Humanidade

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Somos a voz da cela em francês, a palavra da palavra, a palavra do lote, a palavra do adotante e da maioria dos cães.

Uma cobra, um gato, e tudo o que me convence.

Somos a vida que está presa, a coleira que nos prende, o refúgio que nos alenta.
Somos o veneno mais letal, a pele mais densa, o vermelho mais frio, essa é nossa sentença.

Somos a peça mais ardilosa, o olhar mais profundo
a garra, o corte, o mundo.

Somos os monarcas, os dominantes, temos o maior dos poderes e o destino que traz a morte.

Sou a morte que esperam pela chegada.
Sou a vida que corre pelas veias.
Sou a maior das criaturas.
Sou o lobo e a ovelha.

Eu sou um animal.
Um humano.
Sou banal.
Tenho em mim a cultura, a amargura e o anormal.

Agora nessa peça, já escolhi o meu papel.
Só falta ingressar no personagem, tirar lá do fundo a coragem, e ser o indivíduo mais cruel.

Tenho que esfriar, tirar de mim esse gosto.
Sabor que ficou em meus lábios, depois de experimentar o desgosto.

O término daquela paixão ardente me deixou assustado.
Foi tão repentino que deixou meu coração quebrado.

Eu realmente não tenho ideia, mas sinto que estou ferido.
Porém, ainda tenho a certeza que não se pode quebrar um coração que sempre esteve partido.

O teto está cada vez mais aparente, a escuridão é feita de mim.
Procuro pela luz que está lá no fundo, mesmo sabendo que não chegarei até o fim.

A porta está entreaberta, me acostumei com o vazio.
Me acostumei a não sentir nada, me acostumei com esse frio.

Poesia DisfóricaOnde histórias criam vida. Descubra agora