Cap.02

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Bom dia, meu nome é Gösta Lundin e sou professor emérito de psiquiatria e autor de Avítima e o perpetrador, que presumo que alguns de vocês tenham lido.Não é preciso levantar a mão. Mas obrigado, obrigado. Eu agradeço.Antes de começarmos, quantos de vocês são policiais? Agora vocês podem levantar amão.Certo, e assistentes sociais?Aproximadamente metade de cada. Bom, eu gosto de ter uma noção. A questão éirrelevante na realidade, uma vez que eu não costumo adequar o conteúdo das minhaspalestras ao grupo profissional para o qual esteja me dirigindo. Acho que é só curiosidade.Talvez eu fosse um pouco mais cauteloso se houvesse apenas policiais, policiais céticosde braços cruzados. É possível, não sei.Mas, de qualquer forma, qual a importância disso? O tema de hoje é: Como é possível?Trata-se de uma pergunta que frequentemente fazemos a nós mesmos. Como épossível? Por que eles não reagem? Por que não fogem?Muito similar às perguntas que as crianças fazem quando ouvem pela primeira vez arespeito do Holocausto. Como foi possível? Por que ninguém fez nada? Por que ninguémfugiu?Então vamos começar aí. Com Adolf Hitler.Como todos sabem, o austríaco de bigode não é mais simplesmente uma figurahistórica, ele também assumiu proporções míticas. Atualmente Hitler é um parâmetro decomparação, ele é o símbolo por excelência da maldade pura."Eu estava apenas seguindo ordens" é uma frase comum e um lembrete paraquestionarmos constantemente a autoridade e agirmos de acordo com as nossasconvicções.O completo oposto de Adolf Hitler neste país se chama Astrid Lindgren.Astrid Lindgren simboliza tudo o que há de bom na vida. A sábia e moderada humanistaque cultiva e acredita no bem inerente às pessoas.Uma série de histórias e frases edificantes é atribuída a Astrid Lindgren. Uma dascitações mais famosas é que às vezes precisamos fazer coisas, mesmo que sejamperigosas. Porque, de outra maneira, não somos humanos, apenas montes de poeira.Adolf e Astrid, preto e branco, o mal e o bem.Essa abordagem ingênua do certo e do errado é sedutora e nos atrai. Queremos ser umdos mocinhos, fazer a coisa certa.Depois de anos entrevistando tanto vítimas quanto perpetradores — que também sãovítimas, algo que muitas vezes gostamos de esquecer —, eu sei que a maioria aqui nestasala, e isso vale também para mim, poderia ser persuadida para uma ou outra direção.Todos nós temos um Adolf e uma Astrid dentro de nós. Seria bobagem não assumirisso.Mas chega de filosofar. Estou aqui para falar como isso funciona na prática.Os métodos usados pelos perpetradores para subjugar suas vítimas são os mesmos nomundo inteiro e tão antigos quanto as montanhas. Chefes usam as mesmas técnicas queditadores, pela simples razão de que existem apenas duas maneiras de governar: acenoura ou a vara. Pode haver mais de uma e menos da outra, mas todos os métodos sãovariações dessas duas.Infelizmente, não sou pago para chegar aqui e falar sobre coisas difíceis em umalinguagem simples. Afinal de contas, sou um acadêmico e, como tal, tenho umaexperiência considerável em defender minhas ideias e me fazer parecer inteligente eprofundo.Razão precisa pela qual as apresentações em PowerPoint foram inventadas.1. Afastamento, isolamento social2. Violência sexual3. Fome4. Violência/ameaça de violência5. Depreciação6. Dívida7. Amizade, privilégios8. Negação de si mesmo9. Futuro sem esperançaTodos conseguem ver? Ótimo. Então vamos começar com o primeiro ponto...

Não Voltarás (Hans Koppel)Onde histórias criam vida. Descubra agora