Bumerangue

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Precisei entregar o capítulo de "Cascalho" primeiro porque... O título não nega o que vai acontecer aqui (ou o que já está acontecendo)...

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Um casal se encontrava em um flat na Pituba, mas não era qualquer flat. Era um apartamento por andar, e o flat em questão tinha uma varanda imensa com vista para o mar.

O casal aproveitou tudo aquilo que o espaço tinha para oferecer, incluindo algumas transas mais exibicionistas, mas em alguns momentos ainda aproveitaram para conversar.

A conversa geralmente não era sobre eles e sim sobre outra pessoa.

- Estou surpreso até agora com o fato de que você e Juan não têm um casamento feliz.

- Eu também, até o dia em que eu descobri... – os dedos de Veridiana Amaral caminhavam pelo braço nu do amante. – Que ele come as secretárias. Eu só vi uma, mas tenho certeza de que é uma de várias.

- Então eu sou... – girou o corpo e segurou a mulher, virando-a para ficar embaixo dele. – Uma vingança?

- Também. – sorriu. – Além de uma conselheira muito interessada em seu bem-estar e de sua empresa.

- O que quer dizer com isso, Veridiana?

- Simples: hora de colocar Juan Amaral para ficar mais tempo em casa.

Veridiana era consciente de que falar para Guilherme Rivera a respeito da situação da Preço Total, ou o que ela sabia, não seria nada positivo para a empresa do marido, em especial para o futuro dela – a empresa estava de vento em popa, mas Veridiana imaginava que a incorporação do supermercado de Guilherme devia ter alguma coisa complexa por trás.

Sim, ela queria provar que Juan não era apenas um péssimo marido, como também um gestor horrível; porém, a influencer não queria perder a galinha dos ovos de ouro: ela intencionava ainda engravidar do marido, e se ele quisesse a separação, teria que pagar uma bela pensão. Afinal de contas, a criança precisaria viver com ela o mesmo padrão que teria junto a Juan.

Contudo, aquela seria a última opção. Veridiana queria manter o casamento – gostava de ser a esposa de um grande empresário – mas precisava pensar no próprio futuro. Se não desse certo, ela precisava se garantir.

Gostava demais do luxo e do conforto para retornar à existência periférica de dois anos atrás.

Após mais uma rodada de sexo, Veridiana pegou o carro, estacionado dentro da garagem do flat, e voltou para o apartamento, onde não havia ninguém: Juan ficaria em uma longa reunião na empresa, e ela já tinha consciência de que talvez essa história fosse uma mentira. Ainda era dia e a influencer se sentiu entediada em casa. Produzira conteúdo para uma semana e enviou tudo para a agência que editava seus vídeos.

Eram novidades de novos restaurantes gourmet que foram abertos em Salvador, alguns recebidos e uma série que ela tinha começado sobre resort para passar o tempo com a pessoa amada.

Os stories eram bem selecionados: um café da manhã reforçado aqui, uma imagem do closet recheado acolá

Definitivamente, uma foto na varanda do flat na Pituba não seria de bom-tom.

Veridiana então voltou a pegar o carro e seguir sem destino circulando pela cidade. O que inicialmente seria apenas um passeio pela orla atlântica, acabou tornando outro caminho, de forma instintiva. Trocou a vista das casas de veraneio, dos condomínios de alto padrão em Piatã, pelas casas de alvenaria, uma em cima da outra, do Bairro da Paz.

Pegou o retorno do viaduto que chegava na Paralela e seguiu como se estivesse indo para o centro da cidade, mas subiu uma ladeira alta que levava até o bairro de Canabrava; e a partir daí ela parecia seguir por um caminho do passado.

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