Cap.12

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A Gangue dos Quatro, pensou Calle Collin e suspirou alto.Jörgen Petersson tinha dinheiro demais, isso era óbvio. Dinheiro demais, tempo demaise muito pouco para fazer. Ylva seria o equivalente à velha viúva de Mao, era isso que eleimaginava?Calle quase se irritou. Por que todos os malucos vinham até ele? Ele era um ímã deidiotas. Por acaso tinha um sinal em néon dizendo "tolerante" na testa? Era bonzinhodemais? Será que eles achavam que, por ser homossexual, ele compreendia a dor de serum excluído e assim recebia todo homem e seu cão de braços abertos?Provavelmente a última hipótese. O preconceito positivo podia ser tão difícil de lidarquanto o negativo. Jörgen o havia chamado de "bicha de bom coração". E Calle perguntarao que isso fazia dele, uma maria purpurina?A Gangue dos Quatro. Quão imbecil era aquilo?O que Jörgen tinha na cabeça afinal?Calle ainda estava deitado. Estava com dor de cabeça e cansado demais para semasturbar. Mas podia sentir a agitação do álcool em vias de deixar seu corpo. Bateu umapunheta do mesmo jeito. Para tapear a ressaca e a ansiedade e mudar seu estado deespírito. Calle gozou na barriga e saiu da cama com a mão sobre o esperma, para que nãopingasse no chão. Apressou-se até o banheiro, limpou a barriga, deu uma mijada e voltoupara a cama.A Gangue dos Quatro. Como se eles fossem um grupo de dissidentes em hábitos demonge que falavam línguas estranhas e eram irmãos de sangue.Eles não eram tão ruins. E, de qualquer maneira, a turma meio que se desintegrou aolongo do nono ano e formou novas alianças e constelações.Típico de Jörgen lhes dar um nome. A Gangue dos Quatro.Ele sempre dramatizara exageradamente as coisas quando garoto. Mas talvez estefosse o segredo do seu sucesso — que ele não tinha a atenção desviada pelos detalhes,que ainda podia ver a floresta apesar das árvores.Esse foi o último pensamento que passou pela cabeça de Calle antes de ele cairalegremente no sono.

Não Voltarás (Hans Koppel)Onde histórias criam vida. Descubra agora