Surpresas

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Cerca de quinze minutos antes do horário combinado para a reunião, adentrei pelos portões da escola

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Cerca de quinze minutos antes do horário combinado para a reunião, adentrei pelos portões da escola.
Caminhei pelos corredores decorados de forma infantil até encontrar a sala do maternal 1.
Era minha primeira reunião de pais, o primeiro ano de Ellie na escola. Eu estava relutante em matriculá-la, afinal ainda não havia completado os seus 5 anos.
Mas, depois de ter sido aconselhada pela psicóloga, decidi dar aquele passo.
Ellie era muito reclusa, tímida e pouquíssimo extrovertida. Ela preferia brincar sozinha na maioria das vezes. O que me preocupava. Queria que a minha filha se divertisse brincando com as outras crianças.
Foi aí que entrou na escola. A psicóloga de Ellie explicou que o convívio com outras crianças de sua idade, em um ambiente de aprendizado, seria benéfico para ela. E era com isso que eu estava contando.
Já haviam alguns pais na sala do maternal, e eu me sentei em uma das cadeiras.
Depois de poucos minutos, srta Ha-na, a professora das crianças se juntou a nós.
A reunião foi rápida. A professora explicou algumas das dinâmicas de aprendizado, sempre frisando que o trabalho deveria ser mútuo, tanto dos pais quanto da escola. E por fim nos entregou uma lista de materiais.
— S/N, podemos conversar um momento? — Ela perguntou baixinho, se aproximando e eu assenti. Nos afastamos um pouquinho. — Eu vi como você ficou nervosa quando Ellie chorou ao chegar aqui... — Lamentou, me dando um sorriso gentil. — Gostaria de dizer que a sua postura foi muito boa, a maioria dos pais perde a paciência e acaba gritando com as crianças.
— A psicóloga da Ellie me avisou que esse tipo de coisa poderia acontecer. Mas partiu o meu coração ver a minha garotinha daquela forma. — Admito.
— Eu entendo. Mas quero dizer que acredito no potencial de Ellie. Tenho certeza de que logo ela estará cheia de amiguinhos. — Sorriu, colocando uma mão em meu ombro.
Agradeci a conversa e fui com os outros pais até o portão onde as crianças seriam liberadas. Levando a minha garotinha, muito emburrada para casa.

Duas semanas depois...

Estacionei meu carro em frente à escola, caminhando os poucos passos até o portão.
A primeira semana de Ellie na escola foi difícil. A adaptação dela, convivendo com tantas crianças, estava sendo estressante. Tanto para mim, quanto para ela.
Mas, no meio da segunda semana, ela já não chorava mais quando chegamos na escola, não reclamava e também não voltava mais emburrada.
Estava evoluindo, o que fazia meu coração bater forte, cheio de alegria.
Me surpreendendo mais uma vez, Ellie saiu pelo portão de mãos dadas com outra criança. A garotinha de cabelos escuros e olhos pequenininhos sorria abertamente para ela, e as duas falavam animadas sobre filmes da Disney.
— Yuna, essa é a minha mamãe. — Ellie falou quando as duas pararam em minha frente.
Me agachei, sorrindo mais do que meu rosto aguentava. A garotinha baixou a cabeça, fazendo uma reverência.
— Como você está, Yuna? — Perguntei.
— Muito bem, senhora. — Ela sorriu para mim.
— Você pode me chamar de tia se quiser, hum?
— Tudo bem, tia. — Deu um pulinho. — Ellie, você tem que ver o filme da Mulan e amanhã a gente brinca disso, tá bom? — Ela disse olhando diretamente para minha filha.
— Tá bom! — Ellie disse dando uma risadinha gostosa, aquecendo o meu coração. Era a primeira vez que eu via minha filha tão feliz.
— Yuna? — Uma voz grossa soou atrás de mim, conhecida.
Não. Não. Não. Não. Não.
Yuna soltou a mão de Ellie, passando correndo ao meu lado com um sorriso enorme e os bracinhos abertos.
— Papai!

Peguei Ellie no colo antes de me virar, constatando que os meus pesadelos eram bem reais.
Bem ali, na minha frente estava ele.
Min Yoongi.
Segurando em seus braços de forma carinhosa a primeira amiguinha da minha filha. E também, o fruto de sua traição. O grande motivo da nossa separação.
Isso não pode estar acontecendo.
— S/N. — Disse baixo, surpreso ao me ver.
— Olá, Yoongi. — Movi a cabeça, em um cumprimento que ele devolveu.
— Papai, você conhece a mamãe da Ellie? — Yuna perguntou, passando os bracinhos em volta do pescoço do pai.
— É, nós... — Ele pigarreou. — Somos velhos amigos, querida.
Mentira.
Ellie ainda tinha dificuldade com desconhecidos, então enfiou sua cabecinha entre meu ombro e pescoço.
— Vamos lá? — Ele perguntou à filha, que assentiu. — Foi.. bom ver você, S/N.
— Tchau, Ellie! Até amanhã! Não esquece do filme! — Yuna gritava, agora nos olhando por cima dos ombros de Yoongi. Ellie apenas acenou, ainda muito envergonhada.
Com o coração na garganta, fui até o carro e prendi a garotinha na cadeirinha.
Minhas mãos tremiam no volante e eu sentia o suor frio escorrer em minha nuca.
— Mamãe, coloca o filme da Mulan pra mim? — Ellie perguntou assim que chegamos.
— Claro, querida.



Min Yoongi

Coloquei Yuna adormecida em sua cama, ainda sentindo meu coração retumbar pelo reencontro inesperado.
Ainda me lembrava perfeitamente da última vez que havia visto S/N.
E da forma como eu havia a magoado.
Ela saiu dessa mesma casa, carregando sua mala, com o coração quebrado e o rosto molhado por lágrimas.
A mãe de Yuna havia aparecido de surpresa, jogando em cima de mim a bomba de que a nossa noite havia resultado em uma gravidez.
Eu me sentia o pior dos homens por ter traído S/N.
Estava bêbado como um gambá aquela noite, mas isso não justifica os meus atos de forma alguma.
Por semanas me senti culpado, dando a ela uma quantidade exorbitante de presentes, como se aquilo fosse suprir o rombo que abriria em seu coração se ela descobrisse a minha burrada.
Mas ela descobriu, da pior forma possível. Com Yeon-hee invadindo a minha casa e jogando o teste de gravidez em meu colo.
Por meses eu tentei contato, mesmo sabendo que não era digno do seu perdão.
Um gosto amargo invadiu a minha boca, ao lembrar da cena em frente a escola. Ela havia seguido em frente. Tinha uma filha, uma família.
E eu não podia deixar de imaginar como seria se essa fosse a nossa família.
Yeon-hee abandonou Yuna logo após o nascimento, sumindo no mundo sem deixar rastros.
E eu fiquei sozinho, com um bebê recém nascido para cuidar e uma carreira que começava a decolar.
Me senti perdido, desnorteado.
Por mais de uma vez, varei madrugadas chorando junto com a minha filha, sem saber o que fazer.
Durante todos os anos que passaram, eu me perguntei como ela estava.
Se estava bem, se estava feliz, se havia seguido em frente e realizado seus sonhos.
Nunca esperei que fosse vê-la novamente, muito menos que as nossas filhas fossem virar amigas.
Yuna é muito sociável, ela adora fazer amizades.
Mas, de todas as garotinhas que poderia conhecer, ela se afeiçoou justamente àquela que era filha da mulher que eu amava, que nunca fui capaz de esquecer.
Da mulher que deveria ter sido a sua mãe.

As voltas que o mundo dá • Min Yoongi [FINALIZADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora