TER 07/02 - 20H42MIN

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O caminho de volta do cemitério é recheado com murmúrios e sons de saltos sobre o paralelepípedo, como se houvesse alguma proibição quanto a falar alto. Estou chutando uma pedra há pelo menos seis metros, andando entre Tata e Lili, quando passamos em frente à padaria; paralisamos — foi o último lugar onde estivemos os quatro reunidos.

— O Rodrigo me intimou a fazer um discurso na quinta — revelo.

— Eu não planejava ir pra escola na quinta — Tata comunica.

— Eu não planejava voltar nem mesmo na semana que vem — Lili completa.

— Eu também não..., mas ele vai fazer um memorial ou alguma coisa do tipo. Acho que não temos escolha a não ser estar lá.

Lili sacode a cabeça. — Ele não tem esse direito.

Antes que pudéssemos impedir, ela sai marchando em passos rápidos na nossa frente, afastando-se de nós.

— Olha, eu também não gosto do cara, mas não tem por que reagir desse jeito — comento com Tata.

— Ela está pior do que a gente, Oscar, tem que ser mais empático.

— Mas eu estou sendo empático — retruco. Faço o meu melhor e isso é fato. Se o meu melhor não é o bastante..., sinto que não há remédio para tal.

— Eu vou conversar com ela — Tata comunica e apressa seus passos, afastando-se de mim.

Sigo com meu ritmo lento. Não vejo motivos para ter pressa.

Ouço a voz baixa de Oscar atrás de mim, conversando com sua mãe e diminuo mais ainda minha passada, para que ele me alcance. De algum modo, a normalidade que a presença dele me traz me anestesia. É fácil estar ao seu lado.

Ele chega até mim, sem sua mãe.

— Foi uma cerimônia bonita — ele comenta. — Não imaginei que houvesse tanta gente nessa cidade.

— Boa parte não é daqui — explicito, sacudindo a cabeça em negativa. — São da escola. — Ele abre a boca por um momento, em entendimento e meneia a fronte, assentindo. — São víboras. Não se engane.

Oscar me lança um sorriso ladino. — Quando não são?

Desvio meus olhos dele quando percebo, em minha visão periférica, que alguém nos olha. É Pedro, que caminha ao lado dos pais e da irmã mais nova. Minhas bochechas assumem um tom escarlate e nem preciso me olhar no espelho para ter certeza disso. Coro como se fosse pego em um pecado, mas não desvio os olhos. Afronto meu inquisidor com mágoa na garganta. Se há algum crime sendo cometido, o criminoso não sou eu.

Faço todo o caminho de volta à igreja ao lado de Oscar. É rebeldia e eu gosto.





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