Capitulo 2

47 21 43
                                    

Querida musa...

Infelizmente o dia estava lindo, nenhum sinal de chuva ou cheiro de terra molhada. Dirijo pelas ruas mais longas da cidade tentando não chegar na hora descrita no papel. Com certeza aquele médico charlatão sabe que não chegaria na hora e deu o horário mais tarde para o garoto, não que eu tenha algo contra ele já que temos quase a mesma idade, ele tem 20 anos e eu 26. James é loiro de olhos azuis, e pela foto que o Dr. Arthur mostrou eu quase achei que era um modelo, só não entendo porque ele ia querer ser voluntário.

Meia hora depois estaciono o carro na garagem do hospital, suspiro contando até dez e saio do carro, vou caminhando lentamente pelo corredor e dessa vez mudo a direção indo para a cafeteria, algumas senhoras me cumprimentam com os seus típicos sorrisos gentis.

Observo Arthur acenar na mesa, ao seu lado está Maria e de costas para mim o tal James, ombros largos, cabelos loiros e sedosos e tenho certeza ser macio também, observando melhor parece vestir um sobretudo bege, conclusão... Talvez, bonito!

Balanço levemente minha cabeça para afastar esses pensamentos e dou meu típico sorriso falso enquanto Arthur se levanta para me abraçar, mas Maria entra na sua frente me abraçando primeiro.

Não contei, mas dona Maria e Dr. Arthur não têm filhos. Maria nunca pode engravidar e, apesar de achar triste, a mulher disse que acha isso normal, seu sonho é adotar uma criança. Apesar de Arthur não ligar muito, já que tudo que a mulher fala é lei, ele fica um pouco preocupado quando toca no assunto somente para não chatear a mulher.

Maria já entrou na fila de adoção e foi até mesmo na África procurando uma criança e deu super certo pelo o'que ela me contou, Ashia e Amai. Ambas são irmãs sendo Ashia a mais velha com 14 anos e Amai de 6, Maria já está podendo receber as crianças em casa e está super feliz que às vezes fica tão radiante quanto o sol.

Me sento ao lado de James e me viro para ele lentamente, meus olhos verdes travaram, sinto meu coração bater forte e descompassado e tenho certeza, se eu não estivesse sentada eu teria caído, sabe aquelas músicas românticas que sempre tocam nos filmes ou novelas quando os protagonistas se conhecem? Pois é, tenho certeza de estar escutando alguma delas tocar nesse momento. James é mais bonito que na foto, ele não é um modelo, mas tenho certeza de que os deuses o abençoaram muito antes de nascer. Seus olhos são azuis como o oceano, seu cabelo parece ser feito de ouro quando batem os raios de sol, eles caem tipo em cascata pelo seu rosto, lindo...

Deus, eu quero refazer o meu pedido, por favor, me dê coragem para não beijar esse homem!

Respiro fundo para acalmar meu coração acelerado, James está corado e isso não está ajudando meu coração doente. Ele desviou seu olhar escondendo o rosto nas costas da mão, além de lindo e fofo também é tímido, isso não é pecado?

Arthur começa a falar algo sobre como seria minha convivência com James e, para falar a verdade, não prestei atenção em absolutamente nada, Maria me olhava com aquele olhar de deboche. Ela havia apostado comigo que eu iria me surpreender e eu só não contava com tudo "isso", concordo no automático com tudo que o homem fala e minha curiosidade pelo garoto à minha frente só aumenta cada vez mais. Como é sua voz? Fina ou grossa? Rouca ou não? Que Deus me perdoe, mas, porra... Esse garoto é um problema que estou disposta a desvendar.

[...]

James Castellani

 Mary estava linda, seus cabelos de fogo caindo em cascatas por suas costas, ela está deslumbrante como uma deusa, Mary e a deusa das artes. Ela é minha Athena. Mary se senta ao meu lado e seu cheiro de amora me deixa anestesiado, observo suas feições com intensidade. Apesar dela estar sorrindo, em seus olhos tem uma pitada de tristeza e aquele olhar vazio que odeio, que já foi muito visualizado no rosto de minha mãe.

Começamos a conversar diversos assuntos sobre o hospital e alguns recursos que devo considerar, Mary a todo momento me olhava de relance e tenho certeza que meu rosto avermelhado não está ajudando. Seu olhar quando observou meu rosto foi tão quente e intenso que fez meus pelos se arrepiarem, sua expressão quando me viu tentando esconder meu rosto corado foi tão lindo quanto mais preocupante.

Considerando a personalidade dela que estou observando agora, ela não deixará isso quieto tão cedo, já consigo até mesmo pensar nela fazendo de tudo para me provocar.

Minha mãe sempre fala que minha parte observadora é um defeito, não por ser algo ruim, mas sim por sempre saber oque as pessoas fazem baseadas em suas ações e hábitos. Mary suspirou quando nossos ombros se encostaram, sinto todo meu corpo esquentar e o desejo de tocá-la é mais que evidente agora.

Maria, que me foi apresentada mais cedo, nos observa com divertimento. Seu sorriso debochado me deixa muito mais envergonhado, doutor Arthur está falando sobre as consequências que a falta de atenção a um paciente pode ser fatal, mas a única coisa que consigo fazer agora é concordar com a cabeça.

Escolher ser voluntário não foi uma ideia ótima na hora, mas quando descobri que seria ela a paciente me deixou extasiado e preocupado. Saber que o meu primeiro amor pode morrer a qualquer momento me deixa ansioso, Mary não se lembra, mas nos conhecemos há muito tempo. Acho que por ela ser seis anos mais velha que eu, também não ajuda tanto.

Sempre observei Mary quando éramos crianças e mesmo agora esse hábito não mudou, sorri com o pensamento de seus cabelos de fogo todos ouriçados quando éramos pequenos, ela nunca gostou de penteados chiques como as outras crianças, todavia, eu amava sempre que podia passar a mão em seus belíssimos cabelos. Mary corou quando viu meu sorriso, percebo que algo nela ainda se lembra de mim e talvez a morte de sua mãe tenha a feito esquecer várias memórias para ela não continuar sofrendo.

Tenho certeza que ela nunca reparou, mas suas bochechas têm pequenas sardinhas que parecem pequenas flores, para mim Mary passou a ser a garota mais deslumbrante que já vi.

Todas as mulheres que conheci sempre quiseram ser Afrodite, mas por incrível que pareça, Mary sempre será Athena, minha musa de inspiração, e de pouco em pouco está se tornando meu lar, mesmo que seja cedo para isso.

Faz tanto tempo que não desenho, mas só de observá-la por alguns minutos eu já queria fazer um enorme retrato.

— Está tudo bem James? — Arthur perguntou me tirando dos meus pensamentos.

— Sim... estou... — Não, eu não estou, Mary arrancou qualquer resquício de razão que eu tinha no corpo. Eu não estou bem e também não ficarei por bastante tempo, a única coisa que vai me acalmar agora seriam seus lábios carnudos e com certeza macios grudados nos meus...

Porra... Talvez te-la encontrado despertou coisas ruins... Mas eu não estarei ligando para isso agora...

Entre as EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora