Sangria

14 2 0
                                    

Sorte tem quem espanta seus males sozinho
Eu também vos faço, porém, na calada da noite

E quem disse que eu me curo?
Eu só limpo a sujeira e passo ali um curativo na ferida superficial

O corte profundo que se vire para cicatrizar-se sozinho

Eu que jamais perderia meu tempo comigo
Eu que jamais levantaria um dedo por mim

Que nem sequer elevo meu ego
Que nem sequer consigo manter uma autoestima

Prefiro fazer-lo por você
Você que irá me cortar diversas vezes só para se sentir curado
Você que irá me fazer ter pesadelos mesmo estando acordado
Enquanto isso, você me vê, sorrindo ali, caído no chão nivelado

E de novo vê no seu jogo, uma oportunidade de me partir em duas só para que eu possa experimentar o vazio
Você quer alguem que tire cada galho do caminho que vier a machucar os seus pés macios

Alguem que tire delicadamente cada farpa que venha a ser um tormento para seus pensamentos de explicitação
Alguem que transforme seus pesadelos mais sombrios em doces sonhos de uma noite de verão

E não importa se fere a alma ou se decepa os dedos nessa sangria trivial
Se comparada a ferida exposta uma hemorragia interna vira o ferimento mais banal

E se soubessem como dói não saber se o sangramento um dia irá cessar
Ouvi dizer que a dor da vida não tem cura você só precisa se acostumar

Foi o que disseram os homens, trajados de chápeu, frascos de veneno e decepção
O que importa não é o que você fez para conseguir, e sim do que teve que abrir mão.

Poesia DisfóricaOnde histórias criam vida. Descubra agora