capítulo 4

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Aqueles olhos verdejantes...

Se passou uma semana e James é simplesmente um fofo, desde o dia que comentei amar girassóis ele me traz um buquê, ele diz que é para agradecer e surtou quando eu disse que nunca havia ganhado um. Descobri que ele é todo atrapalhado e pasmem ele tem baixa autoestima, se ele que parece um Deus grego é assim imagina como eu me sinto?

Ontem James caminhou comigo pelo jardim atrás do hospital onde tem um parquinho, a maioria das crianças que ficam internadas aqui ficam entediadas e mesmo sendo perigoso se infectar com vírus e bactérias, os senhores da faxina higienizam cada brinquedo após o uso.

James falou que isso estimula também o sistema imunológico das crianças a se fortalecerem, não é demais?

James pegou um crisântemo do jardim e colocou em minha orelha me fazendo rir, pode ser algo bobo, mas o fato dele me dar flores me faz muito feliz - Crisântemo significa tranquilidade, sabia? - James sorriu corado e desviou o olhar - Sério? Isso é tão lindo... - Ele sorriu novamente com aquele olhar, e apesar de não saber o porquê dele me olhar assim, sinto que mudei algo em seu coração, mesmo sendo há uma semana.

Arthur me falou que James era mal-humorado e muito cético a respeito de algumas conversas, mas comigo ele está sendo um amor de pessoa. Mesmo que eu já o tenha visto brigar sobre a ética e moral de um doutor com Arthur que passa os dias fuzilando James com os olhos. Maria só sabe rir da situação, diz ela que graças a James, Arthur deu alguns belos momentos de sossego para a mulher relaxar, e que rendeu altas risadas entre ela e as crianças.

Alguns dias atrás James estava realmente irritado e insuportável, acho que brigou com seu pai, mas não quis admitir que foi ele quem começou, por isso foi dormir em minha casa. Sou burra? Não. Louca? Talvez...

Porém, tudo correu bem, menos para o meu lindo coração que a cada sorriso corado desse homem sinto meu coração errar um compasso, Maria disse que estou mais sorridente e animada e talvez eu esteja mais ansiosa pelos dias que posso passar com ele. Talvez eu esteja mesmo, sempre me pego sozinha pensando em James e no hospital, antes era só eu Maria e Arthur e mesmo não sendo da família Maria me disse que sou sua filha, me rendendo muitas lagrimas.

Se algumas semanas antes alguém me falasse que James chegaria iluminando meus dias nublados e monótonos, eu debocharia da pessoa e ainda tentaria bater nela. James me deu razão para viver e mesmo me achando louca por me sentir assim somente com uma semana e meia de amizade, eu passei a não ligar muito, já que morrerei de qualquer jeito. Prefiro morrer feliz do que me remoendo por nunca fazer as coisas que eu queria.

- Quer ir passear no parque comigo? - Olho para ele com curiosidade e dou um sorriso travesso - É assim que as protagonistas morrem em filme de terror! - James gargalhou me fazendo rir também, apesar dele dar sempre pequenos sorrisos e a maioria ser com ele corado, os momentos em que ele solta essas gargalhadas é que me deixa feliz. Reconheço a maioria de seus sorrisos, e por ser uma pessoa acostumada a dar sorrisos falsos, sei que a maioria que James dá para as pessoas, são também.

Deus, o senhor pode ajudá-lo a rir assim mais vezes? Ele não percebe, mas seus sorrisos são os mais lindos que já vi!

[...]

James Castellani

Seguro na mão da mulher enquanto caminhávamos pelo parque, Mary parecia tão radiante e animada que me peguei sorrindo feito um bobo. Eu não gosto de sorrisos, sorrisos são para pessoas boas que gostam da vida e sabem apreciá-la, eu não tenho ressentimentos sobre muitas coisas, mas Mary sempre me faz questionar se não estou vivendo de maneira errada. Demos uma volta pelo lago enquanto observamos as pessoas fazendo piquenique, e é intrigante como elas conseguem sorrir para outras pessoas com tanta facilidade.

- Que tal comermos algo? - Mary sorri e aperta minha mão enquanto me leva até um carrinho de algodão-doce.

- Sabe que se Arthur me pegar te dando doces enquanto faz quimioterapia ele vai me bater né? - Mary solta uma gargalhada deliciosa para meus ouvidos.

Quando a mulher não está observando as paisagens presa em seus próprios pensamentos, ela está sorrindo, mas não tem esse sorriso atual. Ela tem os melhores sorrisos que já vi, nem mesmo uma pintura de Van Gogh poderia se igualar.

- Se você não contar... podemos viver bem felizes por vários dias antes dele fazer teste de sangue em mim, o'que acha? - Rio baixo com a astúcia dessa mulher e pago pelo algodão-doce.

- Quer um pouquinho James? - perguntou.

- Não, obrigado querida, não gosto. - Mary me olhou horrorizada.

- Você é psicopata? - Coloco a mão em minha boca para não rir alto e limpo uma lágrima que caiu dos meus olhos.

- Não, Mary... eu não sou um psicopata, simplesmente não gosto. - Mary me fitou com seus belíssimos olhos verdes enquanto cruzava seus braços, como se eu tivesse feito alguma bagunça e estava levando bronca.

- Não gosta ou nunca comeu? - ela perguntou.

Nunca parei para pensar nisso, quando foi a última vez que comi algodão-doce? Lembro vagamente da minha mãe estar feliz no dia, ela sorria como se todos nossos problemas nunca existissem, mas como nem tudo são flores me lembro vagamente dela apanhando do meu pai quando chegamos em casa, depois desse dia nunca mais pedi pelo doce.

Como se percebesse que a pergunta me machucou, Mary segurou minhas mãos enquanto observava minhas feições, penso que meu rosto possa ter ficado pensativo e angustiado para ela me olhar com preocupação.

- Só faz muito tempo que comi, e desde então não provei, mas... só sei que não gosto. - Como se ela soubesse oque eu estava pensando, Mary me abraçou.

De início meu corpo ficou estático, mas em seguida relaxei quando seu cheiro de amora tocou meu nariz, pode passar 10, 20, 40 ou até mil anos, mas o cheiro dela sempre será meu aroma favorito.

- Abre a boca James, vou te mostrar como um simples" algodão-doce" pode te fazer muito feliz! - Sorri pela sua insistência e abri minha boca, por ela ser menor que eu, me abaixei um pouco enquanto Mary levava o doce à minha boca.

Seus dedos tocaram meus lábios e um arrepio delicioso chegou até minha espinha, Mary suspirou e logo afastou suas mãos de minha boca me deixando parado no mesmo lugar ainda sem reação, borboletas dançavam em meu estômago enquanto observava suas bochechas coradas e a ponta de suas orelhas também.

- Obrigada... realmente, ainda e muito.... Delicioso... - Vejo o corpo da mulher se arrepiar e um sorriso ladino e envergonhado aparecer em seu rosto delicado.

- E-Eu sabia que você ia gostar! - murmurou envergonhada - Você tem razão... Mary. - Saímos da nossa "bolha" extremamente perigosa quando uma das crianças no parque esbarraram na mulher. Percebo a situação e logo meu rosto ficou todo corado, escondo meu rosto nas costas da minha mão e me afasto rapidamente.

Mary também parece perceber o'que havia acontecido e fica de costas para mim enquanto come rapidamente o doce. Se essa mulher não me matar de desejo, ela com certeza também vai me matar do coração, literalmente. Mary segura minhas mãos me tirando dos meus pensamentos, nada éticos, enquanto me guia pelo parque em direção ao carro, não falamos nada nem mesmo sobre o acontecimento de minutos atrás, mas se ela não falou nada, porque ou continua surpresa, ou então... Ela pode ter gostado e até mesmo desejado o mesmo que eu.

Seus lábios estavam tão convidativos naquele momento, foi como se o paraíso estivesse na minha frente e eu precisava somente da chave para entrar nele. Os olhos verdejantes dilatados pareciam ainda mais brilhantes e verdes como se eu estivesse olhando para uma floresta no auge da primavera, tão intensos e apaixonantes, tão... Ela... porra, Mary.

Entre as EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora