Capítulo 3

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Newt

   Umas duas horas se passaram e eu não levei a comida. Não quero voltar lá e também Gally acaba de colocar um coelho para assar na fogueira.
 
   Sento-me na grama e posso sentir o cheiro da carne. Minha boca se enche de saliva.
  
  — A Fedelha acordou?
  
  Engulo e arregalo os olhos ao ouvir sua voz ríspida.
  
  As suas sobrancelhas tortas  erguidas dão a impressão de que vão voar a qualquer momento.

   — Não.
  
  Ele se senta ao meu lado desajeitadamente.
 
  — Eu não confio no Novato. Muito menos nela.
 
  Continuo olhando para a fogueira, as faíscas voando para todos os lados.
 
  — Também não confio.
 
  — No Thomas ou na garota?
 
  Meus pulmões se enchem de ar e logo ficam vazios.

  — Na garota.
 
 
  Ele levanta as sobrancelhas novamente e a voz eleva.
 
  — Então você confia no cara que chegou aqui há uma semana?
 
  — Sim. — Respondo sinceramente. Ele abre a boca. — Tenho meus motivos. Sei que ele pode nos ajudar a achar uma saída.
 
  Gally olha para a grama e balança a cabeça negativamente.
 
  Levanto-me enquanto digo:

  — A garota é o principal problema.
 
  Assim que termino de falar, ouço o estrondo do Labirinto mudando e se fechando, mas paro de andar quando chego na metade do caminho até a cabana de gravetos, ao ouvir uma voz cantar em um idioma irreconhecível, que parece vir de muito longe.

  Quanto mais me aproximo, mais meu corpo estremece e meu coração dispara.

  Tento ignorar, mas a voz está vindo daqui. Oh...
 
  Afasto o pano da cortina um pouco, o suficiente para ver que ela está de olhos fechados e com uma das mãos no pingente, cantarolando. Sua voz é agradável e arrepiante ao mesmo tempo, como se ela e um fantasma cantassem juntos. Minha respiração acelera e ela dobra os joelhos, colocando suas mãos em volta.
 
  De repente ouço um sibilar alto vindo de longe e não me movo. Estou acostumado com o som “angelical” dos Verdugos.
 
  Vou para o Domicílio, onde as redes estão armadas.  avisto Thomas ao longe e a sensação horrível passa, dando lugar ao ânimo, apesar de tudo o que está acontecendo.
 
  — Oi, Thomas. — ele se aproxima de mim.
 
  — Oi, Newt. — Ele abre a boca e puxa o ar. — Você não deveria estar lá?
  
  Travo a mandíbula.

  — Sim, mas não consigo.
 
  Ele franze a testa.
 
  — Como assim não consegue?
— É que… — Olho para a árvore à minha frente. — É difícil de explicar.
 
— Ah, você não se sente… confortável?

   — É, mas é algo mais.

  Ele não responde e se aproxima mais de mim.

  — Então… —Ele dá um sorrisinho — Você quer dizer que está apaixonado?

  Franzo a testa e abro a boca.

  — O quê? Não! Claro que não.

   — Tá bom, mas não precisa ficar nervoso.
 
  Cruzo os braços.

  — Acho que já tá na hora de você dormir.

   Ele prende a risada e agora me vejo com vontade de rir, mas caminho em direção ao local que evitei ir até agora.
 
  Ouço sua risada de novo e agora sorrio.
 
  — Ainda vamos jantar, Newt!
 
  Agora, vejo Alby vindo da fogueira em direção a nós e, alguns segundos depois, ele nos cumprimenta.

   — Por que não está de olho nela?
  Ponho as mãos na cintura.
 
  — Vim falar uma coisa com Thomas.

 
  Ele assente.
 
  — Chamei-a para comer.
 
  — Ótimo. Ela estava com fome.
 
  Avista a garota saindo da cabana, olhando para todos os lados. Vou para o lado da fogueira, onde estão alguns Clareanos já comendo.
 
  — Pega aí, Newt.
 
  Diz Gally, segurando um graveto com a carne. Ele sorri para mim com seus dentes tortos e amarelos, com sua boca suja.
 
  Eu quase rio, e ao invés disso, me abaixo e puxo um pedaço da carne marrom de um dos gravetos de baixo.
 
  Quando ponho a carne na boca, minha boca se enche de saliva pela segunda vez e quando mastigo, arregalo os olhos ao sentir  sua maciez. Está bem melhor do que  a de qualquer outro dia aqui. Olho para ele.

  — Gally, o que você fez?
  
  Ele sorri de novo.
 
  — É segredo. O Caçarola me passou.

  Como sempre, nem ele, nem Caçarola dizem os ingredientes de suas receitas. Isso é maldade.

  Passos um pouco pesados, não familiares se aproximam de nós.
 

  Respiro fundo ao ver Eva sorrindo. Dá vontade de arrancar seus dentes.
  
  — Oi, gente.
 
  Gally olha para mim com uma cara séria enquanto todos os outros chegam aos poucos e começam a comer, sentados ou em pé.
 
  O garoto se aproxima um passo diante dela e estende a mão, a olhando nos olhos. Ele Agarra sua mão amigavelmente, ela mostra mais ainda seus dentes e olha nos olhos dele.

  — Meu nome é Eva.

  — Eu sou Gally.
 
  Ela solta e fica parada, enquanto ele a encara e cruza os braços.
 
  — Sirva-se.
 
  Eva se aproxima de mim e dá um sorrisinho de canto, mostrando os dentes. Menos pior. Mas mesmo assim travo a mandíbula levemente e desvio o olhar para o coelho sem vida.
 
  Ela se abaixa e pega a carne, levanta e a coloca  na boca,  tapando-a com a mão.
 
  Qual é a necessidade? Estava mostrando seus dentes até agora.
 
  Alby toca em seu ombro e ela franze a testa um pouco, olhando para ele, que segura um copo da bebida amarelada criada por Gally. Não tem nome, só sei que é bem forte no começo e tem gosto de mel.
 
  O líder sorri, passando um pote para Eva, que o segura.
   
  — Vamos dar as boas-vindas à nova Clareana…
 
  — Eva. — Diz naturalmente
  
  — Eva!
  
  Todos batem palmas, eu também, mas logo depois cruzo os braços e apenas assisto. Alby está com o maior sorriso que já o vi expressar.
  
  — Vamos fazer um brinde!
 
  Pegam suas bebidas e as erguem. Não tenho a mínima vontade de fazer isso, mas mesmo assim, faço.

  O tilintar do vidro uns nos outros é desesperador.
 
  De repente, os Clareanos prendem o fôlego ao mesmo tempo, e olham para uma única direção, num silêncio estrondoso.
 
  Todos estão voltados para a Maldita.
 
  Agora meu coração dispara, arrepio-me, mas olho para ela por puro instinto.
 
  Abro a boca ao sentir um calafrio maior do que qualquer outro passar por meu corpo, vendo a criatura atrás dela, babando.
 
  Tem algo ligeiramente diferente no Verdugo: seus olhos estão brilhando em verde.
 
  A expressão dela é de desespero, mas...uma sensação no fundo do meu peito diz que isso não está certo.

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