Intervalo I

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Kurama guardou o nome de alguns humanos ao longo de sua vida. Ou mais precisamente, ao longo das últimas décadas de sua vida. Nomes como o de Madara, o de Hashirama. Como o de Mito, sua odiosa Shodaime Jinchuuriki, e Kushina, sua Nidaime Jinchuuriki. Não tão odiosa quanto Mito, mas Kurama definitivamente não gostava nem um pouco de Kushina. Seu desprezo pela mulher Uzumaki era palpável. Pelas mulheres Uzumaki.

E então havia o mais novo nome que conseguiu ficar guardado em sua memória: Naruto. Seu Sandaime Jinchuuriki. Isso por si só era motivo o suficiente para ele odiar o pirralho e desprezar sua existência, além dele ser um Uzumaki. Não que Uzumaki e Jinchuuriki já não sejam basicamente sinônimos para Kurama.

Mas Kurama não guardou o nome de Naruto somente por ódio, como todos os demais. Claro, por muito tempo (que hoje Kurama sabia dizer que foram doze anos) ódio foi a única coisa que conseguiu sentir em relação ao seu Sandaime Jinchuuriki; era seu Jinchuuriki, afinal. Porém Kurama enfim teve seu primeiro encontro real com Naruto e pôde substituir a visão indignante de que seu cárcere era um minúsculo pedaço de carne, um bebê humano, por algum pirralho mais crescido e mais desenvolvido. Ainda um pequeno pedaço de carne, no entanto.

Kurama não sabia se odiava mais ele ser a imagem cuspida do Yondaime ou odiaria mais se ele fosse como Kushina e Mito, mas de alguma forma Kurama ainda conseguiu enxergar todos os três em Naruto e isso só fez Kurama o odiar ainda mais (quando Kurama descobriu que esses três ainda eram os ídolos de seu novo Jinchuuriki Kurama só riu porque quão estúpido).

Naruto chegou em Kurama sem nem saber onde estava ou como havia chegado lá. Kurama ficou particularmente decepcionado e frustrado pelo pirralho não estar em uma situação de risco, ou tomado por alguma emoção como ódio, fúria ou até sentimentos mais amenos como irritação ou chateação, qualquer coisa que Kurama pudesse se aproveitar. Então, sem recursos para manipulá-lo a pegar seu chakra e cair sob seu controle e dominação, Kurama decidiu criar seus próprios.

Pegando toda sua malícia e ódio, Kurama foi o mais cruel que conseguia com aquele pirralho, saboreando da liberdade adicional que o selo do Yondaime lhe dava e do medo que o pirralho lhe enviava de volta em ondas, mas no final Kurama não conseguiu chegar em lugar nenhum. E, mesmo não entendendo como Naruto continuava voltando, Kurama não conseguiu cedê-lo após inúmeras tentativas.

Escusado dizer que Kurama ficou frustrado, muito, muito frustrado com isso. Frustração foi a segunda emoção que Naruto lhe fez realmente sentir em relação a ele, de uma maneira que Kurama nunca havia sentido antes com nenhum humano. Kurama já havia se sentido frustrado muitas vezes antes, sim, mas sempre era consigo mesmo ou com a situação, não com o humano.

Mas Kurama não deixou isso lhe abalar (era necessário muito mais) e transformou sua frustração em raiva, então raiva em fúria e por fim fúria em ódio – mas não exatamente. Kurama só pegou tudo e jogou como combustível para sua intenção assassina, forçando seu chakra junto no meu do caminho. Se Naruto não iria pegar seu chakra, Kurama de bom grado daria seu chakra para o pirralho. Tudo para enfraquecer o selo e para preparar Naruto quando ele enfim vier procurar Kurama por si mesmo.

E tudo isso para, mais uma vez, em nada dar no final. Naquele ponto Kurama só aceitava que, por qualquer motivo, Naruto continuava voltando e ficou perfeitamente satisfeito em ignorá-lo até que parasse. Kurama só aguardaria quando sua chance de se libertar vier, já que ficou amargamente claro que suas tentativas de criar essa chance eram completamente ineficazes.

Pelo menos Naruto ficou satisfeito em somente ignorar Kurama também. Isto é, inicialmente. Com o tempo Naruto só ficou mais e mais entediado e deixou Kurama irritado com sua inquietação (o pirralho não ficava parado!), não o deixando dormir e isso era algo que Kurama não perdoava (dormir era um prazer e luxo que Kurama há muito não mais tinha o privilégio de possuir, Kurama queria apenas aproveitá-lo mais uma vez). Essa foi a terceira real emoção que Naruto lhe deu – irritação. Kurama pode ter sentido irritação de Mito e principalmente de Kushina, mas a irritação que Kurama sentiu com elas foi fortemente atrelada ao ódio para ser algum sentimento separado.

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