Toninho

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Este capítulo tem bastante coisa, incluindo gente coçando a testa.

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Era um dia comum na fazenda Cascalho – a mesa posta, família presente, com alguns agregados...

- Eu passei no concurso e vou morar aqui, eu não vou pra Alagoinhas coisa nenhuma. Nem pago aluguel.

- Você devia pagar um aluguel, principalmente porque agora é funcionária pública e vai receber bem melhor do que eu, se bobear.

- Você está cobrando aumento do salário, Sandro? - Santiago, de braços cruzados, os olhos navegando entre Isadora e o veterinário, parecia interromper rapidamente a discussão que tanto ele quanto Elisa e Toninho, sentados na cadeirinha de bebê, eram testemunhas.

O tom sério do fazendeiro chamou a atenção de Sandro.

-Eu não estou dizendo isso, seu Santiago, pelo contrário, eu só estou afirmando que...

- Ele disse sim! – Dora retrucou com um meio sorriso, que parecia irônico, mas havia um humor interno por ali. - Ele falou que recebe menos que eu. Reconsidere, Santiago, esse tipo de comportamento dos seus funcionários.

-Isadora, a conversa não chegou na salinha dos professores.

- Funcionária pública, corrija. Passei no concurso e sou funcionária pública. Há uma grande diferença em relação a ser uma mera professora. Tenho estabilidade de carreira pra toda a minha vida.

-Eu também tenho estabilidade de carreira. Trabalho aqui há anos, e não tenho o menor interesse em mudar minhas funções aqui na fazenda Cascalho.

- Cascaio, mamãi!

- Isso mesmo, Toninho, Cascalho, o nome da casa onde você mora!

O menino riu, animado, e a revelação de mais uma palavra dita por Toninho acabou com a discussão que nem mesmo o próprio Santiago considerava muito séria.

Tanto ele quanto a esposa entendiam o que aquelas trocas de farpas entre Isadora e Sandro significavam: algo muito mais profundo que ambos queriam admitir.

No entanto, a diversão em família fora interrompida pela sensação de que a pizza, encomendada de um restaurante em Terra Amarela que comprava os queijos da Vale das Ouriçangas, não estava tão boa assim para Elisa.

- O gosto do queijo... Eu tenho certeza que está bom, mas eu não sei se...

- Lia, é queijo nosso, não é ruim.

- Eu sei, Santiago, é que esse queijo... Então uma coisa muito estranha... desculpa gente...

Elisa pediu licença a todos e foi até o banheiro, sentindo a barriga mexer, revolver, dar um nó, e uma vontade súbita de vomitar a atingiu.

Deixou o conteúdo do almoço na privada, e tentou respirar profundamente, tensa com aquela sensação de desconforto. Mas não era exatamente um desconforto estomacal... Ela conhecia aquela história, já havia vivido anteriormente, há quase dois anos, e sabia exatamente o que era e o resultado, mais precisamente o menino que corria atrás da madrinha na sala de estar.

A jovem arregalou os olhos. "Meu Deus... Eu tô grávida de novo?"

Mas antes de ir ao médico, ela queria tirar essas dúvidas. Primeiro lugar, buscou as anotações pessoais para se recordar se tinha algum atraso. A menstruação de Elisa geralmente era irregular, e ela precisava adivinhar e calcular os momentos em que ela chegava. Foi quando percebeu que há dois meses, em tese o período que a menstruação chegaria não havia chegado. Trabalho, Toninho, a vida conjugal se misturavam, e logo ela percebeu que talvez estivesse grávida de novo.

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