O rival

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Ontem eu ia fechar o capítulo, mas participei de um evento literário e estava tão cansada que não consegui terminar. 

Tudo fechado hoje, vamos seguir com este capítulo que parece até leve, mas vai colocar as fundações para algo muito importante para o futuro da história.

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Após a conversa – que na verdade foi mais um monólogo de Santiago – as coisas dentro da Fazenda Cascalho entraram em uma espécie de paz, e uma estranha normalidade.

Cândida não estranhou a mudança de lar exigida pelo patrão; agora, Elisa dormia em um amplo quarto dentro da sede, e outro aposento estava sendo preparado para o bebê.

A única coisa que a idosa pensou foi sobre sua aposentadoria. Por muito tempo considerava que seria difícil deixar Santiago sozinho na casa, lidando com os demônios internos dele, e não queria colocar Elisa – que tinha uma vida para si, não deveria gravitar em torno de Santiago – numa situação que a complicasse.

Porém, havia algo naquela dinâmica que a acalmou. Talvez o fato de que Santiago entendera que não poderia mais esconder o próprio passado de Elisa, que logo trabalharia com ele nos mesmos moldes da experiência com Cândida; e a jovem não seria tão receptiva às explosões dele.

A primeira situação em que ela se sentisse incomodada, iria embora rapidamente. De certa forma, Santiago se desacostumou a ouvir a palavra "não" nos últimos anos.

Cândida ainda se lembrava do primeiro café da manhã na sala de jantar em tantos anos, com a presença meio mal-humorada de Santiago contrastando com Elisa um pouco incerta de onde sentar e do que fazer, a mão na barriga como segurança e a introversão reforçada pela franja de cachos cobrindo os olhos.

- Tem bastante comida pra você e pro bebê. - com o dedo enluvado apontado para os pratos, Santiago mostrou Elisa uma cesta com pão francês, de milho e de leite, além de uma jarra de vidro com leite, uma bandeja com queijos Vale das Ouriçangas – entre coalho, queijo minas e ricota. Ao lado, mamão, banana, maçã, e um prato com o cuscuz já desinformado e a fumaça saindo da comida.

- Eu não vou conseguir comer tudo isso, seu Santiago.

O fazendeiro deu de ombros.

- Coma o que der. Eu geralmente como apenas torrada com queijo.

Aos poucos, Elisa foi selecionando o que queria e incluiu no prato um pedaço de cuscuz acompanhado por queijo ricota, e tomaria café com leite.

- Só? – o fazendeiro olhou para todos os lados da ampla mesa.

- Tem comida demais, aqui, senhor... Me desculpa. – a jovem não sabia para onde concentrar sua atenção. Estava envergonhada em desperdiçar comida.

A única resposta de Santiago foi um "humpf" impaciente.

- Vamos colocar tudo em bandejas e preparar um café extra para os funcionários da fazenda que chegam cedo. Eles já comem uma refeição farta, vão apenas consumir o segundo round. Não precisa se preocupar, eu odeio desperdiçar coisas. - Santiago ignorou quaisquer outras possíveis perguntas e focou no próprio café, enquanto o silêncio tomava conta da mesa.

Mesmo com aquele clima estranho, sem palavras, Cândida percebia diferenças dentro da sede. Apenas o fato de Santiago exigir a mesa posta, farta, e não comer na cozinha, era o sinal de que pelo menos alguma coisa tinha saído de positiva de toda a confusão entre eles.

Assim que terminaram de tomar café, dariam início a mais um dia de trabalho no escritório com a leitura da agenda. O fazendeiro teria algumas reuniões online, e faria algumas ligações, já que o sindicato do setor estava interessado em sua presença em Salvador para discutir a realização de um seminário ligado a área de laticínios.

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