Memórias vagas

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Quando tinha por volta dos sete anos, eu e meus pais fomos visitar a vovó que morava no estado de Nova Jersey, especificamente na cidade de Burlington, uma pequena cidade localizada na margem do Rio Delaware. A cidade era pacata, era um dos lugares exemplares para se viver o típico "sonho americano". A uns quarenta minutos de lá havia um aquário, daqueles aquários incríveis nos quais você pode ter uma experiência completa vendo um monte de espécimes de peixes e animais marinhos. Foi lá, a primeira vez que senti tanto medo da morte quanto estou sentido hoje.
Lembro de estar olhando um dos aquários, e sem muito aviso, um peixe bateu contra o vidro à minha frente, foi tão rápido que a única coisa que fiz foi gritar de medo e correr em direção aos meus pais. O peixe obviamente morreu, a pancada foi tão forte que o matou instantaneamente. Um inspetor do local conversou comigo para tentar me acalmar e explicar o porquê o peixe fez aquilo, ele disse que alguém havia tirado uma foto com o flash ligado, e isso assustou o peixe que fez ele ficar confuso e fugir com muita pressa, e infelizmente não conseguiu parar a tempo para não bater no vidro.
Aquela explicação não foi o suficiente para me deixar melhor, pelo contrário, voltei para casa pensando naquele peixe, enquanto abraçava uma pelúcia de uma beluga na qual havia ganhado do aquário como um pedido de desculpas pelo que aconteceu. Mr. Pug (o nome no qual dei a pelúcia) foi o que me consolou durante anos da minha vida, quando sentia medo, me abraçava nele e fechava os olhos com muita força, eu era criança e por anos pensava em como a morte era assustadora, em como diziam que um fantasma encapuzado com uma foice viria no fim das nossas vidas, ou que as vezes ele surgirá tão rápido quanto um peixe desgovernado em um aquário.
No fim, sinto que nada daquelas horas a noite acordada pensando sobre me fizerem, de fato, ser uma pessoa que lidaria bem com a morte. Em específico, a minha própria morte.

"A hora certa vai chegar Connie, e você vai se lembrar..."

A única coisa que podia ver era um chão de grama vintage totalmente embaçado, as lágrimas em meus olhos não me deixavam enxergar. O zumbido agudo não me permitia ouvir. Os soluços descontrolados não me deixavam falar. Eu estava em completo pânico. O medo genuíno havia me atingido.
Eu estava morta!
E não foi porque uma gata falante mágica havia praticamente confessado que eu estava no mundo dos mortos, foi pelas pessoas fantasmagóricas que surgiram à minha volta, pessoas essas que claramente queriam me ajudar, mas crises de pânico não são momentos nos quais estamos perto de ouvir alguém.

- Ela precisa se acalmar... - uma voz masculina disse ao fundo.

- Garota, ei... Ragazza... Me escute, preste atenção na minha voz! Consegue me ouvir? - a voz feminina parecia longe, a quilômetros de distância e eu só conseguia ouvir meros sussurros. - Menina se acalme! - mandou

- Garota consegue nos escutar? - uma outra voz masculina, diferente da primeira .

- Ei, menina... - um par de mãos atraiu minha atenção, segui o olhar vendo uma mulher logo a minha frente, seu olhar era confuso e ao mesmo tempo acolhedor. - Respire fundo, devagar, precisa se acalmar!

Tentei fazer o que ela me falava, comecei a respirar fundo, mantendo meu olhar focado nela, a senhora me acompanhava na respiração, contando cada segundo como se fosse o último, pude ouvir ela dizer sobre eu respirar e soltar o ar a cada cinco segundos, e foi o que tentei fazer. Passei a inspirar e expirar o ar em meus pulmões contando mentalmente, torcendo para que toda sensação de merda passasse o mais rápido possível. Tentei limpar as lágrimas, mas a mulher em minha frente fez isso por mim, enxugando-a com os dedos.

- Ragazza... - clamou ela colocando as mãos sobre meus ombros em uma forma de acolhimento.

- Eu quero ir embora! - clamei olhando para Salem, a gata se aproximou e me encarou nos olhos.

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⏰ Última atualização: Aug 10 ⏰

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