SEG 06/02 - 05H00MIN

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Estou sentado no chão do corredor, à porta do quarto dos meus pais, quando ouço o alarme da minha mãe tocar. Não sei bem como vim para aqui, só o que sei é que — sei que é ridículo e infantil — eu queria a minha mãe.

Não tive a coragem necessária para acordá-la. O que eu iria dizer? Iria apenas assustá-la. Então, me contento em me sentar e esperar. Ela se levantaria em breve para passar o meu café, perguntar mais uma vez se meu uniforme está bem passado e todas as outras coisas que uma mãe faz antes de mandar o filho à escola.

Céus... A escola! Não partirei daqui hoje. Os professores têm de entender.

Quem mais já sabe? Como isso foi acontecer? Como ela morreu? Havia tido um mal súbito ou escondia de nós alguma doença? Um acidente ocorrera? Algo havia explodido, havia caído? Ela havia se... Não gosto de pensar nesta última hipótese!

As perguntas inundam minha mente enquanto balanço meu corpo para frente e para trás, para frente e para trás... num ritmo dolorido e penoso. Sinto minhas bochechas molhadas e só então percebo que choro. É como se meu corpo reagisse naturalmente a algo que minha mente ainda não assimilou muito bem.

A porta abre e ouço minha mãe se assustar. Antes mesmo que eu olhasse para cima, ela agacha ao meu lado, passando os cabelos para trás da orelha.

— Oscar, meu filho... O que está fazendo aqui? — corre os olhos pelo meu corpo, verificando se não estou ferido.

— A Glória ligou agora há pouco... Ela... Ela disse que... — soluço.

— Aconteceu alguma coisa com a Julieta? — minha mãe deduz.

Assinto, comprimindo os lábios. — Ela morreu, mãe.

Minha mãe senta ao meu lado, puxando o robe para si, tentando manter a calma. — Mas... — não consegue evitar estar confusa — quando?

— Hoje, de madrugada eu acho — penso que também não sei quando. — A tia Glória só ligou e avisou. Não disse mais nada, desligou o telefone.

— Ai, meu Deus! Que coisa horrível — ela limpa algumas lágrimas dos olhos. — Mas a gente não pode ficar aqui desse jeito, filho — levanta, já estendendo a mão para que eu também levante. — Troca essa roupa, eu vou passar um café para gente e aí nós pensamos com calma, tudo bem? — me abraça em seguida, apertando-me com força.

Recobro a consciência quando ela me solta, reunindo forças para tirar o pijama e vestir algo.

Quando desço, o café já está na mesa. Há pão, mas não sinto fome. Apenas sento e me sirvo do líquido preto, esperando que ele me devolva alguma perspectiva.

— Já falou com as outras meninas? — minha mãe faz a pergunta óbvia, que ando ignorando.

— Eu não sei se elas já sabem. Não queria ser eu a dar a notícia.

Ela acena, demonstrando compreensão.

— Eu não sei o que fazer, mãe — confesso. — Tenho que ligar para mãe dela de volta, dizer que eu sinto muito, eu tenho que ir até lá, comprar um terno preto novo para o veló...

— Calma, Oscar — minha mãe vem até mim e coloca uma das mãos em meu peito e a outra em minhas costas. — Você hiperventilado, precisa respirar.

Ela me instrui até que me acalmo e então prossegue:

— Não há nada que possa fazer agora além de aguardar informações. Logo vamos ficar sabendo de alguma coisa. E você já tem um terno preto em perfeito estado, não precisa de outro.

— Ela iria querer que eu usasse um novo — dou um sorriso triste, lembrando como era vaidosa.

Usar o verbo ser no passado me corta em mil pedaços. Engulo em seco.

— Eu vou subir — anuncio. — Acho que eu preciso — não sei o que preciso, então penso antes de concluir: — deitar.

Deixo a cozinha e vou em direção ao quarto. Deito-me; apesar de tudo, sinto sono. O cansaço pesa sobre mim antes que eu possa refletir sobre qualquer coisa. Apago.





Antes que chovaOnde histórias criam vida. Descubra agora