Poesia Disfórica

Traição

Sei ser suficiente, mas me domina o pensamento de não ser
Tenho tanto medo da falha que a tentativa nem chega a acontecer.

Insegura ou não, tudo isso é um erro infame
Pessoas seguras se esbaldam até não aguentar enquanto as inseguras morrem de fome

Lute, resgate, e retroceda a famigerada liberdade
O ato de voltar ao passado que faz lembrar de sua mediocridade

Rancor demasiado inocente e indolor fruto de uma memória vívida
Memória vivida dia após dia, passagem de sua maior dívida

Corra, fuja do mundo, se esconda de sua responsabilidade
É mais fácil se afogar na dúvida do que sofrer descobrindo a verdade

Arranque de mim até o último resquício de bondade crua
Queime minha pele, minhas cicatrizes, deixe minha alma nua

Te dou a confiança que me resta para que possa me despir
Estou vulnerável agora, me entrego em tuas mãos, já não tenho para onde fugir

Me deixe, mas não se vá, preciso que fique para que veja meu afogamento
Resolvi pular no fundo do poço, só por que gosto do sofrimento

Só sou livre por que criei a chave de minha própria cela
Esperei que você abrisse a porta esse tempo todo, mas você já tinha aberto a dela

Escolha mais uma vez, prometo, não te darei mais nenhuma chance
Digo a mim mesma depois de me convencer que a decepção faz parte desse romance

Estive eufórica esperando por você depois de sua partida
A espera foi tanta, a ânsia foi tanta que se dissipou na expectativa

O que mais me machuca e fere o peito é essa indecisão
Te liberto de suas amarras mas nunca consigo fugir da minha prisão.

Pode me enganar, me trair, arrancar de mim toda a afeição.
Eu sou fraca demais para conseguir sair desse ciclo de ilusão.

Se amar alguém verdadeiramente fosse para você a sua única decisão
Eu seria na sua vida uma prestigiada dama, digna de sua atenção?

Só pare de mentir para mim, todo esse discurso é por quê você teme não ter o meu perdão.
O meu perdão você terá, mas guardo na memória o exato momento em que você partiu meu coração.