugar fica no inverno.

— Raul... — o chamo com a voz melancólica. — Obrigada, de verdade. Se não fosse por você...

Raul dá um sorriso de lado.

— Para com isso. Amigos são para essas coisas.

Aceno com a cabeça.

— Mesmo assim, obrigada. — Dou um sorriso.