Capítulo 8 - Vermelho Sangue

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*** Capitulo um pouco mais sensível, nada muito explicito mas ainda assim marcante, caso alguém tenha problemas com esse tipo de leitura aconselho a ir ate o final e aguardar próximo cap, irei postar rápido. Obrigado pela atenção.***





Narrador

Era quase comum ouvir gritos e brigas as 23h, não deveria ser, mas os vizinhos já estavam acostumados com todas as confusões que rodeavam a casa dos Alencar. Ja chamaram policia, bombeiros e Samu, nada nunca mudava então pararam de se importar.

'Não podemos ajudar quem não quer ajuda'
'Briga de marido e mulher não se mete a colher'
'Ele um dia ainda vai matá-la'
'Coitada da filha deles'

Esses e alguns outros comentários rodavam pelo bairro, poucas pessoas se importavam com o que acontecia e as poucas que se intrometiam eram ameaçadas e obrigadas a se afastar.

O patriarca da família já não fazia seu papel de proteger e cuidar da casa e de sua esposa e filha, assim como ele prometera que faria. Em algum momento após a primavera do ano anterior, alguma coisa aconteceu, fazendo com que despertasse o lado vermelho dele, seu coração não era mais o mesmo e todos duvidavam que ele ainda poderia controlar. Como se outro alguém invadisse e o dominasse. 

- Você precisa parar com isso!! -gritou a mãe desesperada, segurando um dos braços que possivelmente estaria quebrado - O que aconteceu com você?! 

Seria mais um noite daquelas, Enya estava trancada no quarto assim como a mãe lhe ordenou, quando o pai não chegava até as dez horas da noite elas já se preparavam para mais uma crise de raiva. 

O pai que antes era amoroso, companheiro e caridoso, agora se transformou em uma bola de raiva e fúria, descontava sob sua família uma raiva sem fundamento e falava que queria morrer e quando tudo acabava pedia desculpas e voltava a viver sua vida sem se importar com as outras. 

Nem mesmo seu irmão Markus conseguiu ajudar dessa vez, o segredo que tanto guardava a sete chaves foi rompido e Markus já não podia mais ajuda-lo. 

- Me deixe em paz, cuide da sua vida! -ele gritou nervoso, se apoiando sobre a mesa tentando respirar, lhe faltava folego, algo dentro de si estava lutando para sair - Fica longe de mim!

Emily não ouviu, ela precisava ajudar seu marido, ela o amava e sabia que algo estava errado a muito tempo. Ela não sabia o que poderia ter mudado tão rápido, sua medicina não incluía psicologia e claro ele se recusava a receber qualquer ajuda de quem quer que seja. Ela estava tentando, procurando ajuda, vendo se o problema na verdade não seria ela? Por que seu marido tão direito, controlado e responsável se tornou aquilo? 

Aquela seria sua ultima tentativa, ela temia por Enya e tinha que coloca-lá como prioridade. Devido a família conturbado Emily percebeu que sua filha andava piorando, sugando a raiva, o ódio e o descontrole do pai, não poderia ficar sentada vendo sua filha arruinar a própria vida também. 

Não por sua culpa, não por que ela NÃO QUERIA sair de casa. Ela precisava ajudar eles, sua família, sua casa e seus filhos. 

Seus olhos lacrimejaram quando Anton a empurrou contra parede, sentiu uma dor lacerante nas costas, segurou a barriga pensando no bebê que não tinha culpa daquilo e que não poderia correr riscos assim com apenas 2 meses de gravidez. 

Algo que ninguém sabia e ela nem poderia sonhar em contar, Anton a mataria e Enya não poderia se preocupar com ela agora. Os enjoos eram fácil de aguentar nesse estágio e não tinha ainda barriga para transparecer algo, ela estava somente um pouco mais inchada que o normal e duvidava que alguém perceberia. 

Não aguentava mais segurar as lagrimas, Anton ameaça ir para cima dela e ela não poderia deixar assim, subiu as escadas para o segundo andar cambaleante, bateu na porta de Enya e mandou fazer as malas. 

Sem perceber seu vestido rosa estava ensanguentado, sangue escorria pelas pernas manchando o chão, sentiu uma dor forte quando se apoio no parapeito da escada, pressionou a barriga com força rezando um mantra. 

- Não, não, não, por favor não -Emily pedia e suplicava por ajuda, qualquer ajuda que fosse. 

Sem perceber que sua adorada filhada estava na porta olhando tudo, os grandes olhos verdes arregalados demonstravam desespero e medo, as pernas tremiam e as mãos doíam de tanto que se apertavam fazendo um nó. 

Emily aos poucos perdia a consciência, o sangramento continuava e ela sabia o que estava acontecendo e não sabia mais por qual motivo chorava, eram tantos!

Enya saiu do transe quando seu pai Anton subia as escadas, ele estava em silencio completo parou na ponta da escada vendo a situação, Emily jogada no chão e sangue em volta, apenas o vermelho vivo do sangue borrando chão e paredes. 

Enya não reconheceu os olhos do seu pai como se fosse olhos de um demônio, já não o reconhecia mais e sabia que aquele não era mais seu amado pai. 

Seu coração acelerou como nunca antes, mesmo quando fez varias bobagens com os amigos e namorado, seu corpo suava com a adrenalina, sua mente desligava e religava, sentia que podia desmaiar a qualquer momento. A ponta dos dedos formigaram e queria pegar qualquer coisa e jogar na parede, pensou em milhões de palavrões mas não conseguiu falar nenhum, tentou acalmar a respiração mas não conseguia, Enya pensou até mesmo em sentar no chão e se encolher, mas não podia, o chão repleto de sangue lhe apavorava, a noite ficou vermelha, a casa, a escola, os amigos, o pai e mãe. 

Qualquer que fosse aquele impulso que sentiu, Enya o libertou, ela sabia como as coisas estavam em casa e cansou de se alienar, cansou de deixar pra lá e cansou de deixar que apenas os idiotas dos adultos pudessem resolver. Cansou da merda dos vizinhos apenas olhando, rindo e pontando o dedo, cansou de aturar idiotices ou de se envolver com pessoas imundas apenas para provocar seus pais, cansou de tudo e estava cansada da própria vida.

Mas quando olhou o rosto pálido da sua mãe ela chorou e poderia se jogar de tanto chorar, ela poderia merecer tudo de ruim no mundo, mas sentia que a sua mãe não podia e ela ia resolver. 

Anton se aproximou em curtos passos, parecia confuso, uma hora demonstrava medo e em outra raiva, um momento demonstrava terror e em outro frieza. 

Tentou se aproximar de Emily. 

Enya correu pegando impulso, ela não sabia o que estava fazendo mas não ia deixar ele por as mãos imundas em sua mãe novamente, nunca mais. 

- NÃO -gritou, golpeando Anton com toda força que jamais pensou existir no seu corpo e alma, o empurrou com fúria, todo o ódio e dor acumulados no seu próprio corpo. 

Cambaleante Anton deu dois passos para trás tropeçando e caindo no vão de costas para a longa escada que acabará de subir. Enya observou quando seu corpo debateu, rodou e caiu no chão do térreo, sangue escorrendo pela boca e com a cabeça possivelmente rachada do pai. 

Não sentiu remorso, nem dor, nem peso e nem fúria, seu corpo relaxou e ela caiu de joelhos no topo da escada, as lagrimas não saiam mais e ela ficou petrificada esperando.

Ela encarou o corpo do pai, que apenas ficou ali, sem nunca mais se mexer. 

The Red Awakening - O Despertar VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora