Jogos perigosos

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Este capítulo é muito importante, só digo isso

(saiu agora porque estava na Bienal o dia inteiro - aliás, foi ótimo, quem mora em Salvador e região metropolitana, vá porque tá bem legal)

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Todos já conheciam o gênio de Santiago dentro da recém-formada Cooperativa chamada "Coperleite", focada nas micro e pequenas indústrias de laticínios, em especial a produção artesanal.

Porém, poucos tinham tido acesso a uma mísera conversa com a secretária dele, exceto se fosse para marcar alguma reunião ou encontro dois a dois com José Antônio Santiago.

O que se contava à boca miúda, contudo, era que na verdade, Elisa Ribeiro dos Anjos era noiva do fazendeiro, e estava grávida dele.

O motivo? Em Terra Amarela só se falava nisso.

- Mas rapaz, quer dizer que seu Santiago pegou a secretária?

- Agora entendi por que do nada apareceu aquela moça aqui na cidade...

- Pelo menos assumiu o bebê, né?

- O homem é estranho, mas sempre foi respeitador.

- Ele é bonitão também...

- Oxe, mulher, nem sabia que você gostava de velho!

- Falando assim parece até que ele tá às portas da morte, ele tem quarenta anos!

- Você pegaria seu Santiago?

- Claro, pra viver com a perna pra cima dona de fazenda? Oxe!

Para completar, a forma como os dois apareciam nas reuniões, ele sempre de olho nas escadas antes da jovem subir os degraus, os olhares para que Elisa comesse tudo no prato do almoço, era como se a preocupação de Santiago fosse diferente do habitual.

- Cuidado com essas escadas, Elisa. Olhe os degraus. - Santiago sempre ficava um pouco à frente, como se escaneasse o caminho em busca de alguma armadilha, buraco, pedra, uma poeira invisível.

- Não se preocupe, seu Santiago, eu tô de tênis e...

- Como a gente sobe essas escadas sem corrimão? Absurdo.

- Seu Santiago, as pessoas do restaurante estão ouvindo...

- Que ouçam! Nem tem uma rampa, zero acessibilidade. Próxima reunião da cooperativa será em outro lugar.

O comportamento era perceptível em outras situações, como os momentos que ele a ajudava a sair do carro, quando o fazendeiro sempre perguntava sobre os próximos passos da agenda - indicando que eles teriam que fazer uma outra reunião no hotel, e os repetidos questionamentos de Santiago a respeito do fim do curso de administração. Além do fato de que, nos últimos tempos, ele sempre se sentava ao lado da secretária.

Antes, ele costumava ficar do outro lado da mesa, observando os movimentos de todos. Agora, sua prioridade parecia ser a própria Elisa, o que fazia com que os membros da cooperativa e outras figuras importantes ligadas ao setor de laticínios acreditassem na seguinte teoria: Santiago tinha um relacionamento com Elisa, Cândida estava se aposentando, e como a jovem era estudada, ele só juntou o útil ao agradável.

Santiago, apesar de ser um homem perspicaz, não parecia ter percebido aqueles olhares ou os cochichos sobre a natureza de seu relacionamento com Elisa; tampouco a jovem, cujo foco era sempre em acompanhar as reuniões, anotar as informações mais importantes, e regularmente ficar na cidade por algum tempo para a aula.

Ao mesmo tempo, ela apreciava o fato de que apesar de Santiago sempre buscar ter a última palavra em todas as situações, ele costumava ouvi-la, incluindo naquele dia, em que ao invés de ficar em Alagoinhas, os dois voltaram a Terra Amarela, mais precisamente à fazenda Cascalho.

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