Cap. 2 - Sabemos

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No momento em que Hongjoong conseguiu se acalmar e voltar a dormir, o céu escuro como breu mostrava timidamente um tom roxo acinzentado como um anúncio do sol finalmente começando a nascer. Seonghwa ouviu o início do canto dos pássaros e observou as luzes da rua se apagarem e os raios do sol cortarem as árvores sem folhas para adicionar laranja à suave camada de neve recém-caída no chão. Ele ainda segurava Hongjoong, o mais novo tendo ficado completamente mole em seus braços depois de se livrar de seu terror noturno. O loiro estava tenso e respirava devagar, incomodado com a forma como as lágrimas secas em seu rosto começavam a coçar - e ele não conseguia coçá-las ou limpá-las porque não queria soltar o outro. Ele estava com medo de que, se o fizesse, Hongjoong começaria a chorar novamente, mas Seonghwa sabia que não tinha escolha. Ele perderia a primeira aula se não se mexesse.

Então ele o soltou. O mais devagar possível para não deixar não haver uma mera possibilidade do moreno acordar.

Seonghwa olhou para seu amigo adormecido por alguns minutos. Seu rosto branco estava sereno, as sobrancelhas relaxadas, as pálpebras fechadas, mas não apertadas, os lábios entreabertos... Ele parecia tão tranquilo agora, mas o mais velho não conseguia evitar a preocupação de que isso iria desmoronar a qualquer momento. Mesmo assim, ele teve que ir.

Privado de sono e ainda processando o episódio de Hongjoong, ele tomou banho num denso torpor, consequentemente o fazendo demorar mais do que havia planejado para conseguir chegar a tempo para a primeira aula.

Foda-se a primeira aula.

Ele não se importou mais e entrou no piloto automático, vestindo a roupa, pegando a bolsa e indo até a porta para calçar os sapatos. Seonghwa lançou apenas uma última olhada para aquele esparramado em seu sofá: dormia profundamente. Ótimo. Ele poderia ir agora.

O dia passou tão, tão devagar, e tudo sempre parecia meio embaçado, como se estivesse em um sonho. Não realmente ali, não realmente real. Ele dormiu durante a maior parte das aulas sem um pingo de remorso e, mesmo quando não estava realmente dormindo, escondia o rosto com a cabeça apoiada nos antebraços sobre a mesa. O loiro não conseguia manter os olhos abertos por muito tempo, estavam pesados e doloridos, a luz só piorava. Ele devia estar com uma aparência horrível, porque Siwoo acabou deixando-o em paz a maior parte do tempo. Não que Seonghwa fosse capaz de perceber quando seu amigo tentou provocá-lo, já que ele não estava realmente cosciente e alerta. Seu corpo se arrastou até a universidade, sentou-se para assistir todas as aulas do dia no horário, mas sua mente estava flutuando em algum lugar muito, muito longe. Ele tinha na mente sua cama confortável, um cobertor macio e agradável, um sono que nunca vinha quando ele estava em um lugar onde deveria estar dormindo... Mas acima de tudo, ele pensava em Hongjoong.

O que aconteceu naquela manhã realmente o havia assustado. Em todos aqueles anos juntos, mesmo com seus pais horríveis, ele nunca tinha visto o mais novo naquele estado. Era assim que as coisas eram agora? Isso sempre acontecia? Seonghwa podia sentir a tensão se espalhando por sua mandíbula só de pensar em seu amigo tremendo, chorando e gritando noite adentro todos os dias. Ele gostaria de saber o que havia de errado para poder ajudá-lo melhor, mas ele praticamente não tinha ideia do que acontecera depois que ele se mudou. Ele não o via há muito tempo. Ele nem sequer teve notícias dele uma única vez naquele período.

Seonghwa lembrou-se de como ficou angustiado quando recebeu a notícia. Os pais de Hongjoong mantiveram aquilo em segredo enquanto puderam. Eles fizeram aquilo de propósito, os dois meninos sabiam disso. Hongjoong foi informado de que eles iriam se mudar se mudando faltando apenas uma semana para a data, ele mal conseguiu reunir tempo para estar com seu melhor amigo antes de se despedir. Seonghwa tinha planejado se declarar naquele inverno também...

"Hwa" Ele ouviu um sussurro suave perto de seu ouvido e sentiu dedos delicados roçando em seu cabelo. "Hwa, a aula acabou."

De repente, foi como se sua audição tivesse sido ativada novamente e ele estivesse ciente de cada ruído naquela sala de aula. Conversas ociosas, cadeiras sendo recolocadas em seus lugares, zíperes de bolsas fechando, dezenas de passos batendo contra o chão e adentro de seus ouvidos...

penumbra (pt-br)Onde histórias criam vida. Descubra agora