Prólogo

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Sexta-feira, 03 de fevereiro 

17h42min


— Olha só para ele — ouço Tata dizer à minha frente.

— Seria indelicado da minha parte olhar para trás — respondo.

— Podemos descrevê-lo para você — propõe a outra menina.

Estou cercado delas, no nosso café de sempre. São como as três górgonas devorando com os olhos quem quer que esteja atrás de mim, do outro lado da rua.

— A Juju tem razão — concorda a terceira, à minha direita. — Ele é alto.

— Não acho que seja uma descrição muito específica — pontuo.

— Droga, Oscar! — Tata se enfurece. — Troque de lugar comigo.

— Repito: indelicado — tenho que reafirmar.

— Ele não vai ver — ela continua. — Está distraído com alguma coisa no telefone.

— Não acho que ele seja daqui — Lili sugere. — Olha como ele mexe no celular, como se fosse ser assaltado.

— Deve ser da cidade — digo.

— Eu acho que ele está aqui para algum casamento — Juju compartilha sua hipótese. — Aquilo na mão dele parece um terno.

— Ninguém vai casar. — Tata é categórica.

— Não que a gente saiba — Lili rebate.

— A gente saberia — Tata contra-ataca. — Conhecemos todo mundo.

— "Todo mundo" é um grande exagero — lembro-a.

— Cala a boca — Tata ralha, mas não levo a sério. Ela está muito concentrada em olhar pelo vidro atrás de mim para pensar no que diz.

— Ele está se mexendo! — Juju nos avisa. Não que isso faça alguma diferença para mim, já que não o vejo.

— Caramba... — Tata se exaspera como se tivesse acabado de ter uma epifania.

— O que foi? — Dessa vez, ela conseguiu minha curiosidade a seu serviço de fofocas.

— Ele é da nossa escola — Tata conclui.

— Como sabe? — Vejo Lili franzir o cenho.

— Aquele é nosso uniforme. Olha o brasão da escola no bolso.

— Eu não vejo nada — Lili segue incrédula.

— Não é minha culpa se você é míope — Tata segue recusando a rendição.

— Eu não sou míope — Lili assume a defensiva.

— Não é o que seu oftalmologista disse — Juju ri brevemente.

Eu e Tata nos entreolhamos por um breve momento. Não sabíamos que Lili tinha ido ao médico, de fato. Para nós, sua péssima visão era apenas uma piada, não uma realidade. Porém, descartamos qualquer pensamento a respeito disso em milésimos de segundo. Suponho que todo quarteto seja formado de duplas. Tata era a minha; Lili e Juju eram a outra. Ninguém estava insatisfeito, então, não havia pelo que se doer. Não era como se eu e Tata também não tivéssemos nossos próprios segredos.

— Ele olhou para cá! — Lili falou um pouco alto demais.

— Pelo amor de Deus, disfarce! — Tata rosna para ela, entredentes, tentando manter a postura, como se também não estivesse prestes a ter um ataque de nervos.

Antes que chovaOnde histórias criam vida. Descubra agora